DÉCIMO OITAVO CAPÍTULO

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Continuo encarando a escuridão da rua, mesmo com as lamparinas espalhadas pelas calçadas. Minhas mãos continuam pousadas no batente da janela, corpo escondido para o mundo exterior pelas grossas cortinas, sorriu ao perceber ser a última vez a ver essa vista da janela. Há muitas semanas, imaginava uma imagem triste pela perspectiva do casamento na próxima manhã. No entanto, não sinto-me assim, após minha conversa com Aurélio mostrou-se um excelente noivo, assim como transformou em ação todas as suas palavras para com Carolina e o bebê.

Suspiro e giro, encarando o quarto mergulhado numa pequena penumbra. Todos os meus pertences guardados em baús, a maioria já estando guardado em minha nova casa a alguns quilômetros desta região, outros objetos tinha vindo da fazenda para a nova moradia. O que ainda acompanha-me nesta noite é apenas pequenas coisas, alguns vestidos para passar o dia, meus cadernos de anotações e o livro da cabeceira. Dou um passo em direção a cama, tocando as ondulações do móvel, mesmo amanhã estando casando com um amigo, ao qual fora bastante atencioso nesses poucos meses de noivado, não posso negar o nervosismo nisso tudo.

Lúcia tentou dizer palavras carinhosas e tranquilas, mesmo sabendo tão pouco sobre casamentos quanto eu, papai apenas reafirmou ser o noivo escolhido fora bom e faria-me feliz e que seria um bom pai, não conseguir dizer que creio não ser uma boa mãe, talvez nem possa tê-los. Mamãe não falou nada durante todo o jantar, apenas observou-me muito calada, na verdade nosso jantar dessa noite fora igual a todos os outros, silencioso e curto, mesmo com a chegada de tia Glória e sua família. Volto a caminhar pelo cômodo, saindo do espaço iluminado pelas velas.

Mesmo assustada apenas por imaginar todos os ocorridos de amanhã, posso imaginar-me distante da figura de mamãe e suas palavras amargas, na verdade esse é um dos motivos para minha felicidade. Ela tinha organizado todo esse casamento apenas para assistir minha infelicidade no matrimônio, em ver as decisões serem tomadas e eu não poder fazer nada para contornar a situação, porém nada realmente se concretizou. Nos últimos meses Aurélio passou a vim mais para o jantar, conversando longamente comigo e também levou-me para um pequeno passeio no jardim público, mesmo tendo nossas conversas observadas, conseguimos nos conhecer.

— Posso entrar? — tia Glória anunciasse sorrateira, sorriu em sua direção, assentindo para que entre. Ela abre a porta e finalmente entra no ambiente, a observo fechar a porta. Tia Glória e seu marido tinha chegado no dia anterior para o casamento, junto a Carlos e Cecília. — imaginei que ainda estivesse acordada, dizem que é a noite para descansar, mas não é fácil dizer isso aos nervos. — sorriu assentindo enquanto aproximasse de mim, tia Glória é a irmã mais nova e acredito que por causa disso sempre fora mais leve e amável, seu temperamento amoroso sempre ficou evidente para mim no fim de cada mês, quando envia os vários jornais com os textos de Machado de Assis dos periódicos fluminenses.

— Realmente, na verdade meu nervosismo está atrelado mais a pensar como será meus próximos anos junto a Aurélio que na cerimônia em si. — afirmo, minha voz soa tranquila, diferente do meu estado de espírito. Tia Glória ainda contida, aproximasse mais, sentando na cama ainda arrumada, — deve compreender os meus pensamentos.

— Sente-se aqui. — tia Glória afirma, no mesmo segundo obedeço, meus joelhos acabam tocando no seu, mesmo com os vestidos cheios de tecidos, depois ela pega minhas mãos e a segura com força, — também pensei que queria conversar com alguém, mesmo a mesa estando mais cheia o jantar fora muito silencioso. Não estou habituada, imagino também que queira falar com alguém. Observei conversando com Lúcia no jardim, mesmo ela sendo muito nova. Aproveite, é sua oportunidade. — abaixo meu olhar para nossas mãos, parcialmente escondidas pela pouca luz.

— Bem, não tenho muito o que falar. — afirmo timidamente, volto a olhar para ela, seu rosto iluminado pelas velas tonalizou sua face de amarelo, — todos esses planos de casamento fora uma surpresa, contudo Aurélio é uma boa pessoa e sei que seremos bons amigos. Teremos uma vida tranquila e agradável, é uma pena que apenas irá conhecê-lo amanhã na cerimônia. — tia Glória faz um pequeno carinho em minha mão, mesmo sendo a única parente de mamãe que conheço, seus traços são completamente diferentes e até mesmo mais parecida comigo, baixa e com curvas.

Amor entre ConveniênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora