Quero ler até que meus olhos falhem.
Quero viver intensamente
até que meus pulsos cessem.
Quero pintar mais de oitocentos quadros
até que meus olhos cessem.
Quero viver até a última gota
até que minhas lágrimas cessem.
Quero me apaixonar inúmeras vezes
até que meu coração cesse.
Quero demonstrar todo meu amor
até que minha dor cesse.
Quero vomitar tudo que sinto,
afogar-me em cigarro e absinto,
nadar em cocaína e vinho tinto.
Até que minha vida cesse.
Quero acabar o peito retinto
e queimar todo poema que tinto.
Porque minha arte não é boa.
Quero que ela pare de existir.
Quero incendiar tudo que sou
até que a angústia cesse.
Quero colocá-las todas, no papel,
até que a luxúria cesse.
Quero lê-las em voz alta
e gritar a cólera dentro de mim,
até que a solidão cesse.
Quero vomitar meus segredos
em palavras indecifráveis,
expô-los ao medo, torná-los amáveis,
como quem nunca fui.
Quero ser quem não sou.
Vomitar rimas no papel sujo,
girar traços nas paredes do meu quarto,
pichar muros e espaços
escaços.
Até que o desespero cesse.
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Martírio
PoetryBoas vindas ao Martírio, uma viagem adentro das piores emoções humanas. Atente-se ao pôr-do-sol das aparências - aqui não fingimos prudência ou moralidade -, quando a noite cai, a encaramos e a enfrentamos sem medo. Quando as luzes se apagam, a verd...