Lúcia avalia com destreza alguns pedaços de tecidos, hoje ela não irá dar nenhuma aula para Nora e está ajudando-me na tarefa de escolher bons tecidos para as cortinas da casa. Mesmo após boas semanas preparando todos os detalhes para o casamento, ainda guardo dentro de mim um pouco de esperança de fugir, dele desistir desse casamento ou conseguir força para enfrentar Isabel. Deste o jantar de noivado não tive nenhum encontro decente com Aurélio, ele apenas enviou dois livros bem embrulhados, um tinteiro e um grande caderno com pequenos desenhos de flores. Nenhum encontro marcou para conversas despretensiosas, nem ao menos sei como ele está lidando com a situação.Meus encontros ficaram resumidos a mãe, entre nós três, Catarina é a mais animada em toda organização. Também não ousei enviar nada para ele, nem uma caixa com lenços, poderia enviar uma carta, contudo não quero quebrar uma distância que ele mesmo pôs entre nós. Tudo ao meu redor resumiu a decoração, enxoval e seguidas entrevistas com empregadas. Os preparativos tomam todo o tempo, sufocando minhas horas e descanso, definitivamente começo a sentir saudade da minha antiga rotina monótona na fazenda, meus horários minimamente programados.
— Francisca? — Lúcia me chama, balanço a cabeça e verdadeiramente olho para ela. Seus olhos arregalados encara-me, aparentemente Lúcia observa minha inércia ao longo tempo, — está tudo bem, não gostou das amostras?
— Não é isso, são os meus pensamentos distantes, — afirmo sem muita confiança, abaixo meu olhar outra vez e fico tocando o pedaço de tecido entre meus dedos, acariciando sua maciez, — essa distância está me corroendo, todos esses dias e nenhuma visita, nenhuma carta. Se não conhecesse as intenções de Aurélio até poderia pensar que desistiu, mas ele não faria isso sabendo da minha felicidade.
— Tem certeza que o beijo não lhe afetou? — Lúcia questiona, mesmo estando sozinhas ela sussurra. Após o jantar de noivado, dormi junto a Lúcia e conversamos longamente sobre a minha conversa com Aurélio, sobretudo sobre o beijo trocado. Meus pensamentos podem está confusos, mas ainda tenho controle sobre as minhas emoções.
— Não, nada além das emoções do primeiro beijo. — afirmo veemente voltando a lhe encarar. Lúcia olha sem acreditar em minhas palavras, como da última vez que tocamos no assunto. — o beijo foi muito agradável e bom, mas não é isso a fonte do incômodo. Essa distância após o noivado, antes tinha segurança de conversar abertamente com Aurélio, de expor minhas opiniões e escutar as deles. No entanto, agora não faço a menor ideia sobre como lidar com ele, o que devo conversar. Lúcia, se nada mudar em poucos meses estaremos casados, morando na mesma casa e no momento que precisávamos conversar o mínimo possível ele simplesmente desaparece. Aquele jantar fora desconfortável para ambos, Catarina não fala muito sobre como está o filho, neste momento não sei nada sobre Aurélio. É um desconhecido. — inquieta, depósito o tecido ao meu lado e ergo-me. Os olhos de Lúcia acompanha meus movimentos, estamos completamente sozinhas no palacete, mamãe e Catarina saíram para verificar os móveis.
— Você já parou para pensar, sobre como ele lida ou está sentindo? — Lúcia questiona, olho para ela um pouco confusa, — deixe explicar melhor, lembro da sua descrição da conversa com senhora Catarina. Para mim, ela se mostra muito preocupada com o filho ao ponto de questionar seus sentimentos, não posso afirmar com certeza pois não conhecemos as palavras exatas de Aurélio para a mãe. Contudo, se ele nutre sentimentos por você deve está magoado pela sua recusa.
— Ora Lúcia, não me faça sentir egoísta. — afirmo ofendida, Lúcia apenas suspira e também afasta os tecidos das mãos, — nesse momento estou pensando em mim e não vou me culpar por isso, muito menos pela distância, e afirmo isso sabendo da minha posição nesse enlace. Também não acredito em sentimentos vindo da parte de Aurélio, não de forma romântica, é um bom casamento para ambas famílias. — faço uma pausa e volto a sentar, — acredito apenas na confusão de Aurélio ser pelos os meus posicionamentos, ele estava esperando a Francisca corajosa, estava esperando minha recusa. Porém, é impossível fazer aquilo com mamãe tão próxima, a covardia foi minha única segurança.
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Amor entre Conveniência
Fiction HistoriqueBrasil, 1892. Francisca Lopes de Castro, filha de um grande produtor de café paulista, acredita fielmente que morrerá solteira. Tendo em vista que, todas as moças da região são casadas, a reclusão na fazenda também reafirma seu argumento, no entanto...