Torturante

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Era torturante, para dizer o mínimo. Harry observava de longe enquanto Malfoy corria para os braços do apanhador da Corvinal, que havia acabado de levar sua casa a vitória. Um mês foi o bastante para que a notícia daquele namoro surpreendente se espalhasse por toda a escola, tornando aquela cena nada mais do que uma fofa demonstração de carinho, mas para Potter aquilo lhe corroía mais do que qualquer ácido.

Se imaginou por um momento no lugar daquele corvino sortudo, se recriminando por ter enrolado tanto, havia perdido Draco por causa de sua própria burrice, onde estava toda sua coragem Grifinória quando precisou dela? Parecia um castigo pela sua covardia ver o sonserino beijar apaixonadamente o apanhador, que o levantava em seu colo sorrindo entre os beijos. Mal sabia Potter que por trás dos olhos fechados em aparente alegria Malfoy não conseguia pensar em nada além de olhos esmeralda se recriminando por enganar tão descaradamente Arthur, que tinha sido mais do que amável durante todo o mês.

O garoto, apesar das aparências, era romântico e não economizava esforços em criar encontros maravilhosos, mas mesmo assim sempre que fechava os olhos se via pensando em Potter e quando os abria novamente vendo Miller a sua frente não podia evitar suspiros frustrados, que obviamente não passavam despercebidos para o corvino observador.

De início Arthur pensou que aquilo não o afetaria tanto, sabia que conquistar o sonserino não seria fácil, mas não contava com o fator de ser impossível, por mais que tentasse continuava notando o distanciamento, os pensamentos perdidos e sua insistente mania de não olhar Miller nos olhos. Sabia que era só questão de tempo para a grande ilusão que aquele mês havia sido acabar, e diferente de todos os seus outros términos, com garotos e garotas, sentia que esse doeria, e doeria muito.

Em uma tarde de sábado se encontrava sentado em um dos bancos, próximo as tulipas, com Dominic ao seu lado. Os dois observavam o movimento pequeno de alunos que passava por ali em um silencio agradável. Quase 11 anos de amizade havia lhes ensinado o valor de apenas curtir a presença um do outro, sem necessariamente terem que conversar. Apesar de querer continuar naquele silencio confortável sabia que White estava louco para perguntar, a maldita pergunta que realmente não queria responder.

_ Como vão as coisas com ele?

Veio a pergunta. Teve que suspirar algumas vezes antes de responder, estava com medo de colocar em palavras o que sabia e tornar aquela verdade ainda mais real.

_ À primeira vista, uma maravilha, mas...

_ Mas...?

_ Não vai durar muito tempo, sei que ele é apaixonado por outra pessoa, acho que não passa dessa semana.

Completou tentando segurar seu tom indiferente, mas para Dominic, que o conhecia quase tão bem quando a si próprio, era evidente a tristeza em suas palavras.

_ Sinto muito, Art, sei que gosta dele.

_ Pelo menos finalmente consegui sentir alguma coisa, um sentimento real.

White se limitou a apenas colocar uma das mãos sobre o ombro do amigo, sabia que nada que dissesse faria uma real diferença, por isso imaginou que apoio silencioso seria bem melhor.

Arthur finalmente abriu os olhos, se arrependendo amargamente de o ter feito. Um pouco mais a frente um Draco animado, com um brilho inconfundível nos olhos, conversava com um Potter igualmente animado, era visível a química ali. Já havia visto cenas semelhantes ao decorrer daquele mês, e chegado à conclusão dolorosa de a quem pertencia o coração do loiro. Mesmo tendo contemplado aquela cena diversas vezes por algum motivo aquela foi bem mais dolorosa, como um choque de realidade, torturante.

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