Quando saí da sala do Dr. Camilo estava com o celular em mãos, respondendo uma mensagem de Maria. Ponderei sobre contar que estava indo para o Rio e decidi fazer surpresa. Seria sim arriscado dizer “Oi, em duas horas eu estarei no Rio de Janeiro.”, mas eu pensei que poderia alcançá-la ainda assim caso ela resolvesse recuar alguns passos de novo. Apesar de que estávamos indo muito bem, a locadora de livros ou o “bebê negócio” dela estava lentamente aprendendo a engatinhar e eu tinha muita fé nela e em tudo o que ela ainda estava para conquistar, então eu também procurei não deixar que ela desanimasse.
Faltava poucos dias para a viagem, Dr. Camilo estava organizando tudo com o pessoal lá do Rio e por isso as coisas ficaram agitadas no zoológico, tínhamos que deixar tudo em ordem em São Paulo antes de sair, eu também não tive muito tempo para me sentir ansioso. Até porque eu também tinha muito o que resolver em casa antes de ir.
—Quer ajuda com a mala? —Tia Shanti bateu na porta do quarto.
Não era a minha mala, era a do papa. Concordamos que seria melhor ele ficar na casa do tio Indra essas semanas que eu estivesse fora.
—Acho que estou bem. —Olhei para a mala mais uma vez. —E não é muito longe então é só vir aqui caso ele precise de algo, não é? —Suspirei.
—Estava pensando de levar os lençóis dele, o travesseiro, tudo para ele se sentir confortável. —Ela disse e eu concordei. —Vou deixar anotado, assim não esquecemos de pegar isso no dia.
—Ele tá com insônia, se isso ajudar de alguma forma vai ser ótimo. —Ajeitei meu cabelo. —Tia Shanti?
—Sim?
—Ontem ele fez xixi na cama. Foi a primeira vez, quando se deu conta ele se assustou e ficou repetindo que não iria acontecer de novo, que eu não podia contar, mas... —Eu levantei o lençol e mostrei o plástico que coloquei no colchão. —Isso ajuda, eu tenho outro aqui, você pode levar.
—Tudo bem. —Ela segurou meu ombro. —Não se preocupe com seu pai, não tanto. A sua mala você já fez?
—Ah, não.
—Quer ajuda?
—Tudo bem. —Terminei de ajeitar as coisas de papa e peguei a minha mala. —Eu vou estar de uniforme enquanto trabalho e isso com certeza vai ser o que mais vou fazer. Mas, eu queria levar umas roupas legais, o que você acha dessa combinação aqui?
—É ótima, querido, mas aquele seu amigo Gabriel não disse que lá é bem quente? Não acha melhor levar algumas roupas mais frescas?
—Sim. O que acha dessas camisas? —Mostrei as melhores que tinha.
—Por que está tão preocupado com a roupa?
—Preocupado? —Senti meu rosto esquentar e desviei o olhar. —É que vamos ter alguns intervalos e eu pensei em passear.
—Claro, claro. Bem, essas roupas estão ótimas, você vai ficar bem em todas elas.
—E o cabelo? Quer dizer, eu não tenho como saber se tá realmente bom, eu gosto dele assim e pensar em cortar me dá um arrepio, mas está estranho? Ou grande demais? —Tirei o prendedor do meu pulso e simulei algumas formas que prendia o cabelo. —Quando eu prendo ele fica esquisito?
—Não, o seu cabelo é lindo! Nem pense em colocar a tesoura nele. —Ela franziu o cenho e se aproximou rindo. —Por que essa preocupação toda com sua aparência?
—Eu não quero parecer um estranho.
—Para quem? —Engoli em seco. —Certo, não precisa dizer, vamos terminar de arrumar tudo, sim?
Tia Shanti me ajudou com tudo naquela noite sem muitas perguntas, mesmo que estivesse curiosa. O ponto é que eu queria estar bem e com roupas marcantes, mas não extravagantes, algo que mostrasse quem sou, sem ser muito chocante ou entediante, eu queria ser notado pela Maria em qualquer lugar que fossemos nos encontrar e eu também queria passar uma boa impressão. E que ela se lembrasse de mim, o máximo que pudesse.
—Está tudo pronto? —Gabriel veio almoçar comigo no dia seguinte.
—Quase. —Eu balancei a cabeça.
—Está ansioso?
—Um pouco.
—Você não fala muito quando fica nervoso ou ansioso, imaginei que estivesse.
—Eu ainda não sei se devo ir. —Confesso.
—Se for por causa do seu pai...
—Eu sei. Vocês todos estarão aqui. —Revirei os olhos. —Mas vocês não são o filho dele. Quando eu precisei dele, ele sempre estava perto pra mim. Eu sei que estou sendo super protetor, talvez paranoico demais, mas sei lá, se eu for e acontecer algo vou ficar preocupado e se eu não for ele nunca vai me perdoar.
—Cara, eu entendi. E aposto que ele também. Não é como se fosse algo que estivesse totalmente no seu controle, faz a sua parte, nós estaremos aqui cumprindo com o prometido. —Gabriel bateu em meu ombro e olhou para o céu, aquele dia estava bonito e quente. —E a Maria?
—O que tem ela? —Tomei meu milkshake e desviei o olhar.
—Ela ficou animada? Odiou? Ela vai te esperar no aeroporto? Ao menos sabe que você tá indo?
—Eu preferi fazer segredo por enquanto.
—E por quê?
—Sei lá. —Não quis entrar no assunto, até porque nem sabia me explicar direito. —Eu só pensei que fosse uma boa ideia.
—Tá legal, você não quer falar sobre isso. Eu posso aceitar e meu coração continua aberto. Mas caso ela goste de ter você lá, pede pra ela te levar nos lugares legais, não só naqueles pontos onde todo mundo vai. Você vai gostar de lá, eu sei que vai.
—Tudo bem.
—E eu vou te mandar o endereço dos pais da Rafa, ela disse que se você precisar de alguma coisa pode procurá-los.
—Obrigado, mas eu espero não precisar.
—Não hesite se acontecer.
—Agora entende o lance de super proteção?
—Não é super proteção, cara, é só cuidado.
—Claro! —Rio, terminando o conteúdo no copo e o jogando na lixeira mais próxima. —Vamos, eu já estou atrasado.Escrito por: LuaInAHoodie e Marveril
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Posso Ver Você
عاطفيةRavi era a mistura da Índia com o Brasil. Vivendo em São Paulo, ele se formou para ser um bom médico veterinário, ajudava no restaurante da sua família e tinha hábitos saudáveis, além de um otimismo refrescante. Maria esteve desempregada por dois an...