Capítulo 32

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2 meses depois

ANY GABRIELLY

É a quarta vez que estou caminhando por esse gramado somente nesta semana. Um dia como outro qualquer e mais um dia em que vou chegar no apartamento e Krystian vai me olhar com aqueles olhos cheios de palavras não ditas.

Ele está esperando e eu agradeço por isso e quando não consigo agradecer, eu venho até aqui e passo algumas horas sentada na grama verde... Prolongado algo que inevitavelmente vai acontecer. Mas hoje eu vim me despedir, porque já fazem dois meses que sai de Candem e dois meses que estou debaixo da asa de Krys e é o suficiente. Precisa ser.

Sento-me no banco de madeira velho e retiro da bolsa o velho livro "O pequeno príncipe" e corro as páginas até a marcação.

— Último capítulo — Respirou fundo antes de começar a ler — "Havia, ao lado do poço, a ruína de uma velho muro de pedra. Quando voltei do trabalho, no dia seguinte, vi, de longe, o meu pequeno príncipe sentado no alto, com as pernas balançando..."

Esse livro era o livro favorito do meu irmão. Lembro-me dele carregar esse livro e um cobertor velho para cima e para baixo pela casa até os seus quatorze anos quando um dia seus amigos bateram de surpresa em casa e o pegaram no sofá com o cobertor e o livro aberto nas pernas. Ele ficou tão envergonhado que jogou o cobertor fora e me deu o livro.

Percorro com as pontas dos dedos as palavras escritas enquanto leio e me escuto soluçar mesmo sem lágrimas. É a única coisa que me permiti ter dele. O único presente que ele me deu.

Levanto meus olhos para o céu quando escuto o barulho de um trovão e calculo quanto tempo ainda tenho até chover. Levo cinco minutos daqui até o ponto de ônibus se eu correr e a chuva deve demorar ainda uns vinte minutos para cair.

Continuo lendo em voz alta enquanto escuto o barulho do vento sobre as árvores que rodeiam a imensidão de grama limpa e verde.

"Á noite, tu olharás as estrelas. Aquela onde moro é muito pequena para que eu possa te mostrar. É melhor assim. Minha estrela será para ti qualquer uma das estrelas. Assim, gostarás de olhar para todas elas... Serão todas tuas amigas. E, também, eu lhe darei um presente..."

Minha voz é interrompida por um senhor com macacão cinza que para bruscamente um carrinho de mini golfe velho que carrega pás e enxadas.

— Vai chover logo, menina, deveria ir para casa.

Olho para o livro e percebo que falta somente uns parágrafos e volto meu olhar para o senhor.

— Já estou terminando aqui.

Ele olha para mim e depois para o livro, nega com a cabeça e acelera o carrinho.

— Acho que preciso acelerar na leitura se quisermos ficar sabendo do final... De novo.

Recomeço a leitura do ponto que parei e não paro até virar a última página e fechar o livro.

— "Não me deixem tão triste: escrevam-me depressa dizendo que ele voltou..." — Fico em silêncio alguns poucos minutos antes de sentir uma lágrima escorrendo pela minha bochecha. — Eu sinto sua falta — Digo para o nada esperando que ela me escute onde quer que esteja.

Passo as mãos pelo rosto, encho os pulmões de ar e jogo o livro dentro da bolsa novamente antes de me levantar e sentir a ardência em meus olhos devido as lágrimas que estou negando deixar caírem.

Meus pés caminham mais rápidos do que eu imaginei ser possível, estou praticamente correndo para fora desse local quando sinto a primeira gota de chuva cair em minha testa e então mais uma e mais uma.

BETWEEN ME AND HEROnde histórias criam vida. Descubra agora