Capítulo 23

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JOSH BEAUCHAMP 

 A água do chuveiro caia nas minhas costas a cinco minutos e meu corpo permanecia imóvel.

Desde o dia em que Any "terminou" (essas aspas nunca foram tão bem colocadas em uma frase) com Noah, minha mente anda trabalhando a mil por hora: Se afaste dela, lute por ela, Noah é seu amigo, você a ama a três anos...

Já faz praticamente uma semana que voltamos do acampamento e tudo parece normal a olhos despreocupados. A não ser por Noah que foi passar uns dias na casa da avó a 136 km de distância de Candem, "uma hora e meia de distância de ir chorar na janela dela" foi sua desculpa antes de ligar o carro e partir. Não vou julgar, não poderia, eu o entendo mais do que gostaria.

A última vez que "vi" Any foi no fatídico dia quando fomos fazer a trilha até o riacho. Ela foi quieta, sentou na beira do lago ao meu lado, segurou minha mão ao derramar algumas lágrimas e voltou calada, deitou no sofá e dormiu. Quando acordei, ela já tinha ido embora.

— JOSHUA! Sai logo desse banheiro, filho. — A visão do banheiro sob a névoa da água quente preenchem meus olhos assim que os abro.

— Estou saindo. — Minha voz sai baixa como se eu tivesse perdido o costume de falar nessa última semana.

Enrolo uma toalha na cintura e passo a mão no espelho embaçado. O reflexo mostra claramente que estou passando por algum conflito interno: olhos levemente inchados sob olheiras, barba por fazer e o cabelo que deveria ter sido cortado a uns dias gritam que preciso resolver logo meu dilema. Mas como?

 Oi mãe. — Deposito um beijo em sua testa assim que saio do banheiro e a encontro sentada na beira da minha cama. — Chegou agora?

Ela concorda e eu aperto rapidamente meu celular para que a tela se iluminasse. 22:58h.

— Eu preciso te entregar isso. — Somente nesse momento percebi um envelope do tamanho de uma folha a4 em suas mãos. — Estou para te entregar desde que voltou porém vocês, crianças, nunca estão em casa.

Reviro os olhos para ela e estico a mão para pegar o envelope.

— O que é? — Levanto meus olhos em sua direção e ela negou com a cabeça.

— Não sei. Chegou a uns dois anos e eu preferi não abrir. — Ela se aproxima e fica na ponta dos pés para depositar um beijo na minha bochecha. — É do acampamento. — Ela aponta para o endereço remetente na parte superior do envelope.

Só percebi sua saída do quarto pelo barulho da porta batendo. Giro o envelope duas vezes antes de abri-lo. Vagarosamente ando até a cama e me sento. A primeira coisa que pego é uma folha branca dobrada ao meio, não evito respirar fundo antes de abrir-la.

"Joshua,

Aqui estão algumas das fotos tiradas por você durante seu período aqui no acampamento. Gostaria de dizer que dificilmente alguém consegue retratar o mundo de uma forma tão inspiradora como você faz quando está fotografando. Separei as que achei que você gostaria de ter por perto.

Seja feliz, Laura Khetun"

Rapidamente coloco minha mão dentro do envelope e retiro algumas polaroids amareladas pelo tempo. São no máximo 5, mas estão perfeitamente arrumadas em ordem e a primeira faz o canto da minha boca subir.

Era a senhora que trabalhava na cozinha do acampamento. Ela estava distraída conversando com alguém encostada no carrinho adaptado para carregar seus cachorros, ela tinha forrado com uma coberta cheia de pelos e transmitia tranquilidade.

BETWEEN ME AND HEROnde histórias criam vida. Descubra agora