O despertador soava insistentemente sobre o móvel velho ao lado da cama. O som estridente irritava Liz todos os dias da semana, mas parecia ainda mais insuportável nas segundas-feiras. O desgosto que sentia pelo trabalho talvez deixasse tudo ainda pior. Não era uma ingrata; ter um emprego que garantia seu salário no fim do mês, contas pagas e o pão do dia-a-dia, era mais do que muitos possuíam em tempos tão difíceis, mas não podia dizer que era o emprego de seus sonhos. Clichê demais reclamar dos patrões? Talvez sim, mas a verdade era que Camila fazia tudo para tornar os dias de seus funcionários um verdadeiro tormento.
Saiu da cama feito uma morta-viva e se dirigiu à pequena cozinha da casa que dividia com sua irmã e sobrinha.
— Tia, quanto é quinze vezes sete?
— Um monte. — Beijou os cabelos escuros da menina. — Bom dia, Tessa. — Foi até o armário e apanhou uma xícara para se servir com a milagrosa bebida escura que dava início aos seus dias.
— Pode ajudá-la no dever enquanto Bianca não chega? — A irmã apareceu na cozinha, ajeitando a bolsa no ombro.
— Adoraria, mas você sabe que sou uma negação em matemática, Mari. Além disso, é cedo demais, meus poucos neurônios ainda não acordaram. — Deu de ombros.
— Não sei porque ainda peço ajuda a você — resmungou ao pegar a garrafa de café.
— Talhada no mau humor — murmurou a irmã mais nova, fazendo-a suspirar e apertar os olhos.
— Desculpe. Tessa, termine seu dever no quarto, meu amor. Bianca vai chegar logo e poderá te ajudar no que tiver dúvidas. — Sem questionar, a garota recolheu o material que estava sobre a mesa e foi para o quarto que dividia com a mãe.
— Desembucha.
— A adorável avó da minha filha quer vê-la. E só para esclarecer, há uma dose cavalar de ironia no "adorável". — Liz sorriu.
— Seja razoável. Ela não tem culpa de ter um filho imprestável.
— Foi ela quem o criou, educou, mimou e o faz acreditar que ainda é um bebê mesmo com trinta e sete anos nas costas, então sim, ela tem culpa. — Respirou fundo. — De qualquer forma, Tessa merece uma família. Mesmo que essa família não tenha demonstrado qualquer interesse nela nesses últimos anos, serei tolerante por ela, que sempre quis ter uma avó.
— Se ao menos nossa mãe...
— Não quero falar dessa mulher hoje, Liz — a interrompeu, depositando sua xícara ainda cheia de café sobre a mesa.
— Me conte uma novidade — comentou de forma despretensiosa. — Você se lembra dela?
— Procuro não lembrar. Sugiro que faça o mesmo. — Foi até a porta e a abriu. — Bianca já deve estar chegando. Preciso ir. Pode ficar de olho na Tessa enquanto isso? — A mais nova aquiesceu, vendo-a partir no instante seguinte.
Mariana não costumava falar sobre a mãe. Na verdade, detestava tocar no assunto. Liz compreendia suas razões, embora às vezes desejasse saber mais sobre a mulher que lhe dera a vida.
Tinha quatro meses quando a mãe fugiu de casa, levando consigo apenas uma mala de roupas. Liz fora criada pelo pai e pela irmã, que na época tinha apenas dez anos. Como o pai precisava trabalhar a maoir parte do tempo para não deixar faltar nada em casa, era Mariana quem cuidava da irmã. Sempre atendendo suas necessidades, não importava o que ou quando fosse, se esforçando para que a mais nova não sentisse falta de uma figura materna, e foi assim até depois de adulta, quando Liz quebrou a cara com um antigo namorado e precisou se abrigar na casa da irmã.
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Como em Meus Sonhos [Desejos Ardentes - Livro Um] CONCLUÍDA
RomanceSe encantar por um homem que sabe como tocar seu corpo e lhe proporcionar as mais fantásticas sensações, talvez seja o desejo de qualquer mulher, mas e se esse homem só existisse em sua cabeça? A jovem Liz, que sempre se orgulhou de ser uma mulher "...