Capítulo 29

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NOAH URREA

A primeira coisa que vejo ao acordar é a garrafa de whisky vazia jogada na mesa e ao lado dela várias folhas de papel, algumas amassadas e outras inteiras.

Limpo o canto do lábio e emito um som de dor quando tento me endireitar na cadeira. Minha cabeça está explodindo, minhas costas doem e estalam conforme eu ergo os braços sobre a cabeça para alongar o corpo e então eu sinto.

É como se alguém estivesse socando meu coração com toda a força em uma velocidade absurda repetidas vezes para força-lo a bater novamente mas ele só está ali, parado, quebrado, doendo.

Encontro meu celular na bancada da cozinha e forço a visão para visualizar as mensagens nele.


Any [19:56]: Você está melhor?

Any [20:33]: Baby?

Any [23:48]: Bom, qualquer coisa me chama, te vejo amanhã no evento.

Any [23:48]: Eu amo você, Noah.


Lamar [18:39]: Deixamos todas as coisas no barracão.

Lamar [18:42]: Bro?

Lamar [20:23]: Você tá dormindo né monte?


Bailey [21:55]: ANSIOSO PARA AMANHÃ CARA VAI SER TOP


Sina [18:12]: Obrigada por ter ido e vou te socar por ter saído no meio da aula.


Josh [21:09]: Eai cara, a Any comentou que você passou mal, se precisar de algo avisa.


E foi a última mensagem que me fez largar o celular no balcão novamente e dar três passos para trás antes de gritar e socar a porta da estante.

Dezenove anos de amizade. DEZENOVE FODIDOS ANOS DE AMIZADE. 

Briguei e defendi todas as vezes que cochichavam besteiras envolvendo o nome dele. Cuidei da irmã dele todas as vezes que senti necessidade como se fosse minha irmã. Visitei a mãe dele e comprei presentes em todas as datas comemorativas. Eu guardei o maldito lugar dele na banda para quando ele fosse voltar.

E ele voltou.

Filho da puta cretino.

A luz do sol reflete na garrafa vazia na mesa e brilha em meu rosto me fazendo caminhar até a mesa e pegar o único pedaço de papel inteiro e levantar ele sobre meus olhos.

Lembro de alguns momentos em que escrevi algumas partes dessa música ontem a noite, vagos e embaçados. Lembro de chorar. Lembro de sentir raiva. Muita raiva. De Josh. Não dela.

Senti diversas coisas por ela, mas não raiva.

Senti mágoa, angústia, culpa, solidão, dor mas não senti raiva.

Como se amar ela fosse tudo que eu sou e sentir raiva dela fosse humanamente impossível, como se cada pedaço do meu coração que está quebrado ainda caísse por ela.

Mas isso não muda o fato de que fui feito de idiota pelas duas pessoas com que mais me importei na vida.

Olho para o relógio na parede antes de subir as escadas em direção ao banheiro, estou fedendo a bebida de ontem e o evento da cidade já começou.

Paro na cozinha para pegar a folha de papel já dobrada sob o violão antes de pegar a chaves do carro e sair de casa. Estou levando a folha de papel para descanso de consciência pois não acredito que seja possível esquecer cada palavra que escrevi nela ontem.

BETWEEN ME AND HEROnde histórias criam vida. Descubra agora