15. CERTO COMO NINGUEM ESPERAVA POR ISSO

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TODO O corpo de Daniel estava tenso. Júlia agarrou sua mão e puxou-o pela sala em direção ao quarto. Ela pegou o abajur ao lada da cama e apagou as luzes. Ficaram em total escuridão. Nesse momento, um forte estrondo reverberou por todo o apartamento e a porta da sala cedeu - o apartamento foi ocupado.

O sindico não iria gostar daquilo, Júlia refletiu.

Daniel ia falar com ela, mas vislumbrou seu vulto ficar atrás da porta. Ele agachou-se ao lado da cama quando ouviu o ruído baixo da maçaneta do quarto e desejou saber quantos homens estavam no apartamento.

Um vulto começou a entrar. Daniel conjurou uma bola de fogo e mirou no alvo enquanto Júlia ergueu o abajur acima da cabeça e abaixou-o com força. Houve um estalo abafado, sons do abajur sendo estilhaço e um xingamento.

Depois disso, tudo ficou quieto.

A luz foi ligada e Daniel e Júlia, de olhos arregalados, viram Arthur de pé na frente deles, com a mão esticada, formando uma tela de vento ao redor dele e de Regina, esta com faíscas de relâmpagos por entre seus dedos. Os cacos do abajur estavam espalhados pelo chão.

— Minha nossa.— Júlia ofegou, sentindo bombear adrenalina por todo o seu corpo.

— Mas o que diabos— perguntou Arthur, respirando com força— foi isso?

Perplexo, Daniel ficou de pé. Arthur e Regina traziam mochilas as costas e ainda estavam de uniformes, ambos com as mangas da camisa dobradas até os cotovelos e o blazer enrolado na cintura. Os olhos verdes delineados com muito lápis preto da ex-namorada dardejando entre Daniel e Júlia, furiosa.

— Como foi que nos encontraram?— perguntou Júlia.

— Feitiço de rastreamento.— respondeu Arthur apoiando-se na parede, ainda respirando com força.— Estávamos procurando por vocês, mas então o Dan deve ter feito o saco de feitiços contra rastreamento. Mas já estávamos aqui.

— Rápido assim?— perguntou Júlia.

— Regina enfeitiçou duas vassouras.— explicou Arthur.— Ela também arrombou a porta com um relâmpago. Lamento por isso. Sério. Não consegui segura-la. Pensávamos que vocês nem estavam mais aqui. Digo, se conseguimos rastrear vocês antes do Dan fazer o saco de feitiços contra rastreamento, a FBF pode ter feito o mesmo.

Daniel se deu, mentalmente, um belo chute na bunda por não ter pensando naquilo antes. A FBF poderia estar a caminho naquele exato momento.

— Eu suponho que você veio ajudar.— disse Daniel para o amigo.— Mas por que trouxe a Regina, Arthur?

— Porque eu sei fazer feitiços de rastreamento, não ele.— ela respondeu, seca.— Eu deveria dar aulas pra vocês dois, inúteis.

— O que vamos fazer agora?— Júlia perguntou.

— A ideia é essa. Deixamos você aqui... e fugimos.— respondeu Arthur.

— Ah, não, bonitão.— Júlia resmungou.— Não vão me largar aqui.— ela enfiou a mão no bolso da calça, pegou o celular e começou a digitar na tela, mostrando-a em seguida para eles.— Policias feiticeiros atrás de mim, perda de uma noite de trabalho, carro abandonado, uma porta quebrada e sindico raivoso, sem falar nos danos psicológicos. Já são mais de 300 reais. Vou cobrar.

Eles voaram nas vassouras para fora do apartamento, erguendo-se para o céu. Ficaram bem acima das casas, sob um dossel de nuvens, tomando cuidado para se protegerem dos olhos abaixo. Daniel estava tão ferrado que voar numa vassoura, ainda por cima ao lado de Regina, fazia pouca diferença. Agora, aquilo era totalmente esquisito, mas Daniel não se importou muito; fora natural como se sempre tivessem feito aquilo. Como se voar em vassouras fizesse parte dele.

As crônicas Darwich. Chave de CobreOnde histórias criam vida. Descubra agora