Capítulo 31

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ANY GABRIELLY

A única coisa que sobrepunha o som das gotas de chuva batendo sobre o teto do carro era a respiração alta e acelerada de Noah sentado no banco do passageiro. Sempre gostei do silêncio que há quando estamos dirigindo, principalmente porque você precisa estar concentrada no trânsito e em nada mais. Respirei fundo e bati os dedos no volante.

A casa de Noah não era tão longe (Nada é tão longe nessa cidade) mas estava me esforçando para dirigir dentro do limite da velocidade e não tenho vergonha de admitir que estou querendo adiar essa conversa tanto quanto posso. Porque não sei o que fazer. Não sei o que dizer.

Pelo canto do olho vejo Noah pressionar as mãos nas têmporas fortemente. Ele tinha a cabeça abaixada e os olhos fechados desde que entrou no carro. A camiseta molhada grudava em seu peito, assim como os fios de cabelo bagunçados pingavam em sua testa. Os pelos do meu braço se arrepiavam periodicamente e eu não posso afirmar se é pelo frio de estar ensopada ou pelo medo.

Medo.

Essa palavra é estranhamento comum em minha vida.

Sinto medo todos os dias. Sinto medo de um dia eu estar tão danificada novamente que pare de sentir medo. Já me senti assim uma vez e é... Assustador.

Assiono o pisca e estaciono na frente da garagem de Noah e me permito respirar fundo absorvendo toda coragem que tenho antes de desligar o carro e colocar o banco um pouco para trás.

— Você... — Limpo a garganta e tento dar força a minha voz — Você quer que eu entre com você?

Seu rosto virou lentamente em minha direção e tinha em algo em seus olhos que fizeram meu peito de apertar e todo o meu ar sumir. Mas engoli em seco e não desviei o olhar.

— Não. Eu não quero que você entre na minha casa.

Mordo a parte interior da bochecha e mantenho os olhos abertos para evitar que as lágrimas caiam.

— Tudo bem. Eu entend...

— Não. — Sua voz forte sobrepõe a minha — Você não entende. Porque se você entendesse, nem que por um segundo de merda, você não teria feito isso.

Olho para fora da janela conforme ele pressiona a têmpora novamente. Sinto minhas mãos se fecharem no volante com força e ignoro toda a dificuldade que estou sentindo para respirar.

Ficamos em silêncio por alguns minutos até Noah soltar uma risada sem humor chamando minha atenção.

— Deve ter sido divertido... Para vocês dois.

Não digo nada mas não preciso pois ele continua. — Depois de transarem vocês acendiam um cigarro enquanto riam da minha cara? "Você acredita que o palhaço ainda me manda flores?" ou "Ele me ajudou a lavar o carro que no qual eu fodi a mulher que ele ama".

O susto foi evidente em minha feição e meus olhos arderam.

Não reconheço o homem sentado do meu lado e sei que fui eu que fiz isso com ele. Tornei ele outra pessoa. 

— Sabe o que é mais engraçado? — Ele vira o corpo em minha direção e apoia a cabeça no encosto. Seus olhos estão vermelhos. — Você. Você quebrou meu coração e eu não consigo sentir raiva de você.

Ele me encara com bastante seriedade e eu baixei meu olhar observando seus punhos se fecharam com tanta força que suas mãos tremem. Encolhi meu corpo num movimento inesperado quando ele estica o braço para o banco de trás.  Ele pausa o movimento.

— Está com medo de mim?

Tomo fôlego para deixar minha voz firme — Não.

Ele firma o maxilar e passa a língua pelo lábio inferior — Nunca vou encostar um dedo em você.

BETWEEN ME AND HEROnde histórias criam vida. Descubra agora