22 - Destino

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Durante todo o caminho de volta até a cabana, nenhuma palavra foi dita. Minha adrenalina estava nas alturas e havia um milhão de coisas na minha cabeça, de modo que eu mesmo precisei um tempo para me situar, mas tudo o que consegui foram mais e mais perguntas.

        Alcançamos a cabana pouco depois do ocaso, com Momoe logo à minha frente andando a passo largos, e esse era o único sinal de que poderia estar, de algum modo, nervosa.

        Puxei seu braço com um pouco mais de agressividade do que pretendia, mas não podia recuar agora. Era a hora de respostas, e eu não podia deixar que ela se esquivasse do jeito que fosse.

        — Acho que eu mereço algumas respostas — falei, finalmente.

        — Claro, respostas. Você sempre quer respostas — ela falava com aparente tranquilidade na voz e no olhar.

        — Espera que eu ignore o que eu acabei...

        — Eu sou uma raposa — sua voz soou por cima da minha. — Uma 'kitsune,' como dizem os locais. Uma feiticeira capaz de mudar de forma — ela fez uma pausa, cravando seu olhar penetrante no meu. — É isso que queria ouvir?

        Sua confissão repentina me deixou mais chocado do que deveria. Acho que eu ainda esperava que ela negasse e que houvesse uma explicação plausível para o que eu havia testemunhado, mantendo de pé os muros da realidade. Demorei para me recompor e reiniciar o interrogatório.

        — Quando pretendia me contar?

        — Nunca — seu tom havia se reestabelecido.

        — Como assim, nunca!? — Nessa hora, me senti realmente ultrajado.

        — Você partiria em breve. Jamais voltaria. Não havia necessidade de saber.

        — Não havia necessidade de saber!? Então, eu não precisava saber que estava vivendo com um... — me arrependi imediatamente de ter começado essa sentença.

        — Termine — seus olhos voltaram a se fixar nos meus, e eu me senti forçado a desviar. — Um monstro, você ia dizer, não é? É isso que você me considera? Eu faço jus às histórias que você ouviu durante toda a sua vida?

        — Talvez faça — Eu disse, após um longo silêncio, só para voltar a me arrepender, mas prossegui assim mesmo. — Enganadora, como nas histórias. Talvez você queira me devorar.

        A mulher deu uma risada irônica.

        — Por favor, Miguel, cinismo não combina com você. E se eu o quisesse morto, poderia simplesmente tê-lo deixado no rio.

        — Você sabe muito sobre mim, não é? Me seguiu por muito tempo? A feiticeira que meu avô encontrou, era você?

        — Não.

        — Não minta!

        — Não — seu tom ficou mais sério. Ela refletiu por um segundo antes de prosseguir — ela gosta de ser chamada de Astrid. Ela vaga pela Europa há séculos, atraindo e devorando viajantes perdidos. Alguém que a sua espécie chamaria de uma assassina sem escrúpulos. Seu avô teve muita sorte de escapar com vida.

        Achei pouco provável que ela estivesse mentindo, mas eu ainda não estava satisfeito.

        — Já matou um homem antes? — Eu perguntei.

        — Inúmeras vezes — ela respondeu sem hesitar.

        — Por quê?

        — Por vários motivos que não lhe dizem respeito.

O Conto da RaposaOnde histórias criam vida. Descubra agora