2. O TESTAMENTO

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DUAS SEMANAS DEPOIS...

UM HELICÓPTERO sobrevoou o telhado da Darwich Industries.

Ao pousar lá embaixo, o piloto fez sinal positivo para seu passageiro, um rapaz asiático alto e magro, com um rosto agradável e olhos amendoados, vestindo um blazer sobre uma camiseta e jeans, descer.

Chamava-se Jonas.

Ele baixou os óculos e, esfregando a ponta do nariz, olhou ao redor, com a maior atenção. O gramado cuidadosamente aparado se estendia como um mar verde. Imensos blocos de calcário formavam a estrutura da empresa, com uma fonte no centro do jardim, jorrando jatos de água iluminada.

Poucos instantes depois, um duende de mãos e pés compridos, com a cabeça raspada, usando um crachá que dizia OTELO em letras elegantes veio até ele.

— Seja bem-vindo, sr. Kato.

— Por favor.— Jonas disse ao duende, sua voz de tedio— , vim buscar o feitiço de segurança para o banco do meu pai.

— Por aqui.

Ajeitando os óculos, o rapaz acompanhou o duende por uma estradinha que levava aos degraus e um par de portas de ouro polido com símbolos alquímicos. Quando entraram no enorme hall de entrada, Jonas passou os olhos pela vasta área com piso de mogno envernizado por onde circulavam funcionários e clientes carregando embrulhos contendo feitiços. Uns dez fantasmas, ligeiramente transparentes, passaram voando ao lado deles e atravessaram a parede próxima.

O duende desapareceu pela esquerda, o conduzindo para os fundos do lugar até parar ao lado de uma porta de madeira. O duende ergueu uma mão e bateu. Depois de uma pausa, a tranca começou a girar e então, a porta se abriu.

— Entre.— chamou uma voz jovem lá dentro.— Mas cuidado pra não derrubar nada!

O duende deu um passo para o lado e Jonas seguiu em frente e olhou à sua volta. Havia várias quantidades de prateleiras, mesas e bancadas de trabalho, cada uma delas coberta com garrafas, frascos, ferramentas e livros de couro e um caldeirão fervente ali perto. Este estava cheio de uma substância não identificável com bolhas estourando na superfície. À direita, viu molhos de ervas e feixes de raízes flutuando. Cada planta era mais estranha que a outra. À esquerda via-se jarros de líquido contendo animais dentro. Muitos não eram mágicos, eram animais comuns.

— Bom dia.— disse a voz.— Xícara de café?

Se ele esperava algum cientista maluco com um par de óculos grossos que deixavam seus olhos com o dobro do tamanho original e uma expressão desvairada, se enganara. Jonas se via diante de um rapaz da sua idade, vestindo um longo jaleco de algodão branco com um crachá que dizia DANIEL.

— Estou bem, obrigado.— respondeu.— Vim buscar o feitiço de segurança para o banco Kato.

— Ah, sim. Meu mestre teve que sair, mas o deixou aqui...

— Jonas.

— Jonas.— Daniel repetiu e acenou para que se aproximasse da mesa ao lado onde havia um sorridente crânio humano e uma espécie de armação volumosa, um intrincado de metal.

— É seu?— Jonas apanhou o crânio humano.

Daniel riu.

— É pra minha namorada.

Jonas piscou lentamente.

— Ela faz coleção.— Daniel deu de ombros. Regina também criava tarântulas no laboratório da Academia, mas nada daquilo vinha ao caso.— Sabe operar esse feitiço de segurança?

As crônicas Darwich. Chave de CobreOnde histórias criam vida. Descubra agora