Uma semana depois, a cidade apresenta-se tranquila em todos os aspectos necessários, é uma visão completamente diferente da movimentação do primeiro dia. Deste a nossa chegada ao casarão não sai, primeiro porque não conheço a cidade suficiente para aventurar caminhar em suas esquinas, segundo por também não conhecer ninguém suficiente para acompanhar em uma pequena caminhada muito além do quarteirão. Aos poucos a casa apresentando-se ao nosso gosto e decoração, o quarto organizado a minha maneira, até a escrivaninha já tem os meus papéis da próxima tradução. Mesmos assim, ainda não compreendo por completo o objetivo dessa viagem repentina para a capital, nem papai ou mamãe deu qualquer explicação. Na verdade, papai passa mais tempo realizando visitas a alguns amigos cafeicultores e comerciantes — aparentemente ele é um dos poucos que ainda mantém residência nas fazendas.Giro meu corpo e encaro o quarto, é um cômodo menor comparado ao dá fazenda, mesmo assim posso dançar sem bater na cama e muito menos na pequena penteadeira, feitos ambos com um mesmo tipo de madeira escura. Assim com a casa, os móveis são mais delicados e sofisticados em sua arquitetura e detalhes, as cortinas estampadas de florzinhas em cores mais claras também ornam bem todo o ambiente, vejo meus objetos no espaço, vejo meus textos na escrivaninha e sorriu. Minha reclusão na fazenda nunca incomodou-me, a rotina disciplinar com todas as aulas montadas por mamãe e preceptora fora a única realidade conhecida, o mundo fora das cercas era apresentado apenas em páginas de livros e dos jornais. Agora, em São Paulo, posso realmente ver o quanto o mundo é grande e a pespectiva das minhas pesquisas recentes em encontrar um redator e publicar minhas traduções enche-me de frenesi.
Suspiro e aproximo-me da escrivaninha, a luz do sol toca o móvel de forma singela e tímida graças a sua posição, deixando as minhas letras no papel claras e muito visíveis. É uma boa posição para escrever, sobretudo porque a pequena brisa vinda da janela toca minhas pernas quando estou escrevendo, tornando todo o trabalho agradável. Levo meus dedos até o volume de Madame Bovary, seguindo com as pontas dos dedos pela pequena elevação das letras, todo o planejamento da viagem deixou-me completamente distante do trabalho de tradução e apenas agora, uma semana depois da nossa chegada posso retoma as minhas tarefas diárias.
— Com licença. — escuto alguém chamar, viro meu rosto na direção da porta e vejo o rosto da empregada aparecer numa pequena fresca da porta, balanço a cabeça dando autorização para sua entrada.
— Bom dia. — saúdo a moça, a jovem de rosto simples olha para mim de forma indireta, a meu ver ela possuía a mesma idade que a minha, — houve algo? — questiono diante do seu silêncio contínuo.
— Está tudo bem, apenas vim lhe entregar uma carta endereçada à moça. — afirma, a jovem dá um passo à frente e ergue o envelope, olho para ela e em seguida para o papel estendido a minha frente de maneira desconfiada, a única pessoa que pode enviar uma carta é Aurélio, até mesmo as poucas moças que moravam no Vale não falam comigo para uma recepção calorosa a minha chegada. Sorriu pensando na sua surpresa a nossa chegada.
— Mamãe sabe da chegada da carta? — questiono de pronto, ergo a minha mão e pego o envelope de cor amarela, olho para a empregada sentindo meus dedos esquentar ao tocar o papel.
— A correspondência chegou pelas mãos de um menino de recados, d. Isabel não sabe. — afirma hesitante, ela cruza as mãos em frente ao avental branco e dá um sorrindo de lado para mim, — ela inclusive está fazenda leitura no pequeno jardim da casa, nem ao menos viu o menino chegar. — aquiesço e baixo meus olhos para o envelope.
Amélia Andrade
— Obrigada. — agradeço voltando a olhar para ela, não sentindo muita confiança em suas palavras, — por favor, peça para trazer algum refresco, estou com a garganta seca. — a jovem assenti e se afasta no mesmo segundos, saindo de forma sorrateira da mesma maneira que entrou. Mordo o lábio em expectativa, volto a escrivaninha e deixo a carta pousada sobre o livro, sendo tocada de maneira plácida pela luz do sol, a espessura do envelope não auxilia numa leitura externa, ainda hesitante pego a carta mais uma vez e analiso a letra preta redonda e curvilínea, escrita sem respingos de tinta e pressa.
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Amor entre Conveniência
Ficción históricaBrasil, 1892. Francisca Lopes de Castro, filha de um grande produtor de café paulista, acredita fielmente que morrerá solteira. Tendo em vista que, todas as moças da região são casadas, a reclusão na fazenda também reafirma seu argumento, no entanto...