20. UMA LENDA, UMA HISTÓRIA

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— ESCUTE, REGINA. — Daniel engoliu duas vezes.— Eu preciso saber o que está acontecendo. O que está acontecendo comigo. Eu...

Júlia e Arthur estavam andando na frente, Júlia conversava, apreensiva, com Arthur.

— Não dá. Temos companhia.— ela apontou para um contorno no canavial onde revelava uma passagem. Dela saiu uma figura humana e transparente, seus pés mal tocavam o chão. — Um fantasma.

— Devemos levá-los até o que procuram. A salamandra.— a voz dele era neutra. Seus olhos se voltaram na direção de Daniel.— Leva-lo aquele que espera por você.

Daniel sentiu um nó se formar em seu estomago com aquela informação.

— O que está acontecendo?— perguntou Arthur, caminhando em direção a Daniel e Regina exatamente quando um segundo fantasma saiu do meio dos canaviais. E depois mais um, e outro, e outro, uma enxurrada de fantasmas avançaram de todos os lados.

Júlia estava pálida e sua expressão era de pânico, apesar de não estar tremendo. Ela jamais vira um fantasma antes, Daniel percebeu.

— O... que faremos?— ela perguntou.

Daniel encarou os fantasmas.

— Nos levem até lá.

Sombras se formaram sobre eles. Fantasmas podiam fazer aquilo? Ele desconhecia o fato.

Por um momento, não enxergaram nada; depois, quando as sombras sumiram se viram diante de um tipo de casa em madeira dentro de uma arvore. A base era a raiz, o resto do tronco servia como parede e as folhas serviam como teto. Uma placa enorme pregada na porta dizia "Fabrica de Vassouras Z. Lúcio". Um lugar aparentemente inofensivo.

Daniel sabia que aquele era o destino deles. Era ali que encontraria Enyo. Ele olhou para Regina, Arthur e Júlia, respirou fundo e caminhou para a porta.

— Eu vou até o fim.

E atravessou a porta.

Por dentro o lugar era mais amplo do que aparentava por fora. As paredes traziam pinturas de vassouras que se moviam numa paisagem com nuvens e aves e o chão era de mosaico. No fim do recinto estava a recepcionista atrás do balcão, uma mulher gorda, com os cabelos tingidos de loiro usando uma blusa de seda e calça social preta.

— Boa tarde! O que desejam?— ela perguntou, sorrindo, olhando por sobre o ombro dele.

Daniel virou-se. Não tinha percebido que Regina, Arthur e Júlia haviam o seguido.

— Também não vamos desistir.— disse Arthur.

Ele ergueu uma sobrancelha. Depois voltou sua atenção novamente para a recepcionista.

— Sou Daniel Amorim. Eu...

— Me acompanhem, por favor.— a mulher o atalhou, levantando-se.

Daniel a viu se encaminhando diretamente para uma das paredes. Mas não houve colisão. Como se mergulhasse em uma piscina, a recepcionista atravessou a parede que ondulou a sua passagem.

Eles a imitaram e pararam em um grande corredor. Não havia ninguém ali e todas as portas estavam fechadas. A recepcionista tinha desaparecido. Eles pensaram em retornar para o saguão quando uma porta bem no fundo se abriu e dela saiu oito fadinhas com pouco mais de trinta centímetros, em um vestido esvoaçante. Suas orelhas pontudas e os cabelos cintilavam, e suas asas prateadas farfalhavam. Em seguida, duas delas pegou cada um pelo braço, puxando-os. O grupo foi separado rápido demais. Assim que Daniel se viu entrando em um quarto, ouviu todas as portas sendo fechada ao mesmo tempo.

As crônicas Darwich. Chave de CobreOnde histórias criam vida. Descubra agora