Maria e Ravi

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“Oi, você está bem. Obrigado. E como está hoje?”
“Estou fora de casa, então não estou muito bem. E você?”
“Está doente? Ou só não gosta de estar longe de casa? Eu estou cheio de trabalho, parei agora para almoçar.”
“Eu tô sentada na calçada, cuidando dos meus livros.”
“Ah, há algo de errado com os livros para você estar sentada na calçada com eles?”
“Os livros estão bem. Meu pai decidiu pintar meu quarto e a minha mãe não queria que eles ficassem no meio do caminho, então eu os trouxe para fora. Coloquei em caixas na mala do carro do meu pai.”
“Entendi. Você tem tantos livros assim para incomodar no caminho? Você deve gostar mesmo de livros.”
“Eu gosto. Compro eles desde os oito anos de idade, então sim, são muitos. Mas talvez não incomodassem tanto, acho que minha mãe quer dar motivos para que eu me livre deles”
“Não vai se livrar deles, né? Já que gosta tanto.”
“Eu não quero, mas dá pena os ver parados. Eu não leio muito agora, então alguns não são abertos há, não sei, anos? Mas ainda assim eu não quero dar, eles são realmente importantes.”
“Se são importantes devem ser lidos, se você não pode ler, há alguém que pode. Você não precisa realmente doar. Isso soa como, lembra das locadoras de DVD? As, meu Deus, fitas cassete?”
“Isso definitivamente não é da sua época.”
“Claro que é. Eu assistia Rei Leão naquela fita cassete verde, senhorita. Passava horas na locadora escolhendo um novo filme pra assistir com meu pai nos fins de semana. Eu não sou tão novo assim.”
“Não sei, eu te imagino como um garotinho indiano magrela. Desculpa.”
“Errada você não está, sobre a parte do indiano magrela, mas eu sou de 96! Eu cheguei quando estava prestes a acabar, mas eu vivi o auge das locadoras, jogos com gráficos bizarros e computadores com monitores parecendo uma geladeira.”
“Eu adorava os jogos, minha mãe me deu um computador, mas meu pai não queria pagar a internet. No fim eu continuei com os livros.”
“Os livros sempre foram uma boa saída pra quando eu ficava de castigo e não podia ver TV ou jogar. Eu te entendo por esse lado. Mas, sabe, a ideia dos livros seria legal, tem tanta gente que gosta de livro físico, mas não pode comprar e tá com a vista cansada demais pra ler em pdf.”
“Eu entendi o que você quis dizer, estava realmente pensado sobre isso. Eu não me incomodo de emprestar. Mas assim, e se estragarem?”
“Pode acontecer. Mas não tinha alguma coisa que você podia pagar caso danificasse a fita? Ou o DVD? Isso não vai repor o valor sentimental do livro, mas pensando por outro lado você pode se manter segura para esses casos, que bem, podem também ser isolados se a gente for levar em consideração que quem estará 'alugando' provavelmente é apaixonado por livros como você.”
“Eu não sei como julgar esse tipo de coisa, e também não vou saber cobrar dinheiro das pessoas. Como uma agiota bibliotecária, sei lá. Mas eu gosto da ideia, quer dizer, eu fiz isso hoje, eu emprestei um livro. Não foi difícil, sabe? Também não foi simbólico, mas eu gostei.”
“Bem, eu imagino que não deva ser fácil. Mas eu vi meu pai fazer o restaurante dele, então posso te dizer que essa história de que boca a boca funciona não é mentira. Você não precisa necessariamente sair cobrando, você pode só comentar com algum vizinho, preferencialmente aqueles que gostam de espalhar novidades, se é que me entende, sobre essa ideia de 'alugar' livros por um valor acessível. Diz que pode ajudar nos estudos pro Enem, e mais mil maravilhas. Logo vai aparecer algum nerd ou um curioso, até chegar os apaixonados como você.”
“Eu realmente preciso de um dinheiro. E isso conta como buscar coisas novas, não é? Você acha que conta?”
“Com certeza. Isso é novo e legal. Eu alugaria um livro ou dois se pudesse.”
“Então eu vou tentar, preciso fazer uma ficha de controle, mas vou tentar. Espero que dê certo.”
“Ficha de controle, eu sou meio que especialista nisso, claro que são diferentes, mas eu acho que posso te ajudar, se você precisar.”
“Eu vou aceitar isso.”

Escrito por: LuaInAHoodie e Marveril

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