19/05/1105 - 13:00h

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Ontem, quando assumi o meu posto de guarda durante a noite, eu já conseguia respirar com mais tranquilidade. Me sentia um pouco mais calmo, mas ainda não conseguia tirar Damai da minha cabeça. Continuava com raiva, mas inevitavelmente a tristeza veio me fazer companhia, e me senti um tolo por ainda sentir algo por ele.

Em um momento, ao me lembrar dos dias em que passamos juntos, pude sentir claramente seu toque em minha pele, como se ele estivesse ali ao meu lado. Isso fez com que um leve arrepio passasse por meu corpo, me fazendo pensar ainda mais que sou realmente um tolo. Eu ainda o desejo e isso me confunde, porque ao mesmo tempo, passei a odiá-lo.

Fiquei aliviado ao saber que ficaria encarregado pelo lado de fora, pois deste modo eu não corria o risco de vê-lo pelos corredores. Parado ali, sozinho e embaixo da sacada do quarto do príncipe, passei a observar os arredores. Estava vazio, e a escuridão à frente impedia que eu enxergasse os soldados que guardavam os muros, o que sobrava nada além do silêncio.

O trabalho foi tranquilo durante aquele período, o que vez ou outra me obrigava a lutar contra o sono. A madrugada havia acabado de começar, e olhar a escuridão à frente me trazia leves arrepios. Por quinze anos, sempre que escurecia, eu passava aquele período inteiro trancado em minha casa. Nunca havia ficado ao ar livre daquela maneira. Na vila Senju, nem mesmo as janelas de casa podíamos abrir. Sabia que estava seguro ali, pois a muitos metros de distância, o castelo é cercado por altos muros. Mas mesmo eles não impediam que o mínimo barulho me apavorasse.

Em um momento, o príncipe foi apagado da minha mente, e o que se repetia dentro dela era a história de Shaytan. Eu me amaldiçoei internamente por ser tão covarde quando se tratava daquilo, mesmo nunca acreditando inteiramente na história. Como sempre digo: Não consigo acreditar em algo que nunca vi, mas se Shaytan realmente existe, eu espero nunca o ver.

Enquanto tentava me acalmar, ouvi um barulho próximo à área em que eu estava. Fiquei atento no mesmo instante, e subitamente me esqueci de Shaytan. Naquela hora, o meu treinamento para proteger o príncipe se pôs à frente, e não consegui imaginar mais nada além de uma possível ameaça para ele.

Longos minutos se passaram e nada apareceu. Eu suspirei fundo e endireitei a postura. Olhei para cima por um momento, vendo parte da sacada do quarto dele bem distante. O lugar fica no terceiro andar. É alto demais para tentarem atacá-lo por ali, mas Madara é cauteloso demais, a ponto de colocar um guarda em cada buraco daquele castelo.

Bocejei demoradamente enquanto voltava a olhar para a frente, e foi quando fui surpreendido por alguém que se aproximou pelos lados do castelo. Eu rapidamente peguei o meu arco e flecha e apontei para a pessoa. Arregalei os meus olhos em surpresa ao ver quem era e abaixei a arma rapidamente.

Era ele.

Fiquei sem saber como agir por um momento. Ao olhá-lo, para mim, ainda era Damai. Meu Damai. Mas aquele lugar, o soldado que o acompanhava logo atrás e as marcas vermelhas em seu rosto diziam o contrário.

Agi com rapidez quando notei o que havia feito. Joguei o arco no chão e encostei um de meus joelhos sobre o chão, enquanto apoiava as mãos sobre o outro.

Passei a observar o gramado com nervosismo e logo senti o meu rosto esquentar. Mas não era vergonha. Ele havia mentido para mim, brincado com os meus sentimentos, e ainda assim, eu tinha que me ajoelhar perante a ele. Foi humilhante e me deixou ainda mais enraivecido.

— Deixe-nos a sós — ouvi a voz dele sair calma, mas autoritária ao falar com o soldado. — E o que viu aqui não deverá ser dito a ninguém.

Eu ouvi passos se afastando e em seguida, quando ficamos a sós, minhas mãos começaram a suar e ansiedade a tomar conta de mim. Eu não queria vê-lo ou escutá-lo, mas o meu corpo reagia diferente da minha mente.

O Herdeiro De EileenOnde histórias criam vida. Descubra agora