02 | queridinha do papai.

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Sina.

Eu não estava acreditando nisso. O jogador que tinha salvado minha equipe nas últimas partidas estava ali na minha frente, sem aquelas roupas estranhas ou aquele capacete. Era Noah Urrea sendo apenas Noah Urrea.
Ele era ainda mais bonito pessoalmente e aparentava ser mais jovem. Qual é, Sina Deinert? Ele só era alguns meses mais velho do que você. Queria ter gritado e dito o quão bom ele era e o quão grata eu estava por tudo o que ele tinha feito pelo LA Rams, mas apenas continuei parada e sorri.

— É um prazer conhecê-la, Sina. Seu pai fala muito bem de você. — Marco Urrea me puxou para um abraço caloroso e eu retribuí. — Sou o pai do Noah, mas isso já deve ser óbvio. — Ri sem mostrar os dentes.

— Sou Joseph, irei auxiliar seu pai. É uma honra conhecer a herdeira da família. — O abracei também mas rapidamente me soltei.

Esperei Noah se levantar e se apresentar também, mas ele permaneceu sentado e me observando.

— E esse é o Noah Urrea, mas você já deve conhecê-lo. — Assenti com a cabeça. — Noah, essa é a minha filhinha que eu falei para você.

— É um prazer conhecê-la, Sina. — Ele apenas acenou com a cabeça e riu. Senti todos os pêlos do meu corpo se arrepiarem ao ouvir sua voz. Sempre ouvia pela televisão, mas ouvir pessoalmente era diferente. Sua voz era arrastada e um tanto sensual. Noah me analisou dos pés a cabeça e passou a língua pelos lábios, dando um risinho de lado e fazendo minha pele queimar.

— O mesmo, Noah. — Respondi baixo e saí dali antes que a situação ficasse mais constrangedora.

• • • •

A festa estava um porre, as conversas já não interessavam mais, por isso fui para a cozinha e me sentei em uma banqueta perto da mesa de salgadinhos, servi um grande copo de refrigerante e comecei a comer tudo sem pudor.

Nesse meio tempo não consegui mais ver Noah naquela multidão, e para falar a verdade, nem queria. Aquele olhar sujo que ele me deu me enojou e esperava que ele nunca mais dirigisse o olhar a mim. Não era nenhuma santa, mas sabia perceber quando um homem me olhava interessado e quando um homem me olhava faminto. Eu não era um objeto ou um pedaço de carne.

Fiz um pratinho com alguns salgados, enchi mais um pouco o meu copo e fui até o meu pai. Menti para ele que estava cansada e que iria subir para o quarto, mas na verdade saí pela porta dos fundos e andei até o jardim.

Tirei aqueles saltos esmagadores que estavam me torturando, fiz um coque com o meu próprio cabelo, coloquei o prato de salgados no meu colo e voltei a comer, apreciando o som das árvores chacoalhando com o vento frio que batia. Ouvi uma movimentação estranha perto de mim, mas resolvi ignorar, não corria perigo, e mesmo que corresse eu sabia muito bem me defender.

— Olha se não é a queridinha do papai. — Me virei assustada e vi que era Noah. Ele se aproximou de mim e se sentou no banco ao meu lado.

— Como? — Virei o rosto e avaliei sua feição. Noah tinha um sorriso sacana no canto dos lábios e aquele seu cabelo bagunçado dava mais intensidade ao que ele queria transmitir.

— Isso mesmo que você ouviu. Seu pai não te chama de "queridinha"? — Estreitei meus olhos e voltei minha atenção para os salgados que iriam ficar frios a qualquer momento.

— Ele só tem uma filha, então deduzo que seja eu mesma. — Dei de ombros e levei uma bolinha de queijo até a boca.

— Pensei que menininhas do papai tivessem modos. — Revirei os olhos ao ouvir seu comentário. Como poderia ser tão idiota?

— Eu tenho modos. — Fiz uma pausa. — Com quem merece.

— Desculpa, desculpa. Só estou de saco cheio disso daqui. — Ele se referiu a festa.

— Dois. Eu sinto que o meu pai fez essa festa mais para ele do que para você.

