23. CHAVE DE COBRE

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— FORJAR MINHA morte estava incluído no meu plano de aposentadoria.

Ante o olhar perplexo do neto, Zacarias aproximou-se do caldeirão borbulhando um liquido prateado. Ele colocou a mão dentro do caldeirão e puxou para fora um objeto.

— A Chave de Cobre!— exclamou Arthur.

A Chave intricada e de cobre poderia passar despercebida em um molho de chaves. Nada nela chamava a atenção, nenhum efeito brilhante ou de alguma forma, encantada magicamente.

— Restaurada. E é minha.— disse Zacarias em frenesi.

— E o que vai fazer agora?— perguntou Daniel, encarando-o com zombaria.— Dominar o mundo?

— Não. Você vai.— Zacarias fez uma pausa, mas o neto não disse nada.— Não pode mudar sua própria natureza, Loki.

Como que para enfatizar as palavras do avô, um computador explodiu, lançando fragmentos de metal e nuvens de fumaça voaram e rolaram em varias direções. Uma fileira de frascos alinhados na prateleira, espatifaram-se, um por um, cacos de vidros retiniram no chão.

O avô falou em seu tom calmo.

— Se controle, Daniel.

Chamas chocaram-se contra Zacarias, como um riacho.

As bordas da visão de Daniel começaram a escurecer. Seu corpo tremia, dominado pelo poder que se dilatava em seu interior. Então tudo pareceu desaparecer, as vozes ao redor diminuindo até se transformarem em silêncio. Tudo que ele conseguia fazer era continuar respirando enquanto dias de frustração e raiva extravasavam dos seus dedos em forma de chamas, fluindo como um rio.

Seu lado sombrio estava emocionado por poder finalmente captar e dirigir um poder selvagem à sua ordem, livremente... E então, seu outro lado assumiu a liderança e uma necessidade urgente de vencer o avô naquele jogo distorcido despontou.

Devagar, ele respirou fundo e foi como se o ar voltasse ao seu corpo. Daniel levantou a cabeça, sentia o rosto suado, olhou em volta. O laboratório se tornara um pandemônio. Fumaça, fogo e confusão preenchiam o recinto. A mesa com o caldeirão pegava fogo e outros moveis haviam sido destruídos. Parte da parede tinha sido devorada, chamas queimavam o piso, corriam pelo teto, carbonizando as vigas, mastigando os tijolos. Pessoas berravam, gritavam, alguns em chamas. Outros feiticeiros tentavam absorver ou apagar o fogo. Regina reunia cargas de relâmpagos e lançou-as contra os feiticeiros que tentavam atacar Arthur. O amigo estava utilizando relâmpago, a fim de abrir as gaiolas e liberar os familiares.

Seu avô ainda estava no mesmo lugar, chamas percorriam sobre sua pele, carbonizando suas roupas, embora Zacarias parecesse mal notar, ileso, suas feridas auto-cicatrizando.

Daniel, entretanto, conseguiu se sentar e se levantar. O rapaz se lembrava um pouco da magia de natureza que aprendeu com Marcus. Já o tinha visto utiliza-la uma vez, extraindo poderes da ligação da terra. Ele se agachou, com a palma pressionada no chão, e sentiu a energia vinda do solo. Como se ele fosse um condutor, direcionou a energia para o avô.

Uma raiz rasgou o chão aos pés de Zacarias e roubou A Chave de Cobre que ele segurava, o objeto ainda intacto. Depois começou a envolver e amarrar o avô. De onde estava, Daniel pronunciou um feitiço e fez com que a Chave de Cobre voasse para sua mão.

O fogo continuava se espalhando inexoravelmente, devorando as paredes, os tijolos começaram a se soltar e cair. Daniel sabia que não tinha mais como absorver tudo aquilo, mas ao menos, estava concentrado novamente sem expelir fogo como um lança-chamas.

Regina e Arthur começaram a correr em direção a ele.

— Cadê a Júlia?— Arthur segurava Enyo no colo. — Temos que sair daqui!

As crônicas Darwich. Chave de CobreOnde histórias criam vida. Descubra agora