16. A FBF NÃO É O ÚNICO PERIGO

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A COISA não se assemelhava a nada no mundo, nem de longe: era uma massa de matéria com mil braços sobre bocas abertas com várias camadas de lâminas perfuradas se aproximando, cada vez mais. Por alguns segundos, a mente de Daniel ficou paralisada pelo terror. Parecia que nada havia a fazer exceto esperar ser mastigado como um petisco.

Arthur gritou para eles viraram à esquerda e a coisa deixou de pegá-los por uma questão de centímetros. A criatura os atacou novamente, dessa vez por baixo. Foi então que um dos braços da coisa os atingiu. A sensação era como se tivessem sido levados por uma onda gigante de choque. Eles foram jogados para fora das vassouras, caindo até o chão longínquo, gritando, agoniados enquanto Arthur pronunciava um feitiço. A queda deles perdeu velocidade e desceram suavemente até o chão.

Daniel observou ao redor e apenas avistou mato. Mato em uma área aberta. A luz do luar era a única aliada deles e o ruído de carro e caminhões, ocasionais, ao longe, chegou até eles. Deveriam estar perto de alguma rodovia.

— Está todo mundo bem?— Arthur perguntou, erguendo-se.

— Estou.— respondeu Júlia, completamente pálida.

— Ainda não estamos a salvo.— Regina se levantou assustada, e os outros seguiram seu olhar.

A criatura já avançava pela terra com as bocas abertas e os braços em direção a eles; e estava bem perto. Todos começaram a correr como loucos.

— Se alguém tem alguma ideia brilhante, agora é a hora de pôr pra fora.— disse Júlia apavorada.— Qualquer coisa!

Correndo, a mochila de Daniel agora parecia pesar toneladas em suas costas. Em luta contra o pavor, ele tentou pensar. Ele estava exausto pelo que fizera na Praça da Sé, mas talvez ele pudesse... Seu pensamento foi interrompido quando viu Arthur tropeçar em uma raiz e cair de joelho. O amigo estendeu a mão e pronunciar um feitiço. Não saiu sangue, mas a criatura voou para trás, emitindo um ruído estranho, apenas dando a possibilidade para eles correrem alguns metros a mais, antes de voltar a perseguição.

Invocando o fogo, Daniel, ignorando o cansaço, se concentrou. Uma parede de chamas, queimando o chão, surgiu. Rugindo, a criatura atravessou a defesa chamejante.

— Alguém sabe como se mata aquilo?— perguntou Arthur, nervoso, correndo mais lento que os demais.— Eu sou gordo! Não vou conseguir correr por muito mais tempo!

De repente, um relâmpago se estendeu pelas nuvens. E, depois daquele, muitos outros se seguiram em ziguezague, acompanhados de estrondos. Daniel se virou para ver Regina atrás deles, as mãos esticadas. Quando os relâmpagos atingiram a coisa, houve um clarão e um estrondo. Intacto e sem parecer incomodado, a criatura continuava avançando como se nada tivesse acontecido.

Claramente exausta pelo grande uso de magia, Regina deu um único passo excruciante antes de desmaiar. Daniel e Arthur voltaram para busca-la, mas a criatura estava mais próxima. Não tinha como carrega-la e continuarem fugindo. Onde aquele poder infernal que ele havia liberado na Praça da Sé havia parado?

Daniel lembrou-se de estar com muita raiva, uma ira como nunca sentiu antes. Algo sombrio se agitou na sombra da mente dele. Ele canalizou toda a fúria e magoa guardada e a direcionou contra a criatura.

Uma corda de fogo voou da mão de Daniel. Cinco metros antes de acertar a criatura o fogo transformou-se em chamas negras que engoliram a coisa. Daniel ficou olhando. Percebeu que a expressão de seu rosto estranhamente formava um sorriso- um sentimento de satisfação passando por ele- diante da cena da criatura sendo carbonizada antes de se desfazer em cinzas.

— Não sou alguém que se espanta com facilidade, mas isso foi... impressionante.— disse Arthur, arfando pelo esforço de correr e usar magia. Daniel percebeu também estar exausto. Os efeitos colaterais do uso de magia estavam começando a atingir a ele e ao amigo, drenando a energia que os sustentaram até ali. Logo estariam caído desmaiados como Regina.— E estranho também. Não sabia que se podia conjurar chamas... negras...

As crônicas Darwich. Chave de CobreOnde histórias criam vida. Descubra agora