POV: Catarina
- Não Catarina, eu já disse que não!
- Mas papai... - tentei.
- Não vou deixar que saia de casa dirigindo o meu carro, pago Cosme exatamente para isso, é só dizer à ele para onde quer ir e ele a levará.
- Não quero que ele me leve - papai não entendia - Quero eu mesma dirigir, eu mesma comandar o meu próprio destino.
- Pois vai continuar querendo, meu carro você não dirige - bateu o pé e percebi que estava começando a ficar irritado - Minha filha, por favor, tire essas ideias da cabeça, mulheres não dirigem - concluiu mais calmo.
- Vai começar? - perguntei.
Todos os dias sou obrigada a ouvir essa mesma ladainha:
"Mulheres não dirigem";
"Mulheres devem se casar e respeitar os seus maridos".
Para o diabo com esses discursos hostis e ultrapassados.
Estou farta de ouvir e ver mulheres sendo tratadas como mercadorias, como se fossemos um saco de farinha, ou até mesmo bonecas.
Eu não sou uma boneca, tenho minhas opiniões, tenho os meus sonhos e me casar não está nessa lista.
Falam como se não fossemos capazes de fazer coisas importantes, aposto que fariamos tudo muito melhor.
Sinceramente não acredito, não vejo o que há de tão diferente assim, o que os faz ser melhor e poder tudo?
- Você precisa se casar, minha filha.
Ah sim, essa era a pior parte dos meus dias, quando ele verbalizava os meus piores pesadelos.
- Só o casamento para lhe tirar essas ideias - concluiu enquanto balançava a cabeça de um lado para o outro.
- Pois não caso - gritei realmente furiosa.
Meus passos ecoavam pela sala agora completamente silenciosa, segui à passadas largas até a porta, Cosme, motorista de papai acabara de abrir a porta, passei por ele de cara fechada, podia sentir os olhares curiosos atrás de mim.
A sensação de estar sendo observada acabou no momento em que bati a porta às minhas costas utilizando toda a força que consegui reunir.
Eu estava cansada dessas discussões, cansada de toda essa incompreensão.
Passei pelo carro recém comprado de papai e segui dali até o portão.Ainda estava muito irritada quando fechei o portão atrás de mim. Pude sentir o vento balançando e assim, bagunçando o meu cabelo.
Também não ligo muito para essas coisas que as outras mulheres acham importante, não passo horas e horas enfrente ao espelho me embelezando, não quero que me apreciem pela minha aparência, afinal é tão difícil prestar atenção no que eu tenho a dizer?
Ia caminhando pela rua de pedras sem muito me importar com o que acontecia a minha volta.
As vezes penso em como é difícil pensar tanto.
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Entre o Amor e a Desilusão
FanfictionSão Paulo, anos 20. Catarina Batista é filha do banqueiro mais bem sucedido de toda a cidade, dona de uma beleza extraordinária, mas tanto quanto bonita, é teimosa e geniosa. Tem ideias modernistas e luta por elas da maneira como pode. Defende o...