Carolina é uma mulher linda. Seu sorriso largo em minha direção deixa-me vertiginosa, assim como sua elegância sentada confortavelmente na cadeira acolchoada de um amarelo borrado. Meus olhos saem da direção do sorriso e pousam na barriga redonda e grande, marcada pelo vestido branco, na verdade toda Carolina está redonda e corada, os pés inchados e altos. Mesmo seus olhos um pouco fundos, não conseguem esconder a graciosidade necessária para uma apresentação num teatro. Sua mão sai da cadeira e massageia a petruperânçia, é notório a vida em torno dela.Durante os meses de noivado a minha única comunicação com Carolina fora algumas linhas escritas, havendo necessidade de conhecer um pouco da mulher ligada a história de Aurélio. Sua caligrafia clássica e sem respingos de tintas demonstrou a mulher sobre controle de suas emoções e ações, e agora em minha frente apenas demonstra tal controle, enquanto estou com os nervos aflitos. Contudo, continuo sorrindo para disfarçar o nervosismo, não posso esquecer o quanto toda essa situação é embaraçosa. Paro de encará-la e viro meu rosto para Aurélio, em pé ao meu lado segurando o espaldar da cadeira.
Abaixo meu olhar na direção dos sapatos engraxados, percebendo sua tensão e distância com esse encontro, Aurélio não gostou da minha sugestão de visita, mas não negou acompanhar. Ergo meu olhar e o encaro, ele olha para mim, como me questionando de forma silenciosa, ainda não sei ter sido a melhor dar ideias, mesmo percebendo ser a penetra. Carolina foi o amor juvenil e duradouro, foi ela o motivo das rugas entre Álvaro e Aurélio. Olhando para ele agora, não consigo interpretar nenhuma emoção na sua face fechada, não sei se sente paixão ou ressentimento. Aurélio deixou claro o final da relação, uma escolha de ambos, mas ainda é recente. A história pertencente apenas a eles, sou apenas uma peça perdida no tabuleiro, não sendo uma posição confortável e segura de está.
— É um bonito apartamento. — afirmo sem muita confiança, voltando a encará-la. Sinto-me uma criança ingênua entre eles dois, perdida em um labirinto denso e escuro. Carolina está a vontade em seu ambiente, todo o pequeno apartamento em tons de amarelo contém sua essencial deste a mobília usada até o cheiro de alecrim.
— É excelente e o aluguel não é nada caro. — Carolina afirma simples, meus olhos abaixa outra vez na direção de sua mão alisando a barriga, por alguns segundos também penso em minha própria imagem. Deveria contar para Aurélio que sou estéril, principalmente faltando pouco tempo para o parto dela, todos no futuro próximo aguardará uma grávidez minha, — Aurélio escreveu contando sobre a casa, pareceu muito confortável também. — assinto e encaro seu rosto, seus olhos saem de mim e erguem para o homem ao meu lado, Aurélio apenas muda a posição dos pés, inquieto.
— É uma bela casa. — afirmo, completamente ciente do quanto estou parecendo boba, — espero que tenha gostado das roupas do bebê, eu e Catarina escolhemos com cuidado. — olho para ele também, Aurélio abaixa seu olhar em minha direção e sorri pequeno. Volto a olhar para Carolina, seus olhos completamente atentos a nós dois. Ela sorri, primeiro olhando para a figura distante e gelita de Aurélio e em seguida para mim, perdida entre os dois. Sinto a pele esquentar de vergonha, sentindo seus olhos avaliarem com minúcia, mesmo assim continuou com o olhar erguido, firme em minha posição.
— Vocês fazem um excelente casal. — Carolina afirma após alguns segundos em silêncio, engulo em seco com sua observação enquanto Aurélio mexe-se mais uma vez. Não olho para ele, ciente de seus ruídos impacientes. — e as roupas foram de bom gosto. Estou sendo uma péssima anfitriã, vou pedir para Clara servi um pouco de café para vocês. — Carolina começa a erguer-se, de maneira automática também levanto da cadeira e aproximando dela a passos largos, sem falar nada seguro seu braço para ajudar.
— Espero não se importar. — falo, minha voz ainda está baixa, receosa em conhecê-la. Carolina é uma mulher completamente diferente de mim, alta e delicada como uma águia, confiante em seus gestos, principalmente, ela conhece o mundo além das fronteiras da província. Carolina é uma mulher formada pelo mundo, nas coxias dos teatros e nos salões da sociedade. Meus olhos atentaram-se a todos os quadros com suas apresentações pela europa, nos teatros fluminenses, as críticas dos jornais e algumas fotografias. Esse pequeno apartamento não é seu ambiente, é o meu. Ela sorri e assente, aceitando minha ajuda, — ficará a vontade? — questiono Aurélio, seus olhos apertam em nossa direção. Posso está a pouco tempo conhecendo ele, mas percebo estar incomodado em nos ver juntas.
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Amor entre Conveniência
Historical FictionBrasil, 1892. Francisca Lopes de Castro, filha de um grande produtor de café paulista, acredita fielmente que morrerá solteira. Tendo em vista que, todas as moças da região são casadas, a reclusão na fazenda também reafirma seu argumento, no entanto...