Ravi

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Eu fiquei com o sofá cama, de qualquer maneira, nenhum de nós tinha muita privacidade e o sofá era confortável. Ariel e Dr. Camilo não sabiam cozinhar nada, eu fiquei encarregado das nossas refeições e o que eu aprendi passando minha infância no restaurante do papa me foi bem útil e acabou que logo na noite de segunda-feira, quando ninguém queria pedir comida, toda a equipe se reuniu no nosso apartamento para comer da minha comida.
O Rio era mesmo tremendamente quente, e abafado, em alguns momentos mais do que São Paulo, em outros nem tanto, era como se eu estivesse em casa. E o Centro de Recuperação onde estávamos trabalhando não era muito longe do apartamento, então a gente não tinha visto muito até então, mas num geral, com exceção de algumas ruas um tanto mais arborizadas e apesar do sotaque, o Rio não era tão diferente, pelo menos não ali onde eu estava o tempo todo.
Quanto aos animais, a maioria que eu estava lidando já era do antigo parque que havia ali, mas alguns eram novos e basicamente todos tinham algum tipo de trauma ou receio, o que os tornava ariscos e quando é com aves ou animais menores até que não é difícil de lidar, porque mesmo que eles me ataquem, eu consigo me defender e evitar me machucar sério ou ainda mais importante que o animal se machuque, mas quando são animais maiores, como felinos, elefantes, ou ursos, isso fica complicado. Dr. Camilo e eu estávamos cuidando mais de perto de uma leoa e de um elefante, ambos foram resgatados de um circo e os humanos antes de nós não os trataram bem, por isso eles nos viam como uma ameaça, para a leoa, qualquer ser do sexo masculino a tirava do sério, aliás.
Mas papa sempre disse que “um cão não ladra por valentia, e sim por medo”  então eu procurei me aproximar com cuidado, mostrando que não era uma ameaça, tornando minha presença segura. A ideia que tive de encenar estar ferido e com medo acabou funcionando e por algum motivo a leoa me deixou examiná-la no final da tarde de segunda-feira. E quanto ao elefante, eu consegui cativá-lo com música clássica tocando no mínimo.
Isso foi o tópico da noite durante o jantar e deu ideias aos outros para lidarem com os demais animais. Dr. Camilo me elogiou e eu liguei animado para contar ao meu pai, ele parecia bem, o que me deixou ainda mais animado.
Ele me disse para não me preocupar e contou que estava meditando todos os dias durante a manhã junto com o tio Indra e que isso o deixava melhor, também iria pescar no dia seguinte e isso encerrou a minha noite com chave de ouro.
Na manhã de terça-feira, um dia aceitavelmente quente, sem muito sol, eu me mantive ansioso, não só porque começamos finalmente a fazer progresso em nossos planos para ajudar os animais, mas também por conta do encontro com Maria.
Pedi ao Dr. Camilo, no final do dia para me liberar, isso deixou a equipe curiosa, porque todo mundo estava esperando que eu fizesse o jantar de novo. Eu expliquei que iria me encontrar a primeira vez com uma amiga e ele apenas me lembrou que eu precisava estar no Centro de Recuperação bem cedo e disse que iria levar todo mundo para jantar no fast food mais próximo, para que as atenções se desviassem de mim.
Eu cheguei no apartamento em cima da hora, tomei um banho e me arrumei atento aos detalhes, a gola da camisa, os botões, o lado que deixei o cabelo e tudo mais. Peguei o livro e coloquei em uma sacola de papel, saí faltando cinco minutos para a hora marcada e tratei de me apressar, seguindo o caminho até o ponto combinado.
A noite estava fresca, mas minha mão estava suando, sempre que uma garota se aproximava eu prendia a respiração, porque acabei percebendo que eu não sabia nada sobre como a Maria era e isso não importava, apenas naquele momento, porque eu queria muito que ela aparecesse e acabasse com aquela ansiedade me engolindo.
—Ravi?

Escrito por: LuaInAHoodie e Marveril

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