12/08/1105 - 23:50h

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Me lembro de poucas coisas de quando eu tinha cinco anos. Vultos e sensações estão gravadas em minha mente, mas o que me lembro com clareza é a última vez que vi o rosto do meu avô. Ele morreu quando eu era apenas uma criança. Não me lembro como era sua voz ou seu jeito de ser, mas sua face que parecia apenas adormecida enquanto estava deitado no caixão é uma imagem que consigo visualizar com clareza. Naquela época, não entendi o que aquele quem diziam ser meu avô estava fazendo dormindo ali naquela caixa de madeira. Poucos anos depois, entendi que ele nunca mais acordaria e um sentimento incômodo apareceu em meu peito. Mas hoje percebo que mesmo sendo uma memória triste, foi bom ter tido a oportunidade de vê-lo uma última vez — ainda que para mim tenha sido também a primeira.

Me lembrei do meu avô durante o dia, seguidamente de um de meus tios e também, Saru. Velórios são muito difíceis de lidar, de compreender que a pessoa ali à frente não está dormindo, que ela nunca mais acordará. Mesmo sendo um momento delicado, é bom para os que ficam. É uma forma de se despedir e ver o rosto da pessoa uma última vez. Esse sempre foi o que achei ser o principal motivo de velórios, mas hoje, fiquei um pouco confuso com o que presenciei.

Alguns costumes no castelo são diferentes dos das pessoas comuns de Eileen, mas nunca achei que veria um velório com o caixão fechado, mesmo o corpo do falecido estando em boas condições. Madara me disse que tal costume é normal para os Senju, que eles consideram desrespeitoso observar uma pessoa morta. É como ver uma pessoa nua sem seu consentimento, segundo eles.

Apenas um é escolhido para ver o corpo, limpá-lo e o acomodá-lo dentro do caixão. Depois disso, a pessoa nunca mais é vista, deixando para trás apenas sua imagem em quadros e lembranças.

O caixão fechado só não fez sentido para mim e os novos soldados, mas todos ali estavam tristes e pareciam ter vontade de vê-lo, eu pude ver isso em seus rostos enquanto estava em meu posto de guarda entre tantas pessoas no salão. Esse é um costume estranho. Me perguntei por que não abriam aquele caixão de uma vez. Aquilo tornava a situação ainda mais triste, e nunca seria desrespeitoso se despedir como fazemos na vila.

Não consigo entender alguns costumes dos Senju, a maioria deles é restrito ou doloroso demais. Tobirama não gosta da maioria desses costumes, mas sobre o velório, ainda não consegui descobrir sua opinião, pois ele ficou ao lado de seu pai e do caixão por praticamente o dia todo.

O irmão do rei morreu na tarde de ontem. Ele sofreu um acidente durante uma caça, trazendo-lhe um fim repentino. O rei estava arrasado e não se esforçou para esconder sua tristeza, enquanto Tobirama apenas mantinha sua expressão séria de sempre.

Tobirama havia me contado sobre ele há algum tempo. Não eram tão próximos quanto seu tio era de Hashirama, mas se davam bem. Tobirama não parecia estar abalado por fora, mas sei que por dentro estava triste. Ele não é do tipo que recebe bem esse tipo de fatalidade. Mas, pensando melhor, quem neste mundo aceitaria de bom grado a morte de alguém?

Perder alguém da família é doloroso, não importa se eram pouco próximos, ainda é uma perda. Eu quis ficar ao lado dele quando tudo acabou, mas não tive a oportunidade de me aproximar. Mais do que Tobirama precisaria de mim, o pai precisava de seu filho, então o príncipe permaneceu ao lado do rei.

Normalmente Madara não permitiria que eu ficasse como guarda de Tobirama com tantas pessoas no castelo, mas ele decidiu deixar pessoas mais próximas a ele ao redor, provavelmente por entender a dor de perder alguém, e precisar de rostos conhecidos por perto.

Madara não ficou em seu posto. Disse que preferia não incomodar Tobirama com possíveis lembranças da morte de Hashirama, então fez a infeliz escolha de colocar Yurem em seu lugar. Devo admitir que não gostei daquela ideia, mas ao mesmo tempo sabia que Tobirama também apreciaria ter seu amigo ali, então resolvi ignorar meu ciúme em respeito a ele e fazer meu trabalho em silêncio.

O Herdeiro De EileenOnde histórias criam vida. Descubra agora