A arrogância me fascina
— dizia com lábios vergados.
Os esguios e desvios me iluminam
— dizia apagando o cigarro.Os fascínios me alimentam
— alimentava-se de inseguranças.
O reflexo no espelho me assombra
— era incapaz de fazer mudanças.São elas que me perseguem:
as cobranças.
São eles que me amam:
os vícios, os vícios.Os viciados me fascinam,
degenerados desalmados
que já não têm mais ninguém;
eles me dão futuros e desdém.Me dão desprezos e calmaria:
estão pior do que eu.
Me dão risadas e alegria,
são mais miseráveis do que eu.Meu reflexo não parece são
— gargalha dos enfraquecidos —,
procurando sanar a histeria
do próprio insano coração.Que batia com arritmia
buscando os primórdios,
o surgimento de tanta
disforia e decepção.O espelho é o algoz
— dizia com convicção.
Sou o herói, ele é o vilão
— dizia com paixão.Projetava nos delírios
a própria solidão.
Perdia partes de si
agoniando com a visão.Mentiras são parte do espetáculo,
sou um artista, uma prisão.
Prendo os olhos dos apedrejados
no florescer de minha canção.Sou escárnios, retaliação,
um homem de virtudes
oferecendo-lhe circo e pão.Esbanjo motejos, sou motes
da Odisseia, da caverna de Platão.
Artes ardorosas buscando,
pertinazes, por aceitação.Sou mau pela arte, é inenarrável
— impunha-se e cantava.
O suplício, para o belo, é inevitável
— sofria enquanto falava.Nota da autora:
Olá leitor! Espero que esteja bem. Vamos ao que eu quero dizer: o título desse poema foi mudado diversas vezes para tentar representar o que esse personagem é. Porém, não me recordo ao certo do nome original do poema (foi escrito em meados do começo do ano passado e mudado diversas vezes). Um dos títulos que me lembro foi "Fragatas e Gravatas", que tinha o objetivo de dizer que o homem — personagem principal do poema — era alguém rico e com classe (por usar gravata), mas que, embora aparentemente superior, ele era também uma pessoa horrível que atacava os outros. Por isso "fragatas": o termo significa um monte de navios de guerra (porque ele atacava os outros).
Contudo, eu acabei mudando o título para "Projeção" uma vez que interpretei novamente a poesia. O personagem descrito ali é alguém frustrado, que mal consegue olhar-se no espelho de tanta repulsão que tem por si mesmo. Dessa forma, ele sente-se bem sabendo que existem pessoas em pior condição que a dele. Sente prazer em fazer mal aos outros, pois ele se sente mal e acha que reproduzindo isso irá ficar melhor — mesmo que isso o destrua. Ele é nojento, eu sei.
O homem do texto faz uma projeção das próprias falhas nas pessoas que ele considera "miseráveis". Considera-se superior por ter dinheiro e um artista por mentir e sofrer. Me inspirei no conto "Obsessão" da Clarice Lispector para escrever esse poema.
Devo dizer que o considero o pior personagem de todos os poemas que já fiz (e olha que eu já escrevi contos sobre assassinos, adúlteros, suicidas, etc.), e relembro-vos, caros leitores, que o Martírio tem por pressuposto retratar sentimentos e indivíduos de caráter duvidoso, que pendem para o pior lado no que diz respeito às questões éticas. Cabe a vocês perceberem o quão pérfidas são essas emoções e não reproduzi-las (pelo amor né gente, os personagens são todos corrompidos; NÃO SEJAM AQUELAS PESSOAS QUE ROMANTIZAM O HUMBERT HUMBERT DO NABOKOV).
De qualquer forma, quis contextualizar o poema, porque sei que às vezes pode ser difícil interpretá-lo a grosso modo. Obrigada pela leitura e até logo!
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Martírio
PoetryBoas vindas ao Martírio, uma viagem adentro das piores emoções humanas. Atente-se ao pôr-do-sol das aparências - aqui não fingimos prudência ou moralidade -, quando a noite cai, a encaramos e a enfrentamos sem medo. Quando as luzes se apagam, a verd...