— Esse é o ponto! — Ele disse animado. — Eu queria estar comemorando numa casa noturna, e não aqui, empacotado nesse terno bebendo uísque com um monte de velho.

— É bem a sua cara mesmo. — O alfinetei. Noah era bem expressivo, consegui ver em seu rosto que ele não tinha entendido o que eu havia falado. — Comemorar em festas rodeado de putas.

— Você não sabe nada sobre mim, como pode ter tanta certeza no que diz? — Ri sem humor. Noah analisava cada movimento que eu fazia e eu queria entender o que se passava dentro de sua mente.

— É o que a mídia diz. — Dei de ombros e levei mais um salgado até a boca. Noah se aproximou mais de mim e roubou um pastel do meu prato. — Ei! É o meu salgado! — Dei um tapa em seu braço e ele gemeu, alisando a região.

— Deixa de ser gulosa. Seu papai vai ficar muito decepcionado se a filhinha dele não comer como uma dama. — Debochou. Revirei os olhos e acertei outro tapa em seu braço.

— Foda-se o que o meu pai pensa. — A esse momento eu já tinha perdido o resto da minha paciência com Noah. Tentava ignorá-lo, mas era quase impossível ignorar aquela figura ao meu lado.

— Crianças não falam palavrões. — A vontade era de socar aquele rostinho lindo, mas ele iria me processar e o meu pai iria me bater. Respirei fundo e olhei para ele outra vez. Seus braços descansavam atrás da cabeça e ele sustentava aquele sorriso sacana nos lábios.

— Quem disse que eu sou criança? — Arqueei a sobrancelha. — Tenho a porra de dezenove anos.

Noah me olhou assustado e me olhou dos pés a cabeça outra vez. Virei meu rosto para o outro lado para que ele não pudesse ver que o meu rosto tinha ficado vermelho outra vez.

— Dezenove é uma criança que não fala palavrões e não bebe. — Tomei coragem e olhei dentro de seus olhos outra vez e ele mordeu o lábio inferior.

— Faço vinte em algumas semanas, seu idiota. Pare de me tratar assim. — Já impaciente, levei outra bolinha de queijo até a boca e até conseguia ouvir o barulho que os meus dentes faziam ao triturá-la, de tanta força que eu aplicava.

— E daí que você vai fazer vinte? Você uma vida cheia de frescuras e com certeza não viveu nada do que uma pessoa da nossa idade vive.

— Já aproveitei mais do que você imagina. — Disse naturalmente e vi ele fechar o rosto irritado. Sorri por ter conseguido isso. — Claro, não foi com prostitutas em puteiros, mas foi do jeitinho que eu queria e estou bem assim.

— Você é muito rebelde para quem é filhinha do papai. — Ele disse entredentes. Vi seu punho fechar do outro lado e segurei um riso. Ele estava muito irritado.

— E você é insuportável. Não vou ficar aqui trocando farpas com alguém tão irritante como você. Boa noite e passar bem. — Me levantei e apanhei meu calçado do chão, voltando para dentro de casa e subindo rapidamente as escadas até o meu quarto.

Quem diria que Noah Urrea seria tão chato? Já tinha visto que sua maturidade existia apenas dentro da campo. Fora ele parecia um adolescente que só pensava em sexo e bebidas.

Tomei um banho e tirei aquela maquiagem do rosto, sentindo minha pele gritar de alívio. Vesti um pijama confortável e me deitei na cama, tentando dormir em seguida, mas sem sucesso.

Aquela conversa com o Noah tinha mexido comigo, mas não sabia se era de uma boa forma. Aquelas palavras ditas por ele, ele me chamando de "queridinha do papai" me intrigavam.  Eu era a filha única do meu pai, então era óbvio que eu era a queridinha dele. Mas por que aquilo o incomodava e por que tinha usado aquilo num tom de deboche? Por que eu senti que esse meu jeito sereno o tinha incomodado de alguma forma?

Por que absolutamente tudo naquele homem havia me incomodado de uma maneira que eu não tinha gostado?

DADDY'S DARLING ↯ noartOnde histórias criam vida. Descubra agora