79 | ninguém manda no coração.

4.4K 432 782
                                    

Sina.

Eu tive o final de semana de aniversário mais incrível da minha vida. Disso eu não tinha dúvidas.

Todos os anos, meus aniversário eram em casa, em um jantar com os meus pais e meus familiares. A festa acabava sendo mais para eles do que para mim. Eu não sabia o que tinha acontecido dessa vez, mas meu pai autorizou eu viajar com os meus amigos. Talvez até ele estivesse de saco cheio daquela farsa toda.

E precisava admitir que estava completamente confusa em relação a Noah e Even. Eu amava Even desde os meus dezessete anos, desde o dia em que pus os pés na faculdade. Sempre admirei de longe o homem que ele era, e quando começamos a nos aproximar eu me encantei ainda mais e senti esse amor ficar cada mais forte.

Mas, nos últimos dias Even tem se mostrado alguém que eu jamais imaginaria que ele pudesse ser. Eu entendia em partes ele sentir ciúmes do Noah, mas nós não tínhamos nada fixo por agora e eu não podia dar continuidade com Noah por causa da regra do meu pai. Já tinha explicado a Even toda a situação, tinha explicado que no final eu seria dele, mas o mesmo não pareceu entender isso muito bem. Se ele se sentia tão intimidado por Noah, por que não me pedia logo em namoro? Era isso que eu não entendia.

Estava revendo todo o meu conceito em relação a Even depois daquele final de semana.

Noah estava se mostrando uma pessoa completamente diferente e isso mexia com o meu interior. Eu sabia, era completamente errado, mas ninguém manda no coração. O que eu podia fazer se a química entre nós dois era forte e a atração que sentíamos um pelo outro era sufocante?

O que eu podia fazer se Noah Urrea era um homem incrível e conseguiu se infiltrar na minha mente?

Hoje, sábado, uma semana depois do meu aniversário, Even criou vergonha na cara e resolveu parar de se fazer de difícil e conversar comigo.

Fomos para a faculdade fazer uma prova extra de Urbanismo III e ele disse que queria esclarecer algumas coisas. Esperava que ele tivesse percebido quão infantil sua atitude foi de sequer me desejar parabéns por puro ciúmes. Queria me acertar com Even para que as coisas voltassem a ser como antes. Eu sentia a sua falta, mais do que deveria.

Caminhei até o banco do bosque, onde tínhamos marcado de conversar. Minhas mãos estavam transpirando de nervoso e senti minhas pernas fraquejarem à medida que eu me aproximava dele. Eu ainda o amava e toda aquela situação estava me maltratando.

— Oi, Even. — Disse assim que me sentei ao seu lado. Tentei beijar o seu rosto, mas ele se afastou desviando. Por que eu sentia que aquela não seria uma conversa amigável?

— Oi. — Respondeu rapidamente. Analisei o seu rosto enquanto ele se manteve encarando o chão.

— Sobre o que você queria conversar?
— Resolvi ser direta para que a conversa acabasse antes que esse clima tenso me matasse.

Ele me olhou apenas com o canto dos olhos e respondeu:

— Como foi o seu final de semana?

— Foi bom, mas teria sido melhor se você estivesse lá. — Admiti.

— Eu não iria dividir o mesmo ambiente com aquele idiota. — Enruguei a testa, confusa.

— Eu não acredito que você não foi por causa do Noah! — Ri desacreditada. — Even, e a consideração por mim? Pensei que eu fosse importante na sua vida.

— E é. — Ele finalmente me olhou nos olhos. — Mas você queria que eu ficasse presenciando aquele idiota te devorando com os olhos e tentando te roubar de mim?

— Muito infantil da sua parte. Você sabe que nós dois não podemos ficar juntos, sabe que no final de tudo quem vai estar ao meu lado é você. — Percebi que alterei o meu tom de voz e contei até dez, tentando manter a calma.

— No final, mas e agora? E agora, Sina? — Vi uma veia se dilatar em sua testa. Senti meus olhos arderem, mas eu não iria dar esse gostinho de me ver chorando a ninguém. — Eu sou obrigado a te ver com outro homem sabendo que você é apaixonada por mim? Você pensou em mim? No que eu iria sentir quando te visse com outro? Não pensou em um segundo sequer?

