Capítulo 27

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"Tudo que começa com uma mentira, termina com uma decepção."
Josemar Bosi

Não existe mentira boa. Mentira é mentira, mesmo que maquiada de boa intenção. Ninguém deveria mentir "para o bem." Se, de fato, se importa com o bem-estar de outra pessoa, deve lhe dizer sempre a verdade, por pior que possa ser. Não são necessários jogos, manipulação ou meias-verdades com quem se ama, pois mentira nenhuma fica encoberta para sempre e, quanto mais o tempo passa, mais arraigado fica, tornando tudo mais doloroso na hora de arrancar o mal pela raíz.

Era nisso que Miguel acreditava, e foram essas palavras que disse à mãe quando a encontrou em sua casa.

— Eu tinha o direito de saber a verdade, mãe. — Não estava alterado. Havia tirado alguns momentos apenas para si, longe de tudo e todos para extravasar sua frustração ao saber a verdade, e quando finalmente foi ao encontro da mãe, já estava mais tranquilo, embora muito magoado. — Por que não foi sincera comigo?

— Eu queria vê-lo feliz. — Fungou.

— Olhe para mim — pediu tranquilamente, e assim ela o fez. — Eu pareço feliz nesse momento? — Mariângela voltou a chorar copiosamente.

— Eu só queria que você tivesse um pai, meu filho. — Ele riu sem emoção.

— Mãe, eu seria feliz tendo apenas você. Eu fui feliz tendo apenas você. Não tive um pai até meus doze anos e, acredite, me orgulho da sua garra por ter me criado sozinha em tempos tão difíceis. — A senhora passou as mãos sobre os olhos. — O que pretendia? Obrigá-lo a assumir um filho que não era dele?

— Não, é claro que não! Nunca cobrei nada do Cláudio. — Suspirou. — Nós quase nunca nos víamos porque eu não saía da casa de Suzana, estava sempre trabalhando ou ocupada com você. Tínhamos tudo o que precisávamos lá, então eu não precisava ficar saindo, por isso nos encontramos com Cláudio pouquíssimas vezes. Eu só queria que você tivesse um nome, alguém para chamar de pai quando algum de seus amigos o questionasse. Fui imatura, mas era apenas uma menina, Miguel. Quando você me perguntou sobre seu pai a primeira vez, pensei na única pessoa que me ajudou, a única que foi boa comigo quando me vi sozinha no mundo, e disse o nome dele. Como nós quase não saímos, não pensei que nos encontrarímos mais com ele. Cláudio já estava casado e tinha uma filha e, apesar de morarmos em uma cidade pequena, contei com a sorte de não nos encontrarmos mais, mas é claro que isso não aconteceu.

"Certa vez, precisei levar você ao médico. Ainda não haviam muitos postos de saúde por perto, então tínhamos que atravessar a cidade para chegar ao Postão; o posto que atende todo o município. — Ele assentiu. — No caminho, passamos em frente à casa dele e ele estava no portão. Me parou por alguns instantes e, quando o chamei pelo nome, você associou uma coisa a outra e perguntou se era ele o seu pai. — Enxugou o canto dos olhos. — Ele me olhou com espanto, entendendo o que eu havia feito. Ficou irritado, é claro, e me pediu para dizer a verdade, mas, mais uma vez, não tive coragem de dizer a você."

"Nos afastamos ainda mais após esse episódio e, nas raras vezes que nos encontrávamos, nos limitávamos apenas a cumprimentos secos e distantes, então achei que ficaria tudo bem como estava. Não conseguia olhar para você e dizer que você não teria um pai, e quanto mais o tempo passava, mais difícil era desmentir, então deixei tudo como estava."

— Tem ideia do absurdo que é isso tudo? — Se levantou, passando as mãos sobre os cabelos. — Teria me dito a verdade em algum momento?

— Eu não sei — admitiu, fazendo-o rir mais uma vez. — Quando contei minha história para Estevão e ele aceitou você como filho também, decidi esquecer aquela história. Você parecia tão bem com...

Como em Meus Sonhos [Desejos Ardentes - Livro Um] CONCLUÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora