O Herdeiro De Eileen

Antes Da Tempestade

Foi uma surpresa observar Izuna acendendo uma fogueira com tanta facilidade. Ele se mostrou ofendido com a expressão de Tobirama, mas riu ao explicar que seu antigo treinador havia ensinado mais do que combate e estratégias de guerra.

Naquele começo de noite, o príncipe descobriu que Izuna também sabia caçar, e foi a vez do soldado ficar surpreso ao saber que aquela era uma das especialidades do herdeiro, que só perdia naquela prática para Yurem.

— Ele vem de uma família de caçadores, foi ensinado como uma obrigação — Tobirama contou um pouco sobre o amigo de infância. — Diferente de mim, que escolhi aprender.

Seu falecido tio o havia ensinado, anos atrás, porém, o real aprendizado veio de seu pai, o Grande Rei Butsuma. An-chan não gostava de caçar, o que tornava aquele momento único. Eram raros os momentos em que ficava a sós com seu pai, e adorava quando tinha sua total atenção. Algumas vezes, chegava a desejar que Hashirama também não gostasse das outras atividades, para que o tivesse unicamente para si mesmo, porém, após tantos acontecimentos e golpes do destino, Tobirama realmente acabou sendo o único para o pai, mas, diferente de antes, desejava grandemente que seu An-chan estivesse com ambos em todos os momentos que tinham.

***

O céu e a visão ao redor estavam completamente escuros, e apenas a luz da fogueira os iluminava durante aquela noite. Tobirama trouxe consigo um pequeno cobertor, que fora estendido sobre o gramado, servindo como um desconfortável colchão. A noite estava quente, e quando se deitou sobre ele, sentiu as costas esquentarem de maneira incômoda. O travesseiro seria a bolsa que carregou o dia todo, completando o quarto improvisado.

Izuna aprovou a ideia e fez o mesmo com suas próprias coisas. Em silêncio, ele estendeu o cobertor ao lado do príncipe e quando foi em busca de sua bolsa, ouviu um pequeno barulho em algum canto escuro dali. Izuna se assustou e olhou apavorado para a escuridão, temendo qualquer movimento vindo da floresta, que não veio.

Tobirama não conseguiu evitar que uma baixa risada escapasse ao vê-lo daquela maneira. Desde o momento em que tudo ficara escuro, Izuna se tornou atento aos sons até mesmo dos próprios passos. Ele estava apavorado e não conseguia disfarçar o que sentia, e apesar da graça, o príncipe não o culpava por isso. Foram tantos anos acreditando naquela história sobre a escuridão, que seria difícil se acostumar com aquilo, ele entendia. Ainda assim, não houve como evitar em rir mais uma vez, quando Izuna se aproximou e chutou suas pernas com pouca força. Ele havia ficado nervoso com o riso, que se mostrou mais uma vez quando o barulho da madeira queimando ao nosso lado o assustou.

Izuna ficou emburrado por Tobirama rir de seu medo e se deitou ao lado com a cara fechada. Aquela faceta logo caiu e mais um simples barulho da natureza o assustou, fazendo-o fechar os olhos por um breve momento, na tentativa de se acalmar. Desta vez, o príncipe se contive e a fim de tranquilizá-lo, se aproximou um pouco mais e entrelaçou seus dedos quando segurou a mão do soladado com a sua. Ele o apertou levemente e também se aproximou, tocando os ombros um no outro.

Ficaram em silêncio por longos minutos, mas desta vez não havia incômodo ou ansiedade por isso. Finalmente era confortável estarem um ao lado do outro, e Tobirama se permitiu relaxar um pouco mais, deixando a mente viajar para o que haviam conversado no final da tarde. Ele ainda se sentia envergonhado por mostrar seu lado que considerava patético para Izuna. Nunca havia chorado tanto sem estar sozinho ou sequer foi tão sincero com alguém como naquele momento, porém, apesar do embaraço, não se arrependia. Como sempre, as palavras de Izuna haviam tocado o seu coração, e o sentimento pesado que carregou por todos aqueles dias se foi aos poucos, deixando apenas um leve incômodo. E tudo por ele.

O príncipe se sentia tão sortudo por ter Izuna ali. Naquele momento, fez uma promessa silenciosa consigo mesmo, de que nunca mais deixaria o seu lado, não importasse o que aconteceria dali para a frente, quantas brigas e desentendimentos tivessemo, sempre voltaria para ele.