Um mês depoisSigo olhando o café já morno, completamente intocado desde o momento servido. Compreendo a tentativa da governanta alimentar todos os presentes da casa, mas ninguém consegue comer estando aflito com a chegada de uma criança. Um menino de recados bateu na porta antes mesmo do crepúsculo tocar no céu, acordando todos da casa de maneira afobada, deste então estou inquieta e sem foco. Após a saída de Aurélio, enviei um bilhete para informar Catarina, uma hora depois ela estava sentada do sofá junto a Nora. Permaneço encarando a pequena mesa posta, praticamente intocada.
— O café já deve ter esfriado. — Lúcia observa, ela sussurra percebendo o quanto estou distante desta mesa, dessa casa. — coma alguma coisa, tem até biscoitos de goiaba e não tocou neles. — fecho os olhos por alguns segundos, aproveitando um pouco de escuridão. Lúcia não faz nenhum outro comentário, aguardando em silêncio.
— Quem consegue pensar em biscoitos de goiaba nessa situação? — questiono retórica em sua direção, bufo e encosto todo o corpo na cadeira, cansada da espera. Faz algumas horas da saída de Aurélio e nenhuma notícia chegou, é torturante está mergulhada nesse limbo de incertezas, cega pelos eventos acontecendo do outro lado da cidade, — pode está acontecendo tantas coisas no apartamento de Carolina, boas e ruins. Quando Aurélio saiu, tentei acompanhá-lo e não consegui, colocou apenas um sobretudo em cima da roupa de dormi e saiu correndo sem nem ao menos escutar uma palavra. — abro os olhos e encontro seu rosto.
— E você ajudaria em alguma coisa, estando longe está quase roendo as unhas. — encaro Lúcia ofendida, no mesmo segundo afasto a xícara do café frio parando de olhá-la, — desculpe, mas não poderia ajudar Chica, nunca esteve num parto e essas coisas demoram, na maioria dos casos. — Lúcia faz uma pausa e inclina o corpo em minha direção, pegando minha mão. Olho para sua mão sobre a minha, em seguida ergo o olhar para seu rosto, suave e acolhedor. — quando Aurélio tiver alguma notícia útil ou o próprio nascimento, seremos as primeiras a saber, daqui a algum tempo estaremos fazendo uma pequena fila para conhecer o bebê. Catarina e Nora também estão ansiosas, apenas não demonstram muito. — sorriu pequeno, a calma de Lúcia sempre é uma boa companhia.
Ainda segurando sua mão, viro meu rosto suficiente para observar Catarina e Nora na sala, ambas conversam concentradas e alheias das pessoas na sala de jantar. Catarina mostrou-se mais controlada desde o momento que chegou, enquanto Nora mexe todo o corpo. A mãe de Aurélio tentou disfarçar, mas percebi pelo seu abraço longo e desconfortável o quanto está incomodada com essa situação. Ela não disse nenhuma palavra, mas seu rosto menos sorridente foram suficientes para mostrar o quanto os planos foram atropelados, toda a família imaginou ser eu a está nessa posição e não uma antiga namorada dele. A família de Aurélio pode até ser mais liberais que a minha família, mas até eles carregam dogmas.
— Tenho medo, Lúcia. — sussurro, ainda sem olhar para ela, seus dedos apertam minha mão em resposta. Volto a olhar para ela, insegura sobre as minhas próprias palavras, insegura sobre o futuro, — venho pensamento sobre filho e partos nas últimas semanas, pensamento em Carolina e o bebê, em mim mesma. Lúcia, tenho medo que algo ruim aconteça, mamãe teve tantos abortos e meu parto fora difícil, não é uma base universal, contudo tantas outras mulheres têm dificuldades no parto. Na minha visita naquela tarde, aparentava saúde, vigor e assim mesmo estou assustada. — Lúcia olha rapidamente para a sala, como se estivesse temendo sermos escutadas com tanta distância.
— Seu medo é por ela ou por você? — Lúcia questiona direta, suspiro de forma cansada, inclino o corpo na direção da mesa e aperta meus dedos no seu.
— Partos sempre causou esse desconforto, mas agora parece mais real. Quer dizer, a alguns meses atrás nem pensava em filhos e ser mãe, para mim meu futuro era claro e certo, agora é um passo de cada vez. — faço uma pausa, suficiente para organizar meus pensamentos, — como posso criar uma criança, dar amor e atenção?
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Amor entre Conveniência
Fiction HistoriqueBrasil, 1892. Francisca Lopes de Castro, filha de um grande produtor de café paulista, acredita fielmente que morrerá solteira. Tendo em vista que, todas as moças da região são casadas, a reclusão na fazenda também reafirma seu argumento, no entanto...