SEGUNDO CAPÍTULO

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O fogo das tochas trepida de forma uniforme e continua, o vento da noite está fresco e veloz. A fazenda sempre fica extremamente escura quando o sol perdesse no horizonte, mesmo com muitas tochas bem localizadas, meus olhos observam com atenção a dança das chamas enquanto sinto o peito sufocar e arde. A nossa chegada na fazenda fora rápida e logo que pisamos na sacada do casarão solicitei uma conversa com papai, lhe contei todos os detalhes necessários para uma busca aos dois invasores, Lúcia também contou como eles se aproximaram e ambas escondemos como estava as minhas vestes naquele momento. Mamãe ficou preocupada e em pouco tempo alguns capatazes já estava realizando uma ronda de segurança.

Ranjo dos dentes mais uma vez, minhas mãos seguram o ferro da cama numa tentativa de equilíbrio. Pouco tempo depois de toda a conversação sobre os dois homens, mamãe informou que teríamos visitantes para o jantar e essa notícia não poderia ser pior, pois ela sempre obriga aperta com mais força o espartilho, pensando que tal ação esconde todo o meu volume. A peça indesejável apenas distribui os volumes de maneira mais uniforme e não escondendo, lhe deixando triste e ainda mais raivosa. Fecho meus olhos quando Lúcia termina o último botão da veste e aos poucos começo a acostumar com a queimação nos pulmões, passar toda a noite assim será um verdadeiro calvário.

— Preciso respirar por toda essa noite, Lúcia — afirmo clamando por sua solidariedade, o quarto mergulha num pequeno silêncio sendo apenas cortada pelas palmeiras imperiais circulando esse lado da propriedade, — mamãe ainda mata-me em algumas dessas visitas. — Lúcia muda sua posição e sentasse na cama, olhando para mim com seus olhos brilhantes, ela é a única a compreender meu incômodo. Sorriu melancólica para ela, as lembranças da tarde ainda perfeitas em minha mente, o temor circulando em meus ossos e músculos e a possibilidade da morte eminente.

— Pela correria da cozinha, não fora uma visita planejada. — Lúcia afirma, suspiro para melhorar na queimação e sento ao lado dela. Estávamos em meu quarto há algumas horas para arrumar-me, é um dos poucos momentos sozinhos que tivemos depois do incidente. Mesmo Lúcia sendo a minha única amiga e morando na fazenda, ela não nos acompanha na mesa, mamãe nunca admitiria ter Lúcia na mesa junto com ela, já era duro ter-me nas refeições a vista, — seria um jantar normal, mas seu pai recebeu um bilhete enquanto estávamos fora e a correia começou. Pelo pouco que ouvir, é cafeicultores da região.

— Conheço todos os cafeicultores da região, — afirmo, acabo mordendo o lábio desconfiada, — mamãe não mandaria arrumar-me com tanto esmero para receber o padre e alguns senhores conhecidos.

— Eles podem ter trazido algum filho solteiro. — Lúcia tenta, reviro meus olhos e ergo-me mais uma vez. O peito estava começando a ficar acostumado com o espartilho apertado, nessa noite senhora Isabel mandou usar o modelo azul para minha surpresa, pois a peça não esconde muito do volumoso busto, não deixa-me vulgar, mas desenha os seios.

— Nenhum rapaz dessa região tem olhos para mim, — falo, essa sempre fora a facilidade em morar no interior, ver todos os moradores na missa aos domingos e conhecer todos os parentes das famílias vizinhas, — e sempre agradeço tal fato nas minhas orações! As cozinheiras devem ter se engano sobre essa informação. É melhor descer antes de a senhora Isabel brigar comigo, mas antes de ir peço apenas uma coisa Lúcia: peça a Zulmira que reserve um prato de comida para mim, a poção dessa noite será digna de um pássaro pequeno e não para uma moça. — Lúcia acaba levando a mão para a boca, escondendo o risinho. Com esse som afasto-me dela e da cama, a noite seria longa.

O som dos meus sapatos no assoalho de madeira invade meus ouvidos com delicadeza, o corredor está por completo tranquilo, apenas as chamas das velas balançavam seguindo os comandos do vento penetrando nas janelas abertas, levantando também as grossas e longas cortinas. É uma noite com luar e apenas aumenta o poder de visibilidade nos cômodo mais escuro, essas sempre foram minhas noites favoritas, quando se pode andar pelo corredor seguindo apenas a luz penetrando nos vidros das janelas ao longo de toda a casa. Escuto atrás de mim a porta do meu quarto se fechar, paro e observo Lúcia sair do espaço, sorrateira e segue na direção das escadas dos funcionários. Todos da fazenda sempre olharam para ela como uma empregada, apenas uma dama de companhia da senhorita Chica, contudo nunca fora essa a minha visão sobre ela, Lúcia sempre será uma irmã e companheira.

Amor entre ConveniênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora