7.RAIJU

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ESTANTES TOMAVAM um dos lados do escritório de Samantha e diante delas havia um grande sofá. A escrivaninha da reitora ocupava um dos cantos do cômodo. Sobre ela, um computador, livros e inúmeras folhas de papeis.

A reitora usava uma calça preta e uma camisa social vermelha e seus cabelos escuros estavam presos em um coque, os esmaltes das unhas combinando com a camisa, elegante como sempre. Ela passou os olhos em Enyo agora em forma de Salamandra e encarapitada nos braços de Daniel, antes de encostar-se a poltrona e dizer:

— Sente-se, Amorim.

Daniel estava com medo da reitora dizer algo sobre ele e os outros terem desobedecido o toque de recolher na noite anterior e ainda mais apavorado com a possibilidade dela o punir com a expulsão. Ele se sentou no sofá colocando Enyo no colo.

— Esse é um familiar bem raro. Só vi um desses, e foi em uma foto antiga.— ela começou, cruzando as pernas.— Você é sortudo, sabe. Os feiticeiros conseguem um gato como familiar, geralmente. A conseguiu ontem a noite, não foi?

— Sim, senhora.— ele respondeu, imaginando como ela saberia daquilo.

— Você quer saber como sei disso?— ela o ofereceu um raro sorriso, o que fez Daniel ter a incomoda sensação que a reitora podia ler mentes.— Meu gato Grimalkin a encontrou hoje de manhã. Ele me explicou como você se encontrou com sua salamandra... Sou informada de todo novo familiar que aparece na Academia. É uma das tarefas que conferi a Grim.

Como se invocado por um pensamento dela, um gato incrivelmente grande e branco pulou nos braços da reitora, sem fazer barulho. Então, com a resposta da reitora em mente, Daniel ficou imaginando Enyo conversando com o gato enquanto entalhava a caixa; dizendo que Daniel babava ou roncava enquanto dormia. Imaginou Grimalkin repassando essas informações para Samantha.

— Suspeito que você não conheça a grandeza das implicações representadas pelo seu familiar.— ela prosseguiu, acariciando a orelha do gato.— Temos alguns Mestres feiticeiros com familiares na Academia. Quando um aluno ganha um familiar o colocamos aos cuidados de um desses mestres. Isso quer dizer, que além de suas aulas, você terá aulas extras fora do período regular, como aprendiz de seu mestre. Parece muita coisa agora, mas você vai se acostumar rapidamente. Agora para a sala, Amorim. Você já está dez minutos atrasado.

Saindo da sala, Daniel tentou meditar sobre o que estava acontecendo na sua vida. Testamento do avô, Academia, coven, familiar e agora ele seria instruído por um Mestre... Eram coisas demais acontecendo de uma vez só na sua vida.

Continuou pensando sobre isso enquanto ouvia a aula da professora História da Magia Antiga sobre o governo magico estabelecido juntamente com os dos humanos após dois séculos de derramamento de sangue humano e caça a bruxas. O professor parecia indiferente a salamandra de Daniel. Os professores das aulas seguintes agiram da mesma maneira.

No fim da manhã, antes de irem para o refeitório almoçar, o coven se reuniu em um canto do jardim para um ritual de purificação. Sua função? Expurgar o corpo de todas as energias negativas. Precisavam estar renovados para o resto do dia.

Quando foram para o refeitório o almoço já estava sendo servido. Daniel e os demais integrantes do coven apanharam a comida na mesa típica de buffet para se servir – peixe refogado, camarão temperado, bife na chapa, arroz, macarrão, feijão, salada grelhada e, de sobremesa, sorvete e pedaços de melancia. Os garçons – alunos sobre alguma punição já no ranking Pixie por algum motivo - circulavam servindo bebida, recolhendo pratos, limpando mesas.

Eles foram se juntar com outro grupo de alunos em uma grande mesa junto a janela. Daniel reconheceu alguns deles como Victoria, Isadora e Claudia que estava ouvindo musica no celular. Ele se sentou diante da irmã e ela não jogou nada em cima dele- o que era um bom sinal. Os professores estavam sentados juntos em uma mesa do outro lado do refeitório.

As crônicas Darwich. Chave de CobreOnde histórias criam vida. Descubra agora