Harry sabia que aquilo era loucura, na verdade tudo desde a aula de poções parecia loucura, começava a se questionar se tudo não passava de um sonho louco. Ouvindo seus passos cuidadosos nas pedras do chão e a respiração levemente acelerada, pensou em desistir daquela ideia louca. Por mais que estivesse com a capa da invisibilidade um sonserino esperto poderia acabar notando sua presença, talvez até o próprio Draco o notasse, a garoto de cabelos platinados não era burro e Potter sabia muito bem disso.
Mas ao mesmo tempo sua vontade incessante de confirmar que tanto sua poção quanto a de Rony foram mal preparadas o arrastava em direção as masmorras. Tinha quase absoluta certeza de que ele e o amigo tinha errado feio na preparação da poção, afinal, Draco Malfoy? Era loucura. Por mais que se pensasse bem a estranha obsessão que tinha pelo garoto e aquela necessidade do seu antagonismo poderiam ser muito bem explicados por uma atração esquisita, mas realmente não queria pensar nisso, preferia mentir para si mesmo dizendo que aquilo era ódio, apenas o mais puro ódio.
Ao se posicionar um pouco distante da entrada da casa, esperou pacientemente até que um sonserino passasse e dissesse a senha, para que assim pudesse entrar logo atrás. Por coincidência o sonserino que passara era justamente Draco, o ajudando também no aspecto de descobrir qual era seu dormitório. Assim que Malfoy passou pela entrada parecendo cabisbaixo demais para ser mesmo ele, Harry o seguiu sorrateiro, quase como uma cobra peçonhenta atrás de sua presa.
Seguiu o garoto pelo Salão Comunal refinado até a entrada para os dormitórios masculinos. Passou por uma porta escura logo depois de Draco, se deparando com um quarto com somente três camas acompanhadas de seus criados mudos e uma outra porta, que provavelmente levava ao banheiro. Ali estava, no território hostil do inimigo, agora só lhe restava procurar o perfume.
Teria sido fácil se não tivesse se distraído por um momento com o sonserino que retirava sua camisa sem a menor preocupação. Draco se posicionou em frente a um grande espelho ao lado de sua cama, largando a camisa branca no colchão e olhando para seu ombro lesionado no jogo. Por mais que o osso tivesse sido colocado no lugar ainda restava um hematoma doloroso no local, foi a primeira ver que Harry teve noção do real estrago que aquela queda tinha feito.
A marca se destacava na pele pálida e parecia dolorosa, Potter se sentiu mal por ter derrubado o sonserino, por mais que não o tivesse feito propositalmente, ou talvez sim, realmente não sabia, gostava de acreditar que não fora proposital, mas parte de sua mente sabia que queria muito tirar aquele sorriso convencido do rosto de Malfoy e assim o fizera. Por tal fato se sentiu culpado, questionou a própria índole, concluindo que naquele jogo não havia agido muito diferente do garoto dos olhos acinzentados.
"Tenho que trabalhar nisso", pensou enquanto se perdia na visão de Draco ainda sem camisa aplicando alguma coisa em seu hematoma, esboçando minimamente uma careta de dor. "Aquela poção não poderia estar mais certa", uma vozinha incomoda na mente de Harry sussurrou. O garoto balançou a cabeça querendo espantar aquele pensamento focando-se em seu objetivo de encontrar o perfume.
Passou os olhos pelo quarto e depois os pousou no criado mudo ao lado da cama de Malfoy, mas especificamente na gaveta entreaberta de onde saia um brilho azulado pelo reflexo da luz. Assim que Draco adentrou o banheiro viu o momento perfeito para se aproximar da gaveta e por fim roubar o perfume perfeitamente armazenado em um frasco azul perolado.
Malfoy ligou o chuveiro observando a água cair e a banheira se encher aos poucos. Se sentia cada vez mais perdido no abismo de seus pensamentos, cada vez mais deprimido com seu futuro próximo, nem mesmo insultar Potter o divertia mais, o garoto dos olhos verdes não lhe provocava mais todo aquele misto de emoções fortes demais para serem compreendidas.
Se sentia confuso, se sentia sozinho, sem ninguém que realmente lhe entendesse. Poderia tentar conversar com Pansy, mas duvidava muito que a garota entendesse por que não queria se tornar um Comensal da Morte ou simplesmente seguir as ordens de seu pai, como fora criado para fazer. Deitando-se na banheira finalmente sentiu seus músculos relaxarem e sua cabeça divagar entre coisas aleatórias até parar nos olhos esmeralda sempre escondidos atrás das lentes dos óculos redondos.
Não sabia exatamente por que pensara nele, ultimamente não havia feito muito isso, estava ocupado demais com medo do seu destino para divagar sobre antigas paixões, ou talvez nem tão antigas assim. A rejeição no primeiro ano realmente não tinha sido fácil de lidar, acabou por incorporar o obcecado que inferniza a vida do outro para ganhar um mínimo de atenção. Mas ultimamente não sentia tanta necessidade da atenção de Harry, o que era bom, significava que estava finalmente o superando, ou talvez simplesmente estivesse com a cabeça cheia demais.
De fato, não importava, de qualquer forma Potter nunca o veria do mesmo jeito, talvez até por culpa sua por ter infernizado tanto o garoto, e em algum momento teria que seguir seu destino e lutar contra aquele belo par de olhos verdes. Fechou os olhos com força com esses pensamentos, eram dolorosos e realmente não queria nada daquilo durante o que era para ser um banho relaxante.
Por fim se levantou e se vestiu, esvaziando a banheira logo em seguida. Foi até a gaveta de seu criado mudo a procura de seu perfume, por mais que fosse dormir gostava sempre de estar bem perfumado, mas ao abrir a gaveta não encontrou o pequeno frasco perolado.
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Um Entre Mil Perfumes
RomanceUma poção que exala um perfume floral, um cheiro comum, mas ao mesmo tempo único. Harry nunca poderia imaginar que de sua poção sairia um cheiro tão peculiar, ainda mais a quem ele pertencia. Poderia ser qualquer perfume entre mil ou até milhões, mu...