9. TORNEIO ENTRE ALUNOS

40 20 94
                                    

ANTES QUE Daniel pudesse sair do choque inicial, a reitora Samantha entrou no dormitório feminino, seguida por um grupo de alunos curiosos para saber do por quê de toda aquela agitação.

— O que está acont...— a voz de Samantha morreu ao ver o corpo de Isadora no chão.— Todo mundo, para fora.— ela gritou.— Andem.

Em choque e pânico, as pessoas saíram. À frente do dormitório ficou uma barafunda de alunos comentando sobre o incidente em vozes altas. Alguns funcionários corriam de um lado para o outro, protegendo a área com magia para ninguém mais entrar. Um verdadeiro rebuliço.

– Daniel!

Ele voltou-se para olhar Regina e Arthur abrindo espaço pelas pessoas para chegar a ele.

— O que está acontecendo aqui?— perguntou Arthur, aproximando-se.

— Isa— Daniel sentiu sua voz embargar, claramente perturbado.— Isa... Está morta.

Ele e Regina se olharam e sem trocas de palavras, abraçaram-se - Enyo não reclamou mesmo estando entre os dois. A sensação era ótima. Era o que ele precisava. Estava difícil ele acreditar que aquela Isadora alegre estava morta.

~~~

Os três dias que seguiram, antes do final de semana, transcorreram quase normalmente. Quase. Os grandes portões de ferro da Academia ficaram com repórteres por todos os lados. Como se tratava da filha de um dos guarda- costas do Conselho, Ricardo Albuquerque, a própria FBF mandou uma de suas equipes, liderada pelo delegado Tiago Viana, para a Academia para tomar conta do caso.

A primeira providência de Tiago Viana foi reunir todas as primeiras pessoas que encontraram Isadora morta e fazer inúmeras perguntas.

Isadora estava agindo estranho antes de morrer? Ela se sentia ameaçada ou perseguida? Ela teria algum motivo para se matar?

Na noite seguinte, a morte de Isadora, Marcus fez Daniel voltar para o lago para treinar novamente dentro da agua gelada. O que foi bom, pois o distraiu da morte de Isadora. Outro dia se passou e, como o Mestre não permitia que ele usasse relógio de pulso, Daniel não fez a menor ideia de quanto tempo correu até ele começar a tentar se concentrar em aquecer a agua para então bloquear os ataques do raiju e de Marcus.

Então, o treino "da noite seguinte" se transformou no treino de depois de amanhã, e do dia depois desse, etc. Todas as noites, pelas duas semanas seguintes, após o toque de recolher, ou pela manhã, antes de todos acordarem, Marcus e ele treinavam juntos. Certa tarde, após uma meditação, Daniel até conseguiu misturar sua energia ao de Enyo. Ele realmente deu um pulo para trás quando percebeu que pode enxergar através dos olhos dela.

Perto do final do primeiro mês, não havia mais apenas treinos na agua gelada como também de combate corporal. O treinamento parecia ainda mais árduo que o da agua gelada, mas, a medida que Daniel aprendia a se esquivar ou dar socos, ele se flagrava conseguindo usar magia, ao mesmo momento. Com os dias ocupados por aulas, conversas, socos e encontros com o coven, o tempo estava passando rápido para Daniel.

— Ah, moleque, você é o cara! — ele exclamou certa noite, enquanto mastigava com satisfação os M&M's dados por Marcus após mais um treinamento. O Mestre sempre o esbaldava de doces ou/e bebidas no final de cada exercício dizendo que usar energia e magia deixava qualquer um exausto.

— Tem Coca- Cola também.— disse Marcus, apontando com o polegar por cima do ombro o engradado de lata no chão, ao lado de Léo e da salamandra - Enyo dormindo em cima da barriga do raiju.

Daniel olhou para Marcus e sorriu. Eles dois conversavam sobre mil coisas, falavam muita merda também, mas o Mestre não falava muito sobre sua vida e nem sobre como era sua família. Daniel sabia que o Mestre era solteiro e que, as vezes, fazia algumas missões em nome da FBF. De qualquer forma, Marcus se tornara o responsável oficial de Daniel na Academia e o rapaz havia se acostumado ao jeito nada paternalista dele e construído uma amizade sólida com Marcus e agora ansiava pelos treinos com ele. Da mesma forma, que tinha se familiarizado as aulas, a Academia e as pessoas que tinha aprendido a reconhecer e, em muitos casos, gostar, e ao fato de uma salamandra, que podia virar uma garota, dormia em uma cesta em seu quarto. E ele e Regina estavam numa boa.

As crônicas Darwich. Chave de CobreOnde histórias criam vida. Descubra agora