14/02/1105 - 23:50h

231 45 36
                                    

Por muitas vezes, eu vi a minha mãe chorar por ter saudades do meu irmão; meu pai suspirar e olhar saudoso para cada carta que recebia, e Saru dizer que sentia falta do Norte. E eu apenas os observava, imaginando como era sentir-se daquela maneira. Nunca fiquei por tanto tempo em algum lugar para sentir falta quando tivesse que deixá-lo. E o meu irmão, nem ao menos me lembro de meus tempos com ele, então, como poderia sentir falta de algo que para mim, não existiu?

Não me lembro de sentir falta de nada, pois alguém tão próximo que teve que ir embora, ou um lugar tão querido que precisei deixar, eu nunca tive. Fiquei afastado de minha casa por pouco tempo enquanto a reconstruía, e meus pais e Saru... nunca me afastei deles.

Tenho os meus amigos do campo. Os vejo por quase todos os dias, mas aos finais de semana sempre me pego lembrando de algo que um deles disse, fez, ou o que me diriam em algum momento daqueles dias que não nos vemos. Posso chamar isso de saudade? Acredito que sim, mas não é aquele sentimento intenso como vejo em meus pais e em Saru. Aquele sentimento que, de tão forte, chega a doer, te faz tremer em desespero e ansiedade. Esse tipo de sensação eu passei a conhecer há pouco tempo, e ela é reservada para apenas uma pessoa.

Por muito tempo eu achei que não compreenderia esse sentimento de pura saudade, mas hoje posso dizer que os entendo completamente.

Já cheguei a ficar sem vê-lo por muito mais tempo que agora, e senti sua falta de modo incômodo, porém, sabia que podia suportar. Mas, após nos aproximarmos tanto, sinto que meu coração pode parar por ficar longe de Damai por tão poucos dias. Não o vi por meros três dias e senti como se tivesse passado muito mais.

Hoje é meu aniversário. Finalmente com quinze anos, mas isso não me animou tanto quando abri os olhos pela manhã. O que me fez levantar com um sorriso no rosto foi a certeza de que o veria e sentiria o toque de sua pele sobre a minha novamente.

Eu não sei como isso aconteceu, mas apenas um sorriso ou um simples toque de Damai é capaz de fazer meu corpo inteiro estremecer. Irritado, calmo, triste ou feliz, não importa como, Damai sempre me faz sentir preenchido quando estamos juntos. Eu sei que não deveria me sentir assim, mas ele mexe comigo de um jeito que ninguém nunca conseguiu. Sua beleza me atrai como nenhuma outra jamais me atraiu. Ouvir o som de sua respiração já é o suficiente para fazer meu peito se aquecer... como neste exato momento.

Me sinto tão agitado e com o corpo em chamas; ouço as batidas de meu coração soarem altas. Não consigo fechar os olhos para dormir, pois em meio a calmaria da noite, posso ouvir a respiração dele, dormindo aqui ao lado.

Tento me distrair escrevendo com a iluminação fraca de apenas uma vela, mas, a verdade é que me lembrar do que houve no dia de hoje me deixa ainda mais agitado, e não consigo evitar em repassar tudo em minha cabeça pela incontável vez.

Tive um bom dia no Campo. Todos os meus movimentos foram feitos de maneira limpa e precisa, me deixando satisfeito. Luca obviamente não me elogiou, nem mesmo criticou — a falta deste último me faz pensar que realmente fui bem.

Mesmo ansioso com a tarde que viria, procurei me concentrar até o último minuto, e ao sair do campo, me encontrei com os sorrisos de meus amigos. Ainda não os tinha visto, então fui recebido com abraços e também parabenizado com animação.

— Até parece que você cresceu alguns centímetros de ontem para hoje — brincou Jan, fazendo todos rirem.

— Vamos? — Perguntou Yaromir, gesticulando para o caminho em direção a taverna de Pete, mas os impedi rapidamente.

— Podem esperar por alguns minutos? — Perguntei. — Pedi a Saru para que se encontrasse conosco aqui. Não quero que ele vá até Rajul Hurr sozinho.

O Herdeiro De EileenOnde histórias criam vida. Descubra agora