Érato

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Pontas dos dedos armadas!

Quando pronta, de janelas fechadas,

a lúgubre mente desdobra e cria.

A noite soturna me calafria; 

os dias-tormento te malabares

com pés-sentimento ao tropeçares.

A língua eloquente, se tu atentares

ressoa bem n'ouvidos, se trovejares.

Se tão amor-juvenil, não dispares:

morro de tédio de (teus) linguajares.

Se compostas só paixão e lamentação

quais boas palavras me rogarão?

Sou teu infarto, ó coração.

Fiódor, coitado, revira o chão!

Bilâmina solene se foi em vão,

cortara paradigmas de besteira:

qualquer faxineira de versos

hoje tornar-se-á a maior arteira.

E pintados-olhos, me contradizes?

Dizendo que eu própria, Melinoe,

matei mais sapos que qualquer 

serpente ou cobra que se disser.

Bombardeei montes gregos

lendários, esfaqueei Érato e Forma

só pelo prazer de vê-las morrer.

Sinto em dizer-lhe, olhos-pintados:

me é difícil um banquete de sapos

quando me servem ratos

que autoafirmam-se poetas 

(roendo arestas de poetas já feitos

e dizendo-se melhores por refazer

meia dúzia de palavras

em linhas 

espaçadas 

demais)

como se
poesia

fosse

escrever

em

uma linha

por vez
algumas

coisas óbvias,
chorar
e

nada
mais.



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