Meu professor

Anne

O amor é uma das emoções mais complexas que sentimos, nós podemos até mesmo entender o que acontece conosco quando estamos enfrentando uma paixão, mas ela é incompreensível de diversas maneiras e formas, nunca realmente conseguindo ser explicada com apenas uma palavra, pois é mais abrangente que o próprio ser humano. Nessa inexplicabilidade, digo hoje que é impressionante como se apaixonar pode levar anos ou apenas um dia.

Eu nunca sequer imaginei que poderia voltar a gostar de alguém tão apaixonadamente quanto estava acontecendo comigo depois de Billy, passei muitos anos com ele e depois de tudo o que eu enfrentei, simplesmente imaginei que eu chegaria em um ponto onde preferia morrer sozinha do que me envolver com uma pessoa nova. 

Isso, é claro, até a chegada de Gilbert Blythe.

Me encontro completamente encantada por sua onda magnética, sempre foi assim, mas depois do nosso encontro, eu me sentia  anestesiada, era como se as coisas se encaixassem com harmonia quando eu estava em seus braços, estava sendo estranhamente bom me relacionar com Blythe, era fácil e simples, não havia brigas ou intrigas entre nós dois, ambos nos sentíamos felizes juntos.

Fazíamos questão de nos ver todos os dias pelo menos uma vez, nem que fosse apenas para trocar um "oi" singelo ou um abraço caloroso, sentia-me como um imã que precisa da sua outra metade para sentir-se completa. A conexão que tínhamos descoberto um pelo outro era de tirar o fôlego, precisávamos estar juntos pelo menos dois minutos de cada dia ou uma saudade devastadora ameaçava os nossos seres.

Pelo menos, era assim que eu me sentia, mas imaginava que ele também, já que sempre quando eu me sentia carente demais, hesitava de mandar mensagens para ele, a fim de não parecer muito grudenta, no entanto, Blythe - provavelmente ao perceber a falta da minha comunicação - era quem abria uma conversação com um pequeno: "estou com saudades" ou "que horas você chega hoje?".  Acredito que tanto quanto eu, ele sente essa ligação fascinante que nós dois compartilhávamos.

Desta vez nós dois havíamos marcado de nos encontrar na biblioteca, eu mordi o lábio inferior ao ver uma mensagem sua pedindo que eu me encontrasse com ele na sessão de livros de Ed. Física e Ginástica, no final do quinto corredor no terceiro andar, onde ninguém realmente frequentava, pois tinham a tendência de esquecer que existia livros sobre esse tópico, aliás, os alunos mesmo usavam aquele lugar para dar algumas escapadinhas. De repente, estava rindo, não acredito que me tornei uma dessas estudantes, só que com um professor.  Cheguei no terceiro andar às 06:40 da tarde, caminhei entre os corredores indo direito ao lugar marcado por ele que - se eu o conheço bem - vai estar fingindo folhear um livro qualquer sobre nutrição e exercícios de musculação.

Caminhei contente e entusiasmada, como se ginástica fosse a coisa mais fascinante do universo e cada vez que me aproximava mais das estantes, mais vozes eu escutava, parei de caminhar tão apressadamente, será que alguém o viu e decidiu parar para conversar com ele?

Me aproximei devagar, reconhecendo aos poucos as vozes que circulavam o ambiente, não podia simplesmente aparecer naquele corredor agora, independente de quem estivesse falando com Gilbert, entrar lá agora estamparia na testa de nós dois que ele está se envolvendo com uma mulher que não devia, além disso, eu não queria atrapalhar o que podia ser uma conversa realmente séria.

Blythe parecia irritado, notei, enquanto a mulher tentava explicar para ele o porque eles não tinham terminado ainda e como ele estava sendo irracional. Eu engoli o seco, parando no meio do caminho, eu não estava visível aos olhos deles, mas eu podia enxergar duas silhuetas com precisão. Uma onda de desespero me atingiu e a minha cabeça me fez o favor de lembrar o que Cole me contou a um tempo atrás em meio as suas quinhentas fofocas no twitter e whatsapp: O professor Blythe namora a professora Barry, vi os dois saindo uma vez da faculdade juntos.