Gilbert

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Existia três tipos de pensamento quando eu decidi que daria uma chance para lecionar: o primeiro, era que se por acaso não desse certo, eu não deveria me culpar pela falha, nem todos realmente nascem com o tom de ser professor; o segundo, se desse certo, eu daria o meu máximo para conseguir passar o todo conhecimento possível, sou bom no que eu faço e acima de tudo, todos na sala estão lá porque querem e nada deve ser diferente de uma palestra que eu já dei, e por último, ser amigo dos meus alunos nunca é uma boa ideia, principalmente na faculdade onde eles tem basicamente a mesma faixa etária que a minha.

Eu possuo uma ética cujo eu carrego comigo, nunca devemos abrir sinal verde para pessoas que você sabe que passaram direto por ele se puderem. Na faculdade é assim, qualquer flexibilidade que você abrir para seus alunos, eles vão pegar ela e explorar ao máximo de diferentes formas. São adultos, eles sabem suas prioridades.

Bom, não preciso dizer que tudo foi por água baixo.

Estou a quase uma semana e meia lidando com o que eu acho ser a complicação profissional e pessoal - as duas juntas - maior de minha vida. Eu decidi namorar uma aluna. Eu convidei-a para jantar comigo. Eu a beijei naquela noite. Eu continuei insistindo apesar de saber o que isso poderia ocasionar. Eu fui atrás dela nesse feriado porque não consegui ficar longe, mesmo sabendo que essa seria uma jogada burra e arriscada demais.

Eu mesmo fodi com a minha carreira profissional, nem sei exatamente porque estou chorando pelo leite derramado.

Fui irresponsável, não apenas comigo mesmo, mas com a aluna cujo estou me envolvendo.

Quando voltamos do feriado em Montreal, eu me sentia ansioso demais para ficar feliz pelo avanço que aconteceu no meu relacionamento, foi realmente ótimo ter Anne por inteira, nunca me senti como se eu completasse uma pessoa de verdade até conhecê-la. Por alguma razão universal, aquela mulher é o amor da minha vida, só não entendo como as musas do destino tiveram a merda da ousadia de fazer ela ser uma aluna na faculdade que eu leciono. Céus, você não podia ter feito ela ser uma colega de trabalho? A tia que serve cafezinho? A secretária?

É agonizante.

Voltamos domingo de noite. Segunda pela manhã, eu fui chamado para me reunir com Lincoln Frederick, um dos reitores que possui uma cadeira no conselho da UGB, isso estava sendo bem comum desde que vazaram fotos de mim e Anne na sala 21C, por mais complicado que fosse me identificar na foto, ninguém realmente estava inclinado a aceitar que talvez fosse outra pessoa com a ruiva, mesmo que ela tenha argumentando na reunião passada que Billy - seu ex namorado - fosse o homem com ela, ninguém acredita em sua palavra.

Não apenas os cabeças da Universidade de Green Gables, mas todas as propostas que eu tinha para um trabalho no próximo semestre estavam caindo como moscas mortas no chão após passar veneno, todas com a mesma desculpa: "não podemos aceitar alguém que não cumpre com os conceitos éticos do trabalho". Como se eu fosse chegar em Princeton e seduzir todas as alunas desamparadas deles. Eu não sou assim e está sendo bem complicado de persuadir as pessoas a acreditarem nisso.

A única faculdade que ainda não havia retirado sua proposta foi Cambridge, acredito que o escândalo sobre o professor que está dormindo com uma aluna na sua primeira tentativa se lecionar, não tenha chegando na Inglaterra ainda.

Eu me sentia desamparado, completamente perdido em alto mar sem um remo, apenas torcendo para que a maré mude e eu consiga voltar para terra firme.

Cheguei como um zumbi para conversar com Frederick em sua sala que fica no primeiro prédio do campus da UGB,  quarto andar, terceira sala a esquerda, sua secretária me deixou entrar direto e quando eu apertei sua mão e vi um sorriso desordeiro em seus lábios, eu soube que a conversa não seria boa. Neste momento, ninguém está querendo me ajudar de verdade, então as pessoas estão naturalmente jogando pedras em mim ou tentando me convencer de usar Anne como um bote escapatório, coisa que eu nem sequer imagino ser capaz de exercer.

Meu professorOnde histórias criam vida. Descubra agora