Marie

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O casal esperou a chegada de Marie com muita ansiedade. Ajeitaram a casa para recebê-la e checaram várias vezes se todas as tomadas possuíam proteção. Whiskey seguiu ambos com um olhar curioso e, após cansar-se de apenas observá-los, começou a correr atrás dos donos. O gato atirou-se aos pés deles, fazendo-os quase tropeçarem seguidamente.

Marc tinha lido, em segredo, matérias sobre como preparar a casa para receber um recém-nascido, por isso estava bastante preocupado com tudo. Durante as leituras tinha aprendido que a irmã provavelmente estaria sofrendo com o nascimento dos dentes e, por isso, teria vontade de morder tudo o que pegasse em mãos. Pensando nisso havia escondido todos os isqueiros e brinquedos do gato.

Nos momentos em que estava lendo, Archie observava de longe com um sorrisinho bobo. Também tinha feito a própria pesquisa sobre bebês, o que fez sua vontade de ter um filho crescer mais. Tinha desistido de tocar no assunto, visto que da última vez obtivera uma reação negativa. Marc não parecia querer uma criança e não iria tentar fazê-lo mudar de opinião para agradar aos seus desejos.

Estava feliz com o prospecto de Marie visitá-los quase todos os finais de semana. A ansiedade para ter um bebê em casa pela primeira vez era animadora.

O mais novo tinha planejado um roteiro do que poderiam fazer e, surpreendentemente, Marc havia ajudado. Mas a contribuição deste foi bastante óbvia: idas à lojas de grife especializadas em roupas de bebês. Archie, entretanto, tinha planejado um passeio no zoológico. Mesmo que Marie fosse muito pequena e não fosse lembrar daquilo, era um programa simples e divertido para fazerem com ela.

Quando Whiskey atirou-se aos pés de Archie, esperando um carinho na barriga, este suspirou e pegou-o no colo. Beijou-o entre as orelhas e abraçou-o com amor, fazendo sons baixinhos e chamando-o pelo apelido, o nome do gato no diminutivo.

Do corredor, Marc arqueou as sobrancelhas e deu um sorriso incrédulo e debochado. Para quem havia achado o novo membro da família "feio", Archie estava bastante apegado a ele.

A campainha tocou e ambos empertigaram-se com ansiedade. Marie tinha chegado.

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O centro da enorme sala de estar estava cheio de brinquedos jogados pelo chão. Marie engatinhou no meio deles, jogando um ou outro para cima, parecendo entediada com as várias opções que tinha em volta. Subitamente ela ficou séria, a boca pequena curvou-se para baixo e os olhos castanhos fixaram-se no irmão, que estava sentado no sofá, observando-a.

Archie veio da cozinha com uma mamadeira recém-preparada e colocou um pouco do leite na mão para sentir a temperatura. Quando chegou na sala, quase gargalhou com a cena que viu.

A garotinha estava tentando escalar as pernas de Marc, com as pernas e braços gordinhos agarrados à calça jeans preta. Frustrada por não conseguir subir no colo do irmão, ela começou a choramingar.

Marc estendeu o braço e Marie abraçou-se nele como um macaquinho. Ele levantou-a com cuidado até o peito e ali ela ajeitou-se. Pôs as mãozinhas nos cabelos castanhos do irmão e puxou algumas mexas, curiosa com a textura dos fios.

━Ei! -Marc protestou ao perceber que ela tinha bastante força

A bebê riu e bateu palminhas. Archie sentou-se ao lado deles no sofá e comentou:

━Ela adorou os seus cabelos.

━Ela tem bastante força, - Marc resmungou

Archie apoiou um braço no encosto do sofá e ficou admirando-os juntos. Possuíam a mesma cor de cabelo e de olhos, tinham inclusive as mesmas pintinhas espalhadas pelo corpo. Estendeu a mão direita e tocou a bochecha dela, apertando-a com pouca força. Mordeu os lábios e quis inclinar-se para abraçá-la e dar beijinhos em sua testa, mas controlou-se. Não podia mostrar aquele lado paternal para Marc, até porque estava surpreso com as próprias vontades. Mas talvez ele estivesse escondendo o próprio lado fraternal.

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