Anne

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Todos estavam entrando na sala designada para o professor Blythe, no quinto andar, sala 56. Faltava dez minutos para a sua aula começar e as pessoas conversavam animadamente formando um pequeno burbulinho.

Eu caminhei até o meu lugar usual: segunda fileira da esquerda, penúltimo lugar. Era normal isso, as pessoas erroneamente acreditam que depois de ingressar na faculdade as pessoas deixam de ter panelinhas e existe uma união fraternal mútua, como se do nada, depois de fazer dezoito e/ou dezenove anos todos criassem vergonha na cara e a partir do momento que entrasse em uma nova sala de aula, a galera se tornaria uma grande família linda em férias de verão. Bom, eu lamento estourar sua bolha, não é bem assim.

Tudo é basicamente o mesmo só que agora um pouco pior porque as pessoas se sentem superiores quando iniciam a faculdade, como se estivessem em um pedestal ou algo do tipo.

Atrás de mim se senta Billy, meu namorado, ao meu lado Cole, atrás dele Ruby, meus melhores amigos.

Prissy, por outro lado, é a única do nosso grupo que não se senta conosco, de acordo com Jones, ela tem "dificuldades" de se concentrar no fundo da sala. Todos podemos concordar que défice de atenção realmente existe para algumas pessoas, no entanto, Prissy Jones só começou a adquirir esse problema, impressionantemente, depois do segundo período da faculdade quando a professora Diana Barry de Literatura Contemporânea, começou a nos dar aula. Então, a partir desse pacato dia, ela começou a usar sua má atenção como desculpa para se sentar nas primeiras carteiras da minha fileira.

Eu olhei em volta chocada com o tanto de alunos na sala, ela estava basicamente cheia para um curso opcional sexta a noite toda.

- Acho que é as horas complementares - Ruby diz quando percebe a minha surpresa.

- Espero que isso valha a pena - Billy resmunga atrás de mim.

- Nem parece que viu todas as palestras do Blythe com Anne ano passado - Cole provoca-o e eu vejo Billy torcer o nariz em resposta.

Eu pigarreio.

- Na verdade, ele dormiu basicamente o tempo todo - Eu digo rindo.

Meus amigos dão risada de Billy, o loiro sempre fazia isso, participava das coisas no qual odiava apenas para me fazer companhia. Ele vira-se pra mim me oferecendo um sorriso cúmplice nos lábios e eu pisco para ele em resposta.

Antes que qualquer conversa seja colocada em dia ou até mesmo continue, o professor entra na sala roubando a minha atenção, eu seguro a respiração ansiosa. Ele está simplesmente magnífico, os cabelos cacheados escuros estão bagunçados mostrando seu evidente nervosismo, ele veste um terno preto de linha que não parecia ser caro, gravata preta que combina com o modelito, ele parece um CEO gostoso que está prestes a entrar em uma sala de conferências para discutir negócios, seu maxilar está travado e ele parecia ligeiramente querer matar alguém ou pular de uma das janelas do prédio.

- Boa noite - Ele cumprimenta em um tom baixíssimo.

Gilbert Blythe está nervoso. Completamente.

Eu entendia a sua ansiedade: era diferente lecionar para uma turma e dar palestras. Em uma sala de aula você é foco central, a autoridade, o mediador de todo conhecimento, diferente de um seminário, onde diversas pessoas de diferentes lugares vem para lhe assistir - em um teatro gigantesco - a fim de compartilhar os próprios conhecimentos com você. Em uma palestra, você está diante de pessoas que conhecem o seu trabalho, você não precisa provar absolutamente nada a ninguém, não existe uma pressão. Em sala de aula, o jeito como você ensina determina a forma como as pessoas dali em diante vão aprender e praticar o que você dissertou, é tipo um castelo de dominós, se você ensina uma coisa errada...

Meu professorOnde histórias criam vida. Descubra agora