•She•

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Brasil, 18:45 pm.•

   O café entorna no meu colo manchando completamente meu Jeans surrado, estava quente o suficiente para queimar minha coxa me  acordando do pesadelo que vivi nas ultimas 48 horas.  Pena que não era um sonho. Vovó nunca acordou do coma, muito menos tive tempo o suficiente pra me despedir dela. O ar parece fogo dentro do meu peito, meu corpo estava ativado no modo automático, a única coisa que sei é que nunca mais vou acordar com o cheiro de pão fresco que vovó fazia pela manhã, ou o beijo de boa noite antes de dormir.

   Enxugo as lágrimas na manga do meu blusão de lã azul e me levanto, caminho por aquele corredor branco, repleto de gente doente. Tia Yolanda deve estar em algum lugar desse hospital ajeitando a papelada para a liberação do corpo da vovó, eu presciso encontra-la.

—Allegra?— a voz de Tia Yolanda soa atrás de mim, giro o meu corpo entorpecido para encara-la.

—Oi titia...— umideço meus lábios ressecados.

— Já liberaram o corpo da minha... mãe...— ela enxuga os olhos em um lenço de papel.— ...precisamos ir agora.

—Onde estão o JunSik e a LiaAh?

—Estão nos esperando lá fora com o pai.— tia Yolanda estava muito mais pálida do que o normal, a morte de vovó abalou-a completamente.

   A sigo pelos corredores brancos do hospital, vez ou outra ela olhava por sobre o ombro para ver se eu ainda a seguia. Ainda tenho esperanças de que ela fique comigo, que me aceite como parte da família. Outra lágrima teimam em escorrer dos meus olhos, e outra vez utilizo as mangas do blusão para seca-las.

   No pátio do hospital, a LiAh vem ao nosso encontro impaciente no momento que os olhos dela se esbarram no meu, percebo que tem algo errado. A garota parecia contente com alguma coisa.

—Appa conseguiu uma minivan, omma.— LiAh põe um sorriso no rosto ao olhar pra mim.— Temos uma surpresinha pra você, priminha.

•••

‍‍‍‍‍‍‍‍‍‍‍‍‍‍‍‍  No estacionamento do hospital, tio Heechan esperava por nós em frente a minivan preta alugada. Um arrepio pecorre meu corpo, me abraço em uma tentativa de me proteger do ar gelado, mas outra lufada de vento frio me atinge.

— Entra logo na minivan, Allegra.— tia Yolanda resmunga empurrando meu ombro contra a porta aberta da minivan.— Prescisamos ter uma conversa antes.

    Respiro fundo e obedeço, me acomodo no ultimo banco ao lado de uma mala amarela que reconheci ser minha. Franzo o cenho quando o automóvel sai do estacionamento, o cansaço finalmente cai sobre meus ombros, as ultimas horas estavam sendo um pesadelo.  Coloco os cintos de segurança por fim.

—Estou com sono, omma!—LiAh choraminga no banco em frente ao meu enquanto JunSik por outro lado, roncava baixinho ao lado dela.

—Vamos deixar a Allegra no orfanato antes, a madre já está nos esperando. — tio HeeChan responde.

—O-orfanato?— balbucio surpresa.— E o enterro da vovó...

—Você não faz mais parte da família. — tia Yolanda diz rispida.

—Não me deixa...

—Nao vou cuidar de você, deixei isso bem claro no momento em que te levei para a Coréia do Sul.

—Sao apenas por 2 anos....prometo...prometo procurar um emprego e me sustentar nesse meio tempo...eu...

—NÃO QUERO OLHA PRA SUA CARA, É TÃO DIFÍCIL ENTENDER ISSO?!—tia Yolanda se vira no banco de passageiros, o ódio e a raiva refletia no seu olhar, me encolho no banco.— Você não faz ideia o quanto foi difícil esses 6 meses ter que te suportar no mesmo ambiente que eu, saber que minha própria mãe sempre preferiu uma garotinha estupida que nem neta dela era do que a mim!

—Querida, se acalma.— Tio HeeChan pede visivelmente tenso.

—Calma?! Essa daí prescisa saber de umas coisinhas.— Tia Yolanda assoa o nariz em um dos  lenços de papel que LiAh tirou da bolsa.— Depois que meu único irmão Marco trouxe aquela prostituta viciada em metanfetamina da sua mãe, nossas vidas virou um inferno e como se não bastasse ter que tolerar ela, ainda a filha que ela trazia à tiracolo era de outro homem. Se não fosse por causa daquela desgraçada, ambos não teriam teriam morrido naquele acidente...

NÃO FALA ASSIM DA MINHA MÃE!— o grito rasga a minha garganta, a dor no meu peito insuportavel me sufocava. Grossas lágrimas pingavam no meu colo. Eu não posso acreditar nas coisas que ela falava.

—Falo como bem entender! Sua mãe e você só trouxeram desgraça! Tentei convencer mamãe a te deixar em um orfanato assim que o luto passou, mas ela se afeiçoou à filha de uma estranha do que os proprios netos biológicos! Como se  já não bastasse a vadia da sua mãe, tinha também a cria imunda dela para roubar o amor que era pra ser destinado a mim!?— tia Yolanda funga.

—Deixa apenas ficar até o  enterro de vovó.... — murmuro baixo, um soluço doloroso sacudiu meu corpo.

—Ela não é sua avó.—ela praticamente cospe as palavras com desprezo.— O que depender de mim, você não se aproximará daquele caixão.

      Enfio o rosto nas mãos e permito as lagrimas cairem, entendi que tia Yolanda não poderia ficar comigo pelo simples motivo de me odiar, odiar por vovó não ter me abandonado aos 3 anos de idade. Agora, que vovó morreu, sei que estou sozinha e desamparada e não posso nem dizer um último adeus à mulher que me criou.

        Eu te amo, vovó.

        Obrigada por tudo.

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☀️Miss. Sunshine🌻 • HongJoongOnde histórias criam vida. Descubra agora