Terça-feira - 22 de agosto. - Madrugada

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Nota da autora: Eu sei que muito vêem essa fic como algo água com açúcar, mas gente, não é. Principalmente esse capítulo tem possíveis temas SENSÍVEIS, a história por trás da família do Zhan é PESADA.

O quarto grande da suíte presidencial estava quente, pequeno, abafado, desesperador. A mulher de curtos cabelos castanhos corria pelo corredor largo da grande casa, em seus braços tinha a pequena criança de um ano e meio, este chorava copiosamente assustado pelo próprio estado da mãe, mesmo que não entendesse o que se passava ali. A frete da mulher, o garotinho de pouco mais de dez anos levava o gêmeo da criança. O mais velho não chorava, sua adrenalina não permitia tal fraqueza. Não podia se dar a esse luxo, não quando levava o irmão no colo e logo atrás vinha a mãe e o outro caçula.

Xiao Zhan acordou aos prantos, sentindo cada canto de seu corpo cansado e sem qualquer traço de paz. O quarto girava e por alguns segundos sentiu a própria pressão cair. Levantou as pressas, correndo ao vaso sanitário e pondo tudo daquele dia pra fora. Desde o pequeno café da manhã, até a simples garrafa de chá gelado no jantar. Ele abaixou a tampa da privada e se pôs a sentar no chão de porcelana, sentido as lágrimas quentes banharem o rosto bonito. Não resistindo e se encolhendo no chão frio, pondo a cabeça entre as pernas e abraçando as mesmas, chorando mais ainda.

Não queria levantar, pois acabaria se vendo no espelho do banheiro e não queria se ver; Não queria ver o seu estado deplorável. Não sem sua máscara. Demorou tantos meses pra que todos lhe vissem como o veterano sem problemas e perfeito, o boneco de rosto angelical sem medos ou preocupações. O filho perfeito que qualquer pai e mãe gostaria de ter. Se soubessem da verdade...

Cinco; Dez; Quinze; Trinta minutos... Não sabe ao certo quanto tempo se passou, mas já sentia a perna dormir pela posição frequente. Estava pensando e talvez Zifan e Chuyue tivessem razão, precisava voltar ao psicólogo, talvez o psiquiatra. Mas se sentia tão mal naquele lugar, como na vez em que seu pai lhe mandou a um padre por meses porque suspeitava de sua sexualidade e aquilo era inadmissível para o herdeiro da família Xiao. Para o homem que herdaria tudo aquilo. Maldita casa de bonecas infeliz e falsa.

Com as pernas fracas, o Xiao se levantou do chão frio, com a cabeça baixa e respirando pesado. Se apoiou na pia, ligando a torneira e evitando o espelho a todo custo. Uniu as mãos em uma concha improvisada, enchendo-a de água e a levando a boca, gargarejando freneticamente. Esticou a mão ao enchaguante bucal e fez o mesmo processo que com a água.

Suspirou fraco e sem nenhuma energia, voltando a paços fracos a cama, vendo em cima de sua escrivaninha o estranho caderno vermelho que Zifan deixou consigo na noite anterior, quando ele e Chuyue lhe imploraram para se tratar, dizendo que pertencia a alguém e que só ele podia identificar a pessoa e ele tinha razão, Xiao identificou a pessoa dona do diário logo na primeira folha e por curtos segundos, ficou feliz em saber que Wang Yibo gostava de si. Mas verdade seja dita:

O amor que o azulado dizia sentir não valia nada.

Wang Yibo assim como o resto da faculdade era apaixonado pela máscara frágil e, assim como seu sobrenome, falsa que ele erguerá com tanta devoção, tentando a todo custo esquecer seu passado e recomeçar com seus irmãos.

Zhan deu um sorriso fraco e desgostoso, negando com a cabeça enquanto se sentava na cama fofa. Se ele soubesse a verdade, não iria gostar dela e todo o seu encanto iria embora, era sempre assim mesmo. Moveu a cabeça lentamente até que seus olhos achassem seu despertador, visando saber o horário.

01:26

Estava cansado, mas não queria dormir, sabia com o que iria sonhar. Pensou em pegar o diário e devolver ao Wang na cara dura mesmo e fingir que não o tinha lido, mas seria muito ridículo. Suspirando cansado, pela quadragésima vez desde que acordou de seu pesadelo, então decidiu apenas andar pela faculdade.

Não é como se nunca tivesse feito isso, apenas tinha muito tempo que não fazia.

Por via das dúvidas, enquanto punha o tênis no pé e abria o armário para pegar a blusa de mangas longas para cobrir o torso desnudo. Ele também pegou o diário, frisando em deixa-lo na porta do quarto alheio, bater na porta e sair correndo. Patético? Sim! Ele ligava? Um pouco, mas contado que ele não soubesse quem é, estava tudo bem.

Andou a passos arrastados até a porta, a abrindo devagar por medo de fazer barulhos que chamavam a atenção. Olhou pelo corredor, não vendo nada além do corredor vazio com as luzes de led ligadas e os extintores de incêndio. Fechou a porta atrás de si e a trancou, andando devagar por ali, vendo as portas fechadas e passando a mão vazia pelas paredes brancas e bem pintadas.

O corredor foi ficando para trás, na medida em que via a porta dupla que levava ao interior do campus, dando de cara com a lanchonete/refeitório fechado e sem ninguém, com as luzes apagadas e com apenas o vento entrando pelas colunas do lugar aberto. Zhan olhou aquele lugar por alguns segundos, pensando que assim que amanhecesse teria de ficar ali com os amigos e com o grupo de Yibo, mesmo sabendo dos sentimentos alheios e não podendo retribui-los porque não era o "príncipe" que o Leão queria como parceiro.

Zhan foi em direção a pista de atletismo, cantarolando qualquer melodia que viesse em sua mente, pensando em toca-la em sua flauta quando voltasse para casa. Ou até mesmo quando voltasse para casa. Ou até mesmo quando fosse com o Wang a sua casa levar os alimentos na quarta. Quando chegou a tal pista, lembrou que quando amanhecesse teria de vir com a turma de educação física para escolher o representante da corrida do dia 20 do mês seguinte.

A arquibancada estava vazia e trancada, mas não foi difícil escalar a rede de metal e pular para dentro daquele cerco, sentando nos longos bancos e olhando desde o céu, com as estrelas pouco visíveis até a lua minguante, até a pista de corrida vazia que ficava iluminada pelos holofotes. Pôs os pés sobre o banco, abraçando as pernas e apenas aproveitando o silêncio, com o diário do homem que fazia seu coração acelerar, mas que ele sabia que não podia alcançar as expectativas.

Assim como não alcançou as expectativas de seu pai.

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