Se Você Me Ouvisse

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Naquela segunda-feira nada de muito emocionante acontecera. Miller havia voltado ao "normal" e nem um comentário sobre o dia de sábado era ouvido entre o grupo de amigos. Claro que as coisas não eram totalmente como antes, mas talvez não fosse uma mudança ruim. Harry estava conversando mais com Arthur e descobrindo que o garoto era realmente uma pessoa legal e que, surpreendentemente, sabia de sua paixão por Draco, realmente não sabia como Miller conseguia descobrir tudo.

Ficou positivamente chocado quando o corvino não se demonstrou irritado por isso, e sim determinado a ajudar, o que era impressionante devido ao jeito que Harry o tratou no início. Realmente Arthur estava disposto a ajudar, mas não por causa de Potter e sim de Draco, queria ver o garoto feliz mesmo que não fosse com ele, e se isso implicava ajudar Harry a finalmente tomar alguma atitude não via problema em dar uma mãozinha. Sabia que o grifinório era bem lento e, apesar de sua casa, levemente medroso, precisaria de muita ajuda.

MacGyver ria internamente sempre que Potter tentava dar dicas de como se aproximar de Arthur, era realmente uma cena engraçada. Claro que Alex tinha seus próprios meios, mas ainda se chateava quando via o jeito com que Miller encarava Malfoy de vez em quando. Era obvio que ele não superaria tão rápido, ainda mais um relacionamento que apesar de curto significou muito, mas mesmo sabendo disso não era obrigado a achar a cena agradável. Ouvir os desabafos de Arthur sobre isso era ainda pior, temia que o garoto nunca falasse assim dele, que nunca o visse daquela forma, mas fazia de tudo para esconder sua mágoa e ajudar o amigo com conselhos e palavras reconfortantes.

Já Dominic ainda sofria catando as migalhas da pouca atenção que Taylor lhe dava. Àquele ponto já não aguentava mais, fazia tudo e mais um pouco para a garota e em troca recebia xingamentos e palavras frias. Queria que ela o ouvisse, mas parecia impossível. Tentava escutar os conselhos de Arthur e "investir" em outras pessoas, mas ninguém lhe interessava além de Alice, parecia até mesmo um feitiço.

Era nisso que pensava naquela tarde, sentado à sombra da árvore favorita de Miller com o garoto lendo em silêncio ao seu lado. Olhava as águas refletindo a imagem do castelo, imaginado as águas profundas como as águas que o afundavam em seus pensamentos melancólicos. Água fria e negra, sem qualquer luz que indicasse uma saída.

Suspirou, tinha que fazer algo, colocar os papéis na mesa e resolver esse assunto logo de uma vez, talvez isso o ajudasse a seguir em frente. Pegou um pergaminho e uma pena em sua bolça, teria que escrever aquele bilhete em algum momento, melhor que fosse logo.

Me encontre na Sala Precisa depois do jantar.

D.W.

Assim que escreveu o direto bilhete o enviou com um feitiço e suspirou novamente. Estava com medo, muito medo, talvez não estivesse pronto para o choque de realidade definitivo que provavelmente teria aquela noite, temia por fim se afogar no lago de sua mente, mas tinha que arriscar.

Cutucou o braço de Arthur, que desviou sua atenção do livro de Artes das Trevas Avançadas para o amigo ao seu lado.

_ Vou falar com ela essa noite.

Disse não para inteirar o amigo dos fatos, e sim para avisá-lo caso precisasse de consolo e muito chocolate no meio da madrugada. Miller apenas assentiu, já pensava em preparar um colchão em seu quarto, quando Dominic ficava chateado não gostava de dormir sozinho. Sempre havia sido assim, algo acontecia na vida do lufano, como foi o caso da morte de seu pai, e ele ia correndo para dentro da Mansão Miller se esconder e chorar nos braços do melhor amigo.

Os dois eram quase irmãos, desde que se entendiam por gente eram melhores amigos, inseparáveis, unha e carne. Assim como a Mansão Miller era como uma segunda casa para White, o Casarão White era para Arthur. Suas mães também sendo grandes amigas ajudaram bastante nessa proximidade. Era como se estivessem na mente um do outro, as vezes nem precisavam falar para se entenderem. E era por conta de toda essa proximidade e irmandade que Miller se preocupava com o que poderia acontecer durante àquela conversa, não queria ver seu irmão chateado.

O jantar havia acabado, Dominic andava com relutância até o local combinado. Suas mãos tremiam e sentia o suor escorrer frio por sua testa, tinha que confessar, estava morrendo de medo. Andou em frente a parede até a porta aparecer e adentrou o local. A sala estava pequena e aconchegante, apenas uma mesinha redonda, duas poltronas e uma lareira adornavam o lugar, um pequeno jogo de chá e um prato com biscoitos acima da mesa e a lareira já acesa. A sala ainda estava vazia, o que foi um alívio, pelo menos teria um tempo para se recompor o máximo que conseguisse.

Se sentou na poltrona mais próxima a lareira, que ficava virada para a porta, e serviu um pouco de chá nas duas pequenas xícaras. Esperou por uns 20 minutos, que pareceram uma eternidade, já temendo ter levado um bolo. Estava quase indo embora e deixando o chá já frio para trás quando a porta se abriu. Não pode evitar o sorriso ao ver Alice se aproximar já sem seu uniforme, vestida em um vestido rosa simples e um salto, pouco mais baixo que seu usual tamanco, branco.

A garota se sentou na poltrona amarelada vazia e o olhou com seriedade.

_ Sobre o que quer tratar, White?

Aquele tom formal não era o que queria ouvir, ele apenas aumentava sua certeza já bem absoluta de que seria rejeitado cruelmente e chutado para fora.

_ Eu... Queria falar sobre nós. Quero dizer, sobre meus sentimentos por você, e antes que diga qualquer coisa queria que me escutasse. Se você me ouvisse, Alice, pelo menos uma vez, entenderia a profundidade desses sentimentos. Eu te conheço, sei sobre seus receios, mas eu posso afirmar com veemência que o que eu sinto por você é verdadeiro e não vai acabar assim de um hora pra outra, eu nunca faria nada pra de machucar, só queria uma chance de provar isso, é só isso que te peço, Alice, uma chance.

Disse tudo de uma vez, se ficasse enrolando perderia a coragem. A sua frente Taylor permanecia chocada, os olhos pequenos levemente arregalados e a boca entreaberta, não sabia o que dizer. Queria dar uma chance a Dominic, e sabia Merlin como queria, mas tinha medo, medo demais, de ser magoada e de magoar. Um relacionamento, seja ele qual for, sempre vai exigir responsabilidade, e lidar com não apenas os seus sentimentos como os de outra pessoa também deixava as coisas tão complicadas. Por que as coisas tinham que ser sempre tão complicadas?

"Não tem", pensou ao finalmente chegar a uma conclusão. Estava na hora de parar de fugir, abandonar o espírito de gambá e finalmente ir atrás de algo que sabia que a faria feliz, tinha que tentar. Com isso em mente se levantou e andou em direção ao garoto confuso, se abaixou a altura de sua poltrona e o beijou.

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