— Não acredito que você está falando uma besteira dessas. Você quer cobrar algo de mim que você mesmo não me deu? — Ri sem humor e massageei minhas têmporas. — Se você estivesse lá, claro que eu ficaria com você, Even! Você é prioridade na minha vida! — Me virei de lado no banco e fiquei de frente para ele. — Será que poderia ser um pouco menos orgulhoso e tentar ouvir o meu lado pelo menos dessa vez?

— Por que eu não consigo sentir verdade em suas palavras?

— Você sequer se esforça para isso. — Falei um pouco mais baixo e dei de ombros.

— Me diga, Sina. Vocês ficaram juntos lá? Vocês se beijaram? — Even perguntou e eu senti minha garganta fechar. Eu não teria como mentir. Não poderia esconder isso, mas não tinha forças para olhar em seus olhos e dizer que sim, por isso me virei outra vez e encarei a grama fazendo cócegas na minha sapatilha. Eu estava sendo covarde. Ele riu e cerrou os punhos, acertando um soco na madeira. — Eu deveria imaginar. Eu deveria saber que não poderia confiar nas suas palavras, Sina.

— Por que você não me deixa explicar? — Tentei segurar em sua mão, mas ele se afastou de mim. Meu coração doía a cada palavra despejada em mim por ele.

— Me explicar o quê? Que o beijou sem querer ou algo do tipo? — Debochou.

— Mas que inferno, Even! — Gritei e ele me olhou assustado. — Eu te amo para um caralho, sempre te amei e você sabe disso, nunca precisei esconder. Mas...

— Mas o quê? — Ele me cortou e o seu tom de voz era assustador.

— Mas eu não sei explicar como me sinto em relação ao Noah. — Fechei os olhos e senti os mesmos ardendo cada vez mais. — Diferente de você, Noah não vem me decepcionando nem me tratando como um lixo.

— Ele só te trata assim porque quer te comer, Sina! Acorda! — Segurou em meus ombros e me chacoalhou. — Você conhece a fama desse Noah Urrea e mesmo assim caiu no papinho dele.

— Assim como foi com você, que conseguiu o que queria e agora me trata desse jeito. — Cuspi e ele enrugou a testa. — Noah mudou, eu te garanto.

— Você tem noção do que está fazendo? Defendendo o cara que está disputando você comigo na minha frente? — Ele tentou se defender mas a sua fala foi um tanto nojenta.

— Agora eu sou troféu para ser disputada? — Me levantei do banco e cocei a cabeça, ainda tentando processar a informação de que Even me objetificou.

Ele se levantou também e veio até a minha frente, me agarrando pelos pulsos e me puxando para perto. Levantei o rosto e olhei dentro dos seus olhos, escurecidos pela raiva.

— Foda-se! — Ele gritou outra vez e eu me senti uma merda. — Se você me ama mesmo como diz, afaste-se desse homem e fique comigo. Prove. Me convença com atitudes. Você é uma mentirosa e aproveitadora de primeira. — Ele me soltou e girou em seus calcanhares, caminhando para longe de mim, me deixando ali, sozinha e humilhada.

Eu não estava acreditando que ele estava fazendo isso. Eu não estava acreditando que ele não confiava em mim.

Toda aquela minha felicidade foi embora por causa de uma conversa de cinco minutos. Even tinha conseguido acabar com o meu dia apenas com poucas palavras.

Me sentia enganada e decepcionada a cada dia que se passava e agora eu conhecia o lado possessivo e estúpido dele. Eu queria que tudo estivesse como era antes.

Agora que estava sozinha, me permiti chorar e tirar aquela dor de dentro de mim. Andei o mais rápido possível para o carro e quando entrei no mesmo, encostei a cabeça no volante e desabei em mais lágrimas, sentindo meu coração arder de tristeza.

Como eu queria que Noah estivesse aqui comigo como daquela outra vez. Queria ter ele me consolando e me dizendo palavras bonitas, me mostrando que eu era melhor do que isso. Queria sentir seus lábios nos meus e seus abraços me acalentando.

Queria que a droga daquela regra idiota não existisse.

DADDY'S DARLING ↯ noartOnde histórias criam vida. Descubra agora