•She•

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‍‍‍   Aspiro o cheiro do blusão de HongJoong e sorrio, cheirava a desinfetante e a limpeza, mas atrás de tudo isso havia um resquício ínfimo de sândalo e a algo que —ao meu olfato— me lembrava limão e alecrim. O vejo se afastar, com seu cabelo estranho no estilo mullet — coisa que meu cérebro estranho assemelhou à cantores de dupla sertaneja anos 80 (o que me faz rir)— e seus brincos e piercing na orelha reluziam ao sol, o que me faz suspirar forte.

    Dou-me conta que tô olhando igual uma tapada pro protótipo de Chitãozinho & Xororo coreno super rebelde, parada em frente do portão do colégio com as roupas grandes e masculinas igual uma doida. Coloco a mochila nas costas e tento achar meu caminho de volta pra casa da tia Yolanda.

   Minha avozinha— que Deus a dê muita saude,— sempre disse que nasci com os dois pés esquerdos, e veja bem o que me aconteceu no meu primeiro dia de aula. Imagina só se vou sobreviver até o fim do semestre.

   Olho as cerejeiras que anunciavam o inicio da primavera e sorrio maravilhada com as florzinhas delicadas, pesco o celular no bolso da minha mochila e abro a câmera.  Quero registrar o máximo que conseguir pra, assim que voltar ao Brasil, mostrar à vovó quando ela acordar do coma. Dou gritinhos de empolgação ao ver uma cafeteria do outro lado da rua, tiro mais uma foto e em seguida atravesso a rua correndo, nunca estive em uma cafeteria antes e tudo aquilo é novo pra mim. Comprimo o rosto contra a vitrine que exibia os mais variados tipos de bolos, cupcakies, rosquinhas e pães. Um garoto de olhos grandes sai de dentro da cafeteria trazendo com ele o cheiro de chocolate quente, meu estômago ronca de imediato.

      Encaro o  visor do celular e me assusto com o quanto fiquei zanzando por aí, assim que chegasse em casa, ouviria um monte da minha tia. Meu estômago ronca novamente, olho pela ultima vez para a vitrine da cafeteria.

     Quem dera eu tivesse dinheiro pra comprar uma fatia de bolo!

    Procuro ver a minha localização pelo GPS, mas como sou pessima em direção percebo que me afastei ainda mais da rua em que eu estava morando agora e, pra piorar a situação, o celular acaba de  descarregar por completo. Caminho mais um pouco tentando refazer meus passos, a cada rua que eu atravessava menos reconhecia os prédios.

    Me sento na meio-fio em frente à uma loja de roupas, estiro minhas canelas doloridas de tanto zanzar meu estômago doía de tanta fome, sinto vontade de chorar. Apoio a cabeça no joelho e fecho os olhos, lágrimas começam a escorrer por minhas bochechas enquanto refaço mentalmente o caminho que pecorri, até que o barulho de algo metálico caindo na calçada me faz erguer a cabeça. Meu relógio mental especula que estou à uns 30 minutos perdida, e que os pedrestes haviam me confundido com uma pedinte e deixavam moedas ou algum lanche ao meu lado, o que me faz chorar mais ainda da minha desgraça.

    O ranho ja tinha escorrido do meu nariz e enxugo no blusão, já tinha aberto um pacote do biscoito agua e sal deixado na calçada pelo mesmo garoto zoiudo da cafeteria quando percebo que tem alguem sentado do meu lado.

—Suas lágrimas não acabam nunca?— a voz de HongJoong soa brava. — Qual a parte de "não se meter em problemas você não entendeu"?

 —Eu me perdi...— resmungo entre soluços.

—Garota estupida.— ele diz se levantando e me oferece a mão —Eu te levo pra casa.

   Agradeço aos céus por mandar um de seus enviados na forma de um punkzinho, mesmo que seus olhos queiram me pulverizar, ele deveria ter um pouquinho de bondade dentro dele. Cato as cédulas na calçada pra por no meu porquinho e levanto saltitante, limpo o rosto no blusão, seguro na mão de HongJoong, o mesmo lança um olhar feio em minha direção.

—O que foi?— pergunto confusa.

— Me diz o endereço da sua casa.
   
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☀️Miss. Sunshine🌻 • HongJoongOnde histórias criam vida. Descubra agora