Natureza é definida como aquilo que constitui a condição própria de um indivíduo, animal ou dos elementos em geral. Um conjunto de diretrizes que define como uma determinada coisa funciona.
Para muitos, nossos defeitos e qualidades podem ser explicados pela nossa natureza, ou seja, pela natureza humana. Será tão simples assim?
Eu sempre enxerguei a natureza como uma coisa mais crua, que define os aspectos mais básicos do nosso ser, ou então como algo maleável e pessoal, diferindo para cada um de nós, o que não deve ser confundido com nossos princípios que ditam o que enxergamos como ética ou moral.
Momoe disse que o conceito de bem ou mal é um conceito exclusivamente humano, que animais ou os seres que habitam o folclore não são regidos por questões de ética. Talvez esses princípios sirvam apenas para denominar certos aspectos da natureza humana, mas o que, de fato, se classifica como natureza humana?
Uma criança pode chorar pela morte de um animal, em contraste a outra que se diverte matando pássaros com uma atiradeira. Sendo assim, a natureza humana é uma que preza pela vida e sente sua perda, ou é uma que deseja conquistar e se impor, independentemente do preço a ser pago?
O que fez Senzou decapitar Dimas e quase tirar a minha vida teve como origem a natureza humana, ou foram meramente princípios distorcidos?
Considerando tudo, eu diria que o princípio básico a guiar a natureza humana é a sobrevivência. Sejam quais forem os motivos secundários a motivar Senzou, ele via os estrangeiros como uma ameaça à hegemonia dos samurais, e ele pensou que Dimas pudesse estar portando uma arma de fogo. Em sua cabeça, era a sua existência que estava em jogo.
Acho que somos todos assim, até o mais simples dos homens que trabalha para conseguir seu sustento. A sobrevivência é a nossa meta e nossos princípios são moldados, de forma diferente, em volta desse princípio básico.
Até mesmo Momoe disse que vivera numa comunidade com suas meias-irmãs por uma questão de sobrevivência. O que aconteceu em volta disso, do pai que exercia o mesmo ofício que ela às suas experiências de vida, tudo formou a mulher que ela é hoje.
A natureza de Senzou pouco me importava, se eu tivesse sorte, nunca mais veria o desgraçado. Claro que eu nunca tive muita sorte na vida.
A natureza de Momoe ainda era uma incógnita para mim, por mais que eu tivesse feito avanços. Se eu tivesse sorte ou tempo, talvez eu chegasse lá. Porém, conforme os dias passavam, eu me recuperava, o que significava que meu tempo estava acabando.
Minha relação com ela nos dias seguintes aos eventos no abrigo foi um tanto desconfortável. A frieza dela havia diminuído e nós passamos a conversar sobre temas neutros, nada de assuntos pessoais, no máximo histórias. Ela também me ensinou um pouco de japonês, incluindo a escrita com a ajuda dos vários documentos e livros que ela guardava.
A minha tentativa fracassada de dar um passo além, contudo, contribuiu para deixar as coisas um pouco estranhas. Talvez seja a natureza humana que diz que um homem e uma mulher naquela situação devam naturalmente seguir por esse caminho, ou talvez fosse apenas senso comum.
Talvez eu devesse mesmo partir. Além do mais, eu tinha coisas a fazer, eu não tinha convicção de que Dimas havia mesmo aparecido em meus sonhos, logo, eu precisava me certificar do que aconteceu com ele.
Eu já tinha perdido a noção dos dias ali naquela cabana, devíamos estar no fim de julho ou começo de agosto, mas depois de dias extremamente úmidos, o sol finalmente resolveu aparecer. Um alívio, apesar do calor, ainda mais porque eu não teria que passar todo o tempo evitando olhar para aquele baú.

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O Conto da Raposa
FantasyATENÇÃO! Este livro será removido em breve. Vencedor do Prêmio Wattys 2021 na categoria Ficção Histórica. O que é realidade? Eu sempre me esforcei para resumir a realidade ao universo palpável, a tudo aquilo que a sociedade descreve como normal. Tud...