VIGÉSIMO QUINTO CAPÍTULO

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Um mês depois

Sigo olhando o café já morno, completamente intocado desde o momento servido. Compreendo a tentativa da governanta alimentar todos os presentes da casa, mas ninguém consegue comer estando aflito com a chegada de uma criança. Um menino de recados bateu na porta antes mesmo do crepúsculo tocar no céu, acordando todos da casa de maneira afobada, deste então estou inquieta e sem foco. Após a saída de Aurélio, enviei um bilhete para informar Catarina, uma hora depois ela estava sentada do sofá junto a Nora. Permaneço encarando a pequena mesa posta, praticamente intocada. 

— O café já deve ter esfriado. — Lúcia observa, ela sussurra percebendo o quanto estou distante desta mesa, dessa casa. — coma alguma coisa, tem até biscoitos de goiaba e não tocou neles. — fecho os olhos por alguns segundos, aproveitando um pouco de escuridão. Lúcia não faz nenhum outro comentário, aguardando em silêncio.

— Quem consegue pensar em biscoitos de goiaba nessa situação? — questiono retórica em sua direção, bufo e encosto todo o corpo na cadeira, cansada da espera. Faz algumas horas da saída de Aurélio e nenhuma notícia chegou, é torturante está mergulhada nesse limbo de incertezas, cega pelos eventos acontecendo do outro lado da cidade, — pode está acontecendo tantas coisas no apartamento de Carolina, boas e ruins. Quando Aurélio saiu, tentei acompanhá-lo e não consegui, colocou apenas um sobretudo em cima da roupa de dormi e saiu correndo sem nem ao menos escutar uma palavra. — abro os olhos e encontro seu rosto.

— E você ajudaria em alguma coisa, estando longe está quase roendo as unhas. — encaro Lúcia ofendida, no mesmo segundo afasto a xícara do café frio parando de olhá-la, — desculpe, mas não poderia ajudar Chica, nunca esteve num parto e essas coisas demoram, na maioria dos casos. — Lúcia faz uma pausa e inclina o corpo em minha direção, pegando minha mão. Olho para sua mão sobre a minha, em seguida ergo o olhar para seu rosto, suave e acolhedor. — quando Aurélio tiver alguma notícia útil ou o próprio nascimento, seremos as primeiras a saber, daqui a algum tempo estaremos fazendo uma pequena fila para conhecer o bebê. Catarina e Nora também estão ansiosas, apenas não demonstram muito. — sorriu pequeno, a calma de Lúcia sempre é uma boa companhia.

Ainda segurando sua mão, viro meu rosto suficiente para observar Catarina e Nora na sala, ambas conversam concentradas e alheias das pessoas na sala de jantar. Catarina mostrou-se mais controlada desde o momento que chegou, enquanto Nora mexe todo o corpo. A mãe de Aurélio tentou disfarçar, mas percebi pelo seu abraço longo e desconfortável o quanto está incomodada com essa situação. Ela não disse nenhuma palavra, mas seu rosto menos sorridente foram suficientes para mostrar o quanto os planos foram  atropelados, toda a família imaginou ser eu a está nessa posição e não uma antiga namorada dele. A família de Aurélio pode até ser mais liberais que a minha família, mas até eles carregam dogmas.

— Tenho medo, Lúcia. — sussurro, ainda sem olhar para ela, seus dedos apertam minha mão em resposta. Volto a olhar para ela, insegura sobre as minhas próprias palavras, insegura sobre o futuro, — venho pensamento sobre filho e partos nas últimas semanas, pensamento em Carolina e o bebê, em mim mesma. Lúcia, tenho medo que algo ruim aconteça, mamãe teve tantos abortos e meu parto fora difícil, não é uma base universal, contudo tantas outras mulheres têm dificuldades no parto. Na minha visita naquela tarde, aparentava saúde, vigor e assim mesmo estou assustada. — Lúcia olha rapidamente para a sala, como se estivesse temendo sermos escutadas com tanta distância.

— Seu medo é por ela ou por você? — Lúcia questiona direta, suspiro de forma cansada, inclino o corpo na direção da mesa e aperta meus dedos no seu.

— Partos sempre causou esse desconforto, mas agora parece mais real. Quer dizer, a alguns meses atrás nem pensava em filhos e ser mãe, para mim meu futuro era claro e certo, agora é um passo de cada vez. — faço uma pausa, suficiente para organizar meus pensamentos, — como posso criar uma criança, dar amor e atenção? 

Amor entre ConveniênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora