Meu pai me contou uma história hoje cedo. A história que me motiva a começar a escrever isto.
Um pouco antes de sair para o Suq, meu pai sentou ao meu lado, enquanto eu dava minha total atenção a uma gorda fatia de pão com uma generosa camada de geleia de morangos por cima, o meu sabor preferido, e a qual pretendia devorar naquele instante. Ele chamou a minha atenção quando bagunçou meus cabelos com sua mão pesada. Eu ri do gesto e olhei para ele, que sorriu para mim e em seguida roubou o pão de minhas mãos e deu uma mordida tão exagerada que a metade do meu querido café da manhã se perdeu dentro de sua boca. Ele riu da careta de desgosto que fiz, e logo começou a preparar outra fatia para mim, o que me deixou aliviado.
— Então, você é praticamente o um rapaz agora — disse ele, enquanto derramava a deliciosa geleia sobre o pão. — Sua mãe conversou com você ontem, não foi?
Fiz um sinal positivo com a cabeça, e aceitei o pão que ele me ofereceu.
— Agora que tem dez anos, pode começar a ajudá-la a preparar os temperos para vendermos no Suq. Acha que consegue?
Mais uma vez me mantive calado e respondi com um balançar de cabeça.
Ele voltou a sorrir.
— Você é um bom garoto, Izuna, tenho certeza de que se sairá muito bem — disse meu pai, enquanto limpava o canto de minha boca com um pedaço de pano. — Mas, apesar de tudo, os seus estudos ainda vêm em primeiro lugar, então, de manhã eu o quero estudando, e de tarde, pode fazer o que quiser. Tente brincar com os filhos dos Sarutobi de vez em quando. Seria bom fazer amigos. Não concorda? — Ele piscou rapidamente com um dos olhos. — E então, quando escurecer, você irá ajudar sua mãe.
Eu abaixei a cabeça e dei mais uma mordida em meu pão. Quis dizer a ele que faria tudo o que me pediu, porém, a parte de fazer amigos eu não tinha — e ainda não tenho — confiança que conseguiria cumprir.
Não é como se eu não quisesse amigos, mas de algum modo, todos os garotos da vila parecem desgostar de mim.
— Há algo que o desagrada? — Perguntou meu pai.
Eu levantei os olhos e vi seu rosto preocupado.
— Posso fazer o que me pede, pai — disse em tom baixo e não consegui manter o olhar sobre por muito tempo —, mas eu poderia ajudar também durante a tarde.
— Fico feliz em ver que está disposto a ajudar, Izuna, mas ter tempo para si também é importante — ele explicou enquanto pegava os copos que estavam em cima da mesa e os levava até o balcão.
Ele suspirou e se encostou no balcão à frente, cruzou os braços e me olhou tranquilo.
— O que há de ruim em fazer alguns amigos?
— Nada, mas... — hesitei, olhei para ele e em seguida finalmente decidi ser sincero. — Os garotos não brincam como devem. Tudo o que sabem fazer é jogar pedras no gado dos vizinhos, roubar os visitantes de outras vilas, rabiscar os anúncios do rei, e terminar rindo disso tudo! Eu não vejo graça em brincadeiras como essas e... eles também não veem graça em mim.
— Bem... eu não chamaria esses tipos de atos de brincadeiras, se você gostaria de saber — disse ele, rindo ao final da frase. — Eu concordo sobre o que fazem não ser certo, e me orgulho por você ter esse tipo de opinião antes de ouvir isso de mim, mas não sabemos se os Sarutobi são assim, eles podem muito bem ser exatamente como você.
— Ou exatamente como os outros garotos — rebati enquanto minhas sobrancelhas se levantavam.
— Você pode nunca saber, se não der uma chance a eles — disse ele, sorrindo largamente ao ver que eu não tive resposta para dar daquela vez. — E você vai dar uma chance a eles, não vai?
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O Herdeiro De Eileen
FanfictionHashirama Senju, o príncipe herdeiro de Eileen, está morto. O motivo de sua morte é um mistério para o reino, que vê sua última esperança de uma vida melhor ir com o filho do rei que cuida de nada além de seu castelo. Mas nenhum deles sente tanto a...