DADDY'S DARLING ↯ noart

103 | casar.

Noah.

Considerei esse jogo o mais difícil de toda a minha carreira. Eu era um rato perto daqueles jogadores monstruosos. Vi o título da temporada passar diante dos meus olhos, mas como sempre, no final consegui fazer um touchdown e garantimos a vaga.

Hoje teríamos mais uma festa, dessa vez na casa do Samuel. Eu queria muito estar nesse momento com a Sina, mas isso era impossível, então não havia problema algum em sair para me distrair um pouco e tirar esse peso que estava carregando dentro de mim.

Tomei um banho e resolvi vestir um conjunto de moletom, não estava com clima para me arrumar.

Caminhei pelos grandes corredores do estádio até o estacionamento e desbloqueei meu celular, abrindo o Twitter para postar algo e agradecer pela torcida calorosa de hoje.

— Noah. — Levantei a cabeça ao ouvir alguém me chamar e ao ver quem era, senti minhas pernas fraquejarem.

— Oi. — Respondi sem jeito. Sebastian me analisou dos pés a cabeça e eu já estava esperando pelo pior.

— Parabéns pela partida de hoje, você foi foda! — Ele me puxou para um abraço e mesmo sem jeito, retribuí.

— Não vou mentir, foi difícil e eu realmente não esperava a vitória. — Bloqueei a tela do meu celular e o guardei no bolso.

— Eu confio no meu rapaz, sei que ele é bom e sabe o que faz. — Me abraçou pelos ombros e me apertou com certa força. — Vão sair para comemorar hoje? — Sebastian analisava atentamente cada movimento que eu fazia e aquilo estava me deixando nervoso.

— Ah, vamos beber um pouco na casa do Samuel, mas eu não pretendo demorar muito. — Passamos pela porta de saída e viramos para o lado do estacionamento.

— Muitas mulheres, ein? Sei que você gosta de ter uma ao seu lado depois de um jogo. — Engoli em seco. Só podia ser brincadeira o que ele tinha falado.

— Na verdade, não. — Coloquei as mãos dentro do bolso do moletom. — Estou feliz como estou.

— Oh, não precisa mentir para o seu empresário. — Ele deu um sorriso falso com os olhos semicerrados. — Conheço o seu histórico.

— Eu mudei, Sebastian. — Respondi, ríspido.

— Foi mesmo? — Ele sorriu debochando. Cerrei os punhos escondidos dentro do bolso para não socar sua cara.

— Uma mulher incrível entrou na minha vida e me fez perceber que a felicidade mesmo é ao lado dela, e não ao lado de pessoas e coisas fúteis. — Sorri da mesma forma que ele.

— Espero que vocês sejam felizes juntos. — Apertei os dentes com o máximo de força possível. Ele estava fazendo aquilo de propósito.

— E vamos ser. Nada nem ninguém será capaz de atrapalhar a nossa felicidade e é isso que importa. — Paramos em frente ao meu carro e ficamos nos encarando por alguns segundos.

— E quando pretende apresentá-la para o seu amigo aqui? — Seu olhar era escuro de raiva, assim como o meu.

Foi aqui que eu percebi que a nossa relação não seria mais a mesma. Era impossível separar o pessoal do profissional nessa situação.

— Em breve o mundo vai conhecer o rosto do meu amor. — Dei uma piscadela. — Aliás, como Sina está?

— Oh, Sina, minha filha? — Ele fingiu surpresa. — Está ótima. Teve alguns problemas pessoais com uma pessoa que implantou uma semente do mal em sua cabeça, mas não vem ao caso, já dei um jeito nisso. — Ele estava se referindo a mim. Disse que eu implantei uma semente do mal em sua cabeça.

Quem nos visse assim, sorrindo um para o outro, de longe, diria sem dúvidas que estávamos tendo uma conversa amigável. Soava até engraçado chamar isso daqui de amigável, quando na verdade nós queríamos fazer o que amigos não fazem. Socar o outro até sangrar.

— Que bom, diga a ela que mandei um abraço e pergunte quando vamos nos ver. — Sebastian sorriu e passou a mão pelos cabelos.

— Claro, passarei sim o seu recado. — Sorriu sarcástico. — Mas quanto a parte de vocês se encontrarem... Creio que não seja possível fazer isso acontecer no momento.

— Por quê? — Enruguei a testa.

— Sina está muito feliz pois vai se casar com o filho de um grande amigo meu. — Senti o meu coração parar de bater por alguns segundos e a minha boca secar. Não consegui disfarçar minha cara de desespero e Sebastian pareceu se divertir com a minha reação.

— Casar? — De repente senti aquelas roupas me sufocarem.

— Sim. Sina sempre achou o homem incrível, e eu pensei, por que não juntar os dois? Foram feitos um para o outro. Decidiram que querem logo se casar e formar uma família.

— Diga a ela que desejo muitas felicidades. — Minha voz saiu trêmula.

— Direi sim. — Ele bateu no meu ombro e se afastou. — Ah, Noah — Me olhou por cima do ombro —, creio que o convite chega em sua casa em um mês. Tenha uma boa noite. — Voltou a caminhar para longe, me deixando ali sozinho e sem chão.

Sina, a minha Sina, a mulher que eu amo, iria se casar.

Entrei no carro e em silêncio dirigi pelas ruas da cidade, pensando naquela frase que ecoava em minha mente. "Sina está muito feliz pois vai se casar". Sina me amava, isso não fazia sentido algum.

Mal tive tempo de chegar em casa e me joguei no sofá, sentindo lágrimas rolarem em meu rosto por uma velocidade absurda.

Não era possível. Hoje mesmo em carta Sina tinha me dito que me amava e agora eu ficava sabendo que iria se casar. Então ela esteve me enganando o tempo todo? Ou...

Não. Seu pai não teria coragem de fazer isso.

Ele não poderia ter submetido a própria filha a um casamento só por causa disso. Ele, mais uma vez, estava tratando Sina como uma marionete.

Agora, mais do que nunca eu queria descobrir o que tinha acontecido de uma vez por todas e salvar Sina daquele inferno que chamavam de Mansão Deinert.