3. A ACADEMIA

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ELA NÃO sonhou. Ou se sonhou, seu cérebro fez o favor de apagar tudo, como fazia com frequência.

— lsa! Acorde! Levante-se!

Ela abriu os olhos, assustada. A mãe batia a porta. Resultado: virou para o lado com tanta força que caiu da cama embolada na coberta.

— Você já se levantou?— perguntou a mãe do outro lado da porta.

— Já.— respondeu embriagado pelo sono e depois de conseguir erguer-se consideravelmente.

— Bem, ande depressa, se não vai se atrasar. Você se esqueceu de colocar o despertador do seu celular para tocar?

Foi bem aquilo mesmo e justo no primeiro dia de aula.

Ouviu a mãe caminhar, afastando-se da porta de seu quarto e ela saiu correndo desvairada para o banheiro. Cobriu as cerdas de pasta e começou a escovar os dentes, olhando pelo espelho seus cabelos custos e tingidos de rosa, desgrenhados, pensando que se ela se apressasse um pouquinho, talvez ainda conseguisse pegar o pai a mesa.

Continuou escovando os dentes e foi na direção do closet, mexeu nas roupas penduradas e encontrou a saia xadrez avermelhada e o blazer preto do uniforme onde no bolso havia o desenho de um dragão em espiral e as letras acompanhavam o formato do dragão onde se podia ler: "Academia Vórtice". Ela ficou imaginando como podiam permitir uniformes daqueles com o calor que o Brasil fazia. Mas tinha deixado tudo organizado no dia anterior, o que era bom, porque deixaria a coisa toda mais rápida.

Ela tomou o banho com uma velocidade que nem sabia que fosse capaz. Se enxugou bem mais ou menos e foi enfiando o uniforme. Pegou o secador para tentar salvar a bagunça úmida que estavam seus cabelos, correndo para descer e tomar o café da manhã.

Desceu as escadas em uma velocidade tão incrível que se surpreendeu por não ter tropeçado e se estabacado no chão. Sua mãe, uma humana, e sua irmã menor estavam na cozinha, tomando o café e ela supôs que seu pai já havia saído para o trabalho.

Aquilo era decepcionante! Seu pai era viciado em trabalho e ela e a irmã raramente o via.

— Papai já foi trabalhar, não é?— ela perguntou para a mãe, aceitando a xicara de café com leite que a empregada da casa passou para ela.

— Sim.— respondeu a mãe, Lúcia, passando manteiga no pão. Ela tinha quase cinquenta anos, aparentava ser uns dez anos mais jovem.— Advinha quem veio buscar você para irem juntos a Academia?

Sua irmã Gabriela, a versão criança da sua mãe, morena e de cabelos escorridos, não deixou o mistério se prolongar por nenhum segundo:

— Jonas!

Ela não respondeu e, irritada, ocupou a boca com café com leite e, de repente, começou a comer daquela sua maneira, como uma morta de fome desesperada. Sua irmã achava graça. Sua mãe não. Onde ela enfiava toda aquela comida? A filha primogênita era magra e reta como uma modelo.

— A comida não vai fugir, Isadora!— repreendeu a mãe.— Não disseram que a Academia vai oferecer café da manhã? Vai deixar seu namorado esperando por muito mais tempo?

— Nada deve se colocar entre uma garota e seu café da manhã.— ela disse, engolindo o ultimo pedaço de pão e se levantando da mesa.

Jonas estava sentado no sofá com aquela expressão de entediado no rosto. O uniforme dele variava apenas na saia, já que o uniforme masculino da Academia era composto por uma calça vincada cinza e o mesmo blazer e camisa do uniforme feminino.

Isadora ignorando-o, saindo em direção a porta da casa. Ele, ao perceber que Isadora estava fugindo dele, negou com a cabeça e suspirou.

— Pra onde você está indo, Isa?— ele perguntou, naquele seu tom de voz monótono, sem altos e baixos.

As crônicas Darwich. Chave de CobreOnde histórias criam vida. Descubra agora