Meu professor

Narrador

Era sábado.

Gilbert Blythe e Anne deveriam se encontrar para mais uma reunião como haviam planejado semana passada. 

Blythe por sua vez, tinha tentado o máximo de si mesmo na última sexta-feira para não ficar voltando para Anne no meio da aula, ele parecia ou focar demais nos seus slides como se eles fossem - de repente - abrir uma passagem mágica para outro universo, ou vislumbrar com excelência as cores claras e descascadas da parede na sala. A verdade era que, ele não teve sucesso no seu objetivo, aquele fio magnético que surgiu entre os dois continuava a puxá-lo para o canto onde a ruiva se encontrava, assistindo a aula dele com vislumbre e foco, prestando atenção em cada palavra dita e em cada movimento feito. Ele gostava disso, não bancaria o hipócrita negando algo que era obvio para si mesmo, Blythe adorava saber que Anne Shirley Cuthbert era tão apaixonada por linguística como ele.

Já Anne estava animada com a chegada do final de semana, tão animada que pareceu um castigo divino o dia passar tão devagar no sábado. Ela terminou de desempacotar as suas coisas na casa de Cole, arrumou todo o seu novo quatro, ajudou o melhor amigo a limpar a casa, tomou um bom banho, fez alguma coisa para comer e ainda assim eram apenas uma da tarde! Nunca se viu tão ansiosa para ir a faculdade num sábado como estava naquele momento. Era estranho se sentir assim, estranho porque só namorou um garoto em toda a sua vida: Billy. E ainda assim nunca se sentirá desta forma com ele, nem mesmo em seus sonhos mais loucos ela imaginava-se estar tremendamente empolgada para encontrar alguém em um final de semana, como estava com o fato de ter uma orientação de tcc com o seu professor na faculdade.

Chegando perto da hora da reunião, enquanto Anne ia para a faculdade escutando uma boa música animada, Gilbert Blythe andava de um lado para o outro na sala de orientação, como uma barata tonta, se o piso não fosse de concreto, ele suspeitava que poderia abrir um vão no meio daquela minúscula sala.

O moreno tinha conversado com sua melhor amiga noite passada, ela deu-lhe duas opções que em seu ver eram tristemente ruins, mas ele decidiu escolher a mais sensata entre elas: ignorar e se distanciar. Além de não ser justo com Anne o que estava acontecendo entre eles, seja o que fosse aquilo, poderia facilmente acabar destruindo a carreira dele, esta que estava só começando. Se os dois avançarem... Poderia causar intrigas e dramas desnecessários. E por mais estúpido que o seu coração gritasse para tentar pelo menos uma vez ser feliz, sua parte mais racional e consciente sempre ganhava, porque normalmente estava certa.

Blythe sempre foi assim: mais racional do que emocional ou, pelo menos, era isso que ele gostava de pensar.

Ele olhou rapidamente no relógio, 03pm. Ela devia estar chegando.

O moreno mexeu no cabelo nervoso, andou pela sala e sentou-se em seu lugar usual atrás da mesa pequena e quadrada, abriu a sua bolsa e colocou folhas aleatórias que estrategicamente havia trazido para esta reunião em cima da mesa. Escutou passos no corredor, ele ajeitou-se. Três batidas. Ele começou a fingir que estava concentrado em uma leitura profunda de... Um artigo. Artigo sobre... Fungos. Fungos? Mas que merda!

Anne entrou na sala com um sorriso no rosto.

Estava linda, reparou prontamente ao levantar o olhar para a sua aluna, vestia um short de cós alto jeans com botões grandes decorativos, uma camiseta preta escrita "F.R.I.E.N.D.S" presa dentro do short, seus cabelos ruivos estavam ajeitados em uma trança embutida que caia sobre seu ombro. E por um segundo aquela garota pareceu brilhar e ele se perguntou por um segundo, se ela sabia daquilo, se Anne Cuthbert conseguia perceber que iluminava todo ambiente que entrava.

Ele engoliu o seco vendo ela fechar a porta e relembrou-se do seu próprio plano pela quinta vez consecutiva. Blythe levantou-se e ofereceu a mão para ela, nunca fez isso antes, era sempre um sorriso seguido por um meio-abraço, Anne pareceu confusa, mas aceitou, apertando-a e transferindo um pequeno choque para o corpo do moreno.