Todas as suas imperfeições

q u a t r o

Chaos

🥀

No mundo existem pessoas que vivem intensamente mas em contra partida existem pessoas que sobrevivem a cada dia, alguns não sabem a diferença entre esses dois fatores, mas eu os conhecia bem.

A Crystal de antes tinha a idéia de um mundo igualitário e perfeccionista, ela possuía em seus lábios sorrisos carismáticos e estonteantes, um brilho próprio, se a perguntassem o que ela mais gostava, sua reposta seria certamente fazer as pessoas sorriem.

A minha nova versão deixa tudo para trás, a luz que havia se apagou, a essência pura e ingênua se dissipou pelo ar.

As gotículas de água caiam vagamente do meu rosto, tudo parecia está lento e silencioso, desligo o telefone sentindo uma parte minha se desesperar para fugir, em frações de segundo volto em um tempo horripilante, volto a dias contínuos de dor.

Eu sempre fui a filha perfeita, a mais obediente, inteligente e focada, Katherine e Ethan Walker cobravam a magnitude, em passos lentos eles me conduziram a uma dança mortal, os vestidos caros e os sapatos apertados, o cabelo sempre arrumado e a proibição de dizer seus pensamentos.

Eu tinha uma voz mas ela sumiu gradativamente a medida que eles queriam a mais alta nota, o ritmo se apressou e fui jogada sobre um precipício, eles me moldaram e agulhas invisíveis eram jogadas contra mim, não houve uma escapatória, nunca existiu uma saída, mesmo após lágrimas derramadas e a súplica carregada em meus olhos, ao final do dia ainda éramos a família perfeita.

Quando me perdi no abismo de mentiras e tomei sem ao menos perceber o veneno de suas palavras, já era tarde demais.

A partir dali fui carregada pelo fraco sopro de sobrevivência e cada dia havia se tornado uma batalha contra mim mesma, pois restava apenas uma linha tênue entre a morte e o medo.

Meus pés sentiam o contato entre o gélido chão e minha pele, meus dedos tremiam com a imensa vontade de me jogar em meu vício, mas eu não poderia continuar achando que esqueceria de tudo e entraria em um mundo completamente diferente.

Pensei em ligar para Erick, havia dias em que eu não ia ao grupo.

"Eyes of hope" era um pequeno grupo que juntava jovens sem esperança em suas vidas, no início quando Susan me apresentou, achei que não era necessário, eu poderia lidar com tudo aquilo sozinha, mas após ver que as vezes é bom procurar ajuda, não vi escolha e fui.

Erick Jones, nosso terapeuta, fazia com que nossas mentes achassem saídas em meio ao caos, ele não nos forçava a contar tudo, suas brincadeiras tinham o objetivo descontrair e fazer com que a pressão de nosso pensamentos seja liberta de forma espontânea.

Meu corpo se joga sobre a cama, a maciez me faz esquecer por um segundo o que estava acontecendo.

As vezes sentia que tudo em mim era uma explosão de sensações, meus passos eram tão inconstantes que a qualquer momento eu caria e não haveria ninguém ou algo para me levantar ou prestar ajuda.

A pálida lua era um reflexo dos meus mais sombrios pensamentos até aos quase escassos sorrisos, encaro o teto sem graça, era cômico a forma em como o ambiente se transformava ao está envolta sobre mim, tudo era tão melancólico e depreciativo.

─ Por que estou tão perdida?- minha voz sai como um eco no o quarto vazio.

Era um pergunta retórica, a resposta era óbvia e evidente aos olhares alheios.

─ Porque sou uma sobrevivente que escolheu se aliar junto a tristeza de sua mente.- em suspiros angustiados minhas palavras saem como perigosas adagas invisíveis jogadas contra mim.

Tentei ser otimista, as pessoas diziam que a vida não era injusta e que sonhos poderiam se realizar, forcei um sorriso, eu era boa nisso em ser apenas uma alma superficial.

(...)

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