VIGÉSIMO SEGUNDO CAPÍTULO

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Carolina é uma mulher linda. Seu sorriso largo em minha direção deixa-me vertiginosa, assim como sua elegância sentada confortavelmente na cadeira acolchoada de um amarelo borrado. Meus olhos saem da direção do sorriso e pousam na barriga redonda e grande, marcada pelo vestido branco, na verdade toda Carolina está redonda e corada, os pés inchados e altos. Mesmo seus olhos um pouco fundos, não conseguem esconder a graciosidade necessária para uma apresentação num teatro. Sua mão sai da cadeira e massageia a petruperânçia, é notório a vida em torno dela.

Durante os meses de noivado a minha única comunicação com Carolina fora algumas linhas escritas, havendo necessidade de conhecer um pouco da mulher ligada a história de Aurélio. Sua caligrafia clássica e sem respingos de tintas demonstrou a mulher sobre controle de suas emoções e ações, e agora em minha frente apenas demonstra tal controle, enquanto estou com os nervos aflitos. Contudo, continuo sorrindo para disfarçar o nervosismo, não posso esquecer o quanto toda essa situação é embaraçosa. Paro de encará-la e viro meu rosto para Aurélio, em pé ao meu lado segurando o espaldar da cadeira.

Abaixo meu olhar na direção dos sapatos engraxados, percebendo sua tensão e distância com esse encontro, Aurélio não gostou da minha sugestão de visita, mas não negou acompanhar. Ergo meu olhar e o encaro, ele olha para mim, como me questionando de forma silenciosa, ainda não sei ter sido a melhor dar ideias, mesmo percebendo ser a penetra. Carolina foi o amor juvenil e duradouro, foi ela o motivo das rugas entre Álvaro e Aurélio. Olhando para ele agora, não consigo interpretar nenhuma emoção na sua face fechada, não sei se sente paixão ou ressentimento. Aurélio deixou claro o final da relação, uma escolha de ambos, mas ainda é recente. A história pertencente apenas a eles, sou apenas uma peça perdida no tabuleiro, não sendo uma posição confortável e segura de está. 

— É um bonito apartamento. — afirmo sem muita confiança, voltando a encará-la. Sinto-me uma criança ingênua entre eles dois, perdida em um labirinto denso e escuro. Carolina está a vontade em seu ambiente, todo o pequeno apartamento em tons de amarelo contém sua essencial deste a mobília usada até o cheiro de alecrim.

— É excelente e o aluguel não é nada caro. — Carolina afirma simples, meus olhos abaixa outra vez na direção de sua mão alisando a barriga, por alguns segundos também penso em minha própria imagem. Deveria contar para Aurélio que sou estéril, principalmente faltando pouco tempo para o parto dela, todos no futuro próximo aguardará uma grávidez minha, — Aurélio escreveu contando sobre a casa, pareceu muito confortável também. — assinto e encaro seu rosto, seus olhos saem de mim e erguem para o homem ao meu lado, Aurélio apenas muda a posição dos pés, inquieto.

— É uma bela casa. — afirmo, completamente ciente do quanto estou parecendo boba, — espero que tenha gostado das roupas do bebê, eu e Catarina escolhemos com cuidado. — olho para ele também, Aurélio abaixa seu olhar em minha direção e sorri pequeno. Volto a olhar para Carolina, seus olhos completamente atentos a nós dois. Ela sorri, primeiro olhando para a figura distante e gelita de Aurélio e em seguida para mim, perdida entre os dois. Sinto a pele esquentar de vergonha, sentindo seus olhos avaliarem com minúcia, mesmo assim continuou com o olhar erguido, firme em minha posição.

— Vocês fazem um excelente casal. — Carolina afirma após alguns segundos em silêncio, engulo em seco com sua observação enquanto Aurélio mexe-se mais uma vez. Não olho para ele, ciente de seus ruídos impacientes. — e as roupas foram de bom gosto. Estou sendo uma péssima anfitriã, vou pedir para Clara servi um pouco de café para vocês. — Carolina começa a erguer-se, de maneira automática também levanto da cadeira e aproximando dela a passos largos, sem falar nada seguro seu braço para ajudar. 

— Espero não se importar. — falo, minha voz ainda está baixa, receosa em conhecê-la. Carolina é uma mulher completamente diferente de mim, alta e delicada como uma águia, confiante em seus gestos, principalmente, ela conhece o mundo além das fronteiras da província. Carolina é uma mulher formada pelo mundo, nas coxias dos teatros e nos salões da sociedade. Meus olhos atentaram-se a todos os quadros com suas apresentações pela europa, nos teatros fluminenses, as críticas dos jornais e algumas fotografias. Esse pequeno apartamento não é seu ambiente, é o meu. Ela sorri e assente, aceitando minha ajuda, — ficará a vontade? — questiono Aurélio, seus olhos apertam em nossa direção. Posso está a pouco tempo conhecendo ele, mas percebo estar incomodado em nos ver juntas.

Amor entre ConveniênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora