SÉTIMO CAPÍTULO

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Os pequenos solavancos da carruagem balançam meu corpo de um lado para outro, fazendo meu ombro encoste de forma abrupta no corpo de Lúcia. A viagem para São Paulo estava mais planejada que imaginaria e não demorou muito para estamos com nossas bagagens prontas e a casa na cidade preparada para nossa chegada, mesmo papai tendo residência física no interior mantém essa residência na capital — é mais fácil para os negócios — e agora serve para nossa pequena estadia. Mamãe passou os últimos dias organizando toda a fazenda junto a Zulmira enquanto organizava algumas empregadas para nos acompanhar na pequena viagem, o mais interessante de todo esse planejamento fora sua energia em organizar tudo, até mesmo sorria para mim e falou mais diretamente com Lúcia.

Viro meu rosto na direção de Lúcia quando toco em seu corpo mais uma vez, vendo seu rosto muito contemplativo, assim como o meu. Nossa viagem tinha sido de muitas paradas, sendo o trajeto de locomotiva o mais tranquilo para observar toda a vegetação da região, devido à presença dos meus pais não conseguimos conversar como o desejado. Agora estamos os quatro num mesmo coche, mudos como estatuas sôfregos com o calor escaldante da capital. Sorriu para Lúcia e ela faz o mesmo, levo minha mão até a sua e aperto de forma delicada, como se precisasse tocar em alguém para acreditar na nossa presença nesse momento. O vento nesses lados é mais sereno devido os muitos prédios construídos nas vias que seguimos. Até esse momento meus olhos não tinham visto nenhuma área residencial respeitáveis. Durante todos esses anos nunca tinha saído dos cercados da fazenda, mas os jornais sempre deixaram informada sobre todas as problemáticas de morada na área urbana da capital e vê-lo agora era surreal.

A circulação de pessoas entre as carruagens é frenética para todos os lados e os sons misturados, os cascos de cavalos tocando no chão penetram nos ouvidos como uma música constante, junto ao som das vozes  e trilhos dos bondes. É o tipo de movimento que posso adaptar sem problemas, se mamãe dá-se a oportunidade mútua poderia daqui a alguns anos liberdade para morar na capital sem sua presença, ter uma vida respeitável nesses lados, tendo a possibilidade de ir ao teatro e ópera em algumas noites e também participar de algum sarau enfadonho. Assim, manteria a distância de mim que tanto desejou, seria feliz com essa possibilidade de morar com alguma liberdade. Talvez papai seja o único a ter objeções, nunca deixaria uma filha sua morar sozinha podendo ser vítima de alguma coisa, pior, podendo ser corrompida pelo mundo e além do mais, não seria nada bem visto.

— É muito bonita. — afirmo, na direção de todos, a única que esboça alguma resposta é Lúcia sorrindo para mim. Ela ao meu lado sempre é energética e engraçada, mas na frente dos meus pais acaba assumindo uma postura mais fechada e distante, depois de alguns anos passei a compreender sua postura perante eles, — é movimentada em todos os sentidos, será uma boa temporada de inverno. Iremos ao teatro e ópera enquanto estivermos residindo na capital? Será uma grande oportunidade para apreciar esses espetáculos e nunca tivemos a oportunidade, e quando falo nós, falo de mim e de Lúcia. — minha fala é pausada e cuidadosa, pelo menos nas primeiras semanas preciso pisar em ovos o tempo todo com eles, assumir com muito rigor o recato esperado.

— Teremos tempo para tudo Francisca, não fique preocupada. — mamãe afirma seca, assinto e viro meu olhar na direção de papai, esse se mantém da mesma maneira, completamente impenetrável. Suspiro e volto a olhar para a janela da carruagem, a pequena cortina protege nossa intimidade e dificulta as minhas observações, mesmo assim aperto os olhos para olhar com calma cada rua e vala ao qual passamos. O coche segue outra área, saindo da região dos prédios comerciais e seguindo uma região mais residencial. As ruas continuar estreitas, mas os prédios dão lugar a grandes palacetes de diferentes arquiteturas, algumas residências com jardim ornando a região externa das casas e outras mais nuas. Aperto mais uma vez a mão de Lúcia, não sabendo se também tenta observar o que tem depois das cortinas.

Amor entre ConveniênